O esculacho nosso de cada dia: Jovem voltando de uma entrevista de emprego leva geral da polícia

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A quantidade de policiais por metro quadrado na cidade de São Paulo é sinal de segurança ou de puro controle social?

Oras, quem vive em São Paulo já deve ter notado a quantidade de policias que estão pelas ruas garantido a segurança da população, principalmente no centro. Interessante salientar que algumas bases policiais instaladas são bem estratégicas, na Av Paulista por exemplo, frente ao Museu de Arte Moderna (MASP) onde sempre ocorre  diversas manifestações, (que inclusive a policia marca presença pra reprimir) tem lá uma base em atenção.

Foto-0183Curioso né? Pois bem, no dia 4 de janeiro a Rádio da Juventude esteve participando do Ato em Solidariedade aos Presos Mapuches no Chile que ocorreu exatamente no Masp, (vide matéria sobre no link) e infelizmente presenciou um jovem sendo esculachado pela PM em plena luz do dia ( por volta das 14h).

Segue o bate papo rápido que fizemos com o rapaz e tirem as conclusões de como a onda de violência direcionada à juventude não para. Sendo que, importante refletirmos sobre toda essa militarização das cidades, por que isso? Copa? Olimpíada? Será uma espécie de domesticação da população para tempos obscuros que virão? (continuaremos com esse assunto)

Bate papo:

Foto-0209Rádio da Juventude: E aí cara o que houve ali com a Polícia? Pareceram bem agressivos com você?

Jovem: Tranquilo é assim mesmo… só geral

Rádio da Juventude: Tranquilo como? Desculpa te encher, mas, a forma como te trataram não é legal não.

Jovem: To ligado, mas eles queriam saber se tava passando algo, ou ia fumar… eu tava lá de boa acabei de vim de uma entrevista e só tava dando um tempo, mas ali é osso, cola muita molecada pra fumar, aí tem uns nóia, tá ligado?

Foto-0208Rádio da Juventude: Sei… Quantos anos você tem?

Jovem: Vinte

Rádio da Juventude: Tu é daqui de SP?

Jovem: Sou lá do Boa Vista

Rádio da Juventude: Eles mexeram na tua bolsa né?

Jovem: É cara, mas, eles não tão nem aí, vê só quantos “homi” tem na rua, ficar dando mole, eles pensam mal de você e já querem te enquadrar e levar pro esculacho, é normal, fazer o quê? To acostumado…

Rádio da Juventude: Entendi, é que pra mim isso é maior violência, eu vi eles sacudindo sua bolsa, te revistando, isso não é certo não, tá ligado, não quero te encher, mas sou de uma rádio lá da Baixada Santista e queria divulgar isso, eu tirei fotos do que aconteceu.

Jovem: Tranquilo cara, mas não quero que apareça meu nome não, beleza?

Rádio da Juventude:Tranquilo, escuta tinha um cara lá que eu vi que desceu pelo vão, o que foi aquilo?

Jovem: Então, ali perto de onde eu tava sentado, tinha um cara deitado, acho que mendigo, aí quando os homi veio, mandaram já o cara descer pelo vão, dizendo: “aí some daqui, vai desce por aí mesmo de onde tu saiu”. É assim mesmo…

Rádio da Juventude: Assim mesmo como?

Jovem: A geral cara…. policial é assim… e aqui no centro é foda! os cara tão sempre aí querendo enquadrar, mostrar serviço, aí, ali no Masp nem cola de ficar, porque já ficam de olho…

Rádio da Juventude: Mas o espaço ali é público não é? E tinha outro pessoal também e não fizeram isso?

Jovem: É que eu tava mais afastado, os homi já acham que tá na escama, mas é assim, na cidade é eles quem mandam e não dá pra fazer nada, é foda! Mas é isso aí…To acostumado, nem ligo mais..

Rádio da Juventude: Beleza cara, valeu! vai na paz!

Jovem: “Só”.

OBS: A naturalização de acontecimentos como este não podem ser tidos como naturais, ( ainda mais porque não são isolados, tem se tornado frequentes e propositalmente direcionados) mesmo que a juventude não perceba isso, afinal, ir atrás de um trampo e no caminho para casa ser humilhado, é muita violência e retira as esperanças de qualquer um. Precisamos subverter essa lógica!

Operação caça folião em São Vicente. Absurdo!

Foto-1633Uma das ações mais absurdas e truculentas vivenciadas na cidade de São Vicente. Chegamos ao ponto, onde até o carnaval no país do carnaval não é permitido, e para evitar que a população brinque o carnaval, uma ação fascista do Governo Municipal disponibiliza todo um efetivo policial com único intuito: reprimir.

Impossível não associar com uma ditadura. Impossível se calar quando nos pedem silêncio com cassetetes e cães.

A diversidade, a pluralidade e a liberdade em São Vicente andam com os dias contados. Reina a intolerância, o jogo politiqueiroFoto-1570s e as botas dos governantes sobre nossas cabeças.Foto-1633Foto-1629Foto-1651

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Está difícil de viver numa Baixada Santista policiada

Policia fazendo ronda

A ronda que não respeita calçada, praça, semáforo… Muito menos a população pobre.

Como já noticiado aqui no blog, é só chegar alguma data festiva que culmine num feriado prolongado que o efetivo policial na Baixada Santista aumenta espantosamente. Comandos pelas vias principais da cidade, batidas na ciclovia, helicóptero circulando pela areia da praia, motos cruzando praças e calçadas, é isso, a operação de guerra está armada num perverso recorte de classe.

Morador de rua convidado a circular

Morador de rua convidado a circular

É nestes dias que a higienização social acentua-se duramente, afinal, a Senzala não pode ir à Casa Grande sem ser convidada, ela existe apenas para servir e ser a mão de obra que garante a riqueza do sinhozinho e da sinhazinha, enquanto os jagunços mantém a ordem e a segurança.

Ontem dia 02 de fevereiro de 2013 a orla da praia de São Vicente parecia um desfile de sete de setembro, porque a quantidade de militares circulando era espantosa, uma verdadeira ação tarefa mobilizando a PM, a Rota, a Guarda Municipal e a CET. Será que isso garante segurança ou é só para provocar terror?

As duas coisas, segurança para turista e terror para a população pobre, quem não concordar, que fique à vontade para avaliar na prática, basta ficar alguns minutos observando as ações policiais que irá constatar em como a polícia é despreparada, e em suas ações realmente seguem uma cartilha igual aquela nota que o Comando da PM de Campinas apresentou, ” abordar  especialmente indivíduos de cor parda e negra entre 18 e 25 os quais estão sempre em grupo de 3 a 5.

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Policial enquadrando ciclista na ciclovia

Infelizmente o celular que estava sendo utilizado acabou a bateria e há poucas fotos ( mas, dá para ter uma ideia), senão iríamos fundamentar por meio da imagem, uma situação que ocorreu na Praia da Biquinha neste dia 2 de fevereiro em que um grupo de jovens que estavam sentados num banco do calçadão foi abordado por um bando de policiais armados que simplesmente desceram o esculacho em plena luz do dia.

Sendo que um destes jovens tinha 12 anos e ficou o tempo todo sofrendo o assédio dos policiais que o interrogavam perguntando “onde tá o bagulho”. Com a movimentação das pessoas que por ali passavam e queriam entender o que estava ocorrendo os jovens foram convidados a ‘circular” ( jargão da polícia) fomos atrás do garoto de 12 anos, e ele relatou à Rádio da Juventude que um dos policiais disse que não queria vê-lo mais por ali, porque ali não era o lugar dele. Ué, qual o lugar dele então? Ele estava num espaço público. (válido lembrar que esse garoto estava somente de bermuda, quer dizer, qual o perigo que os policiais identificaram  neste menino? Enfim, ele era preto, talvez essa fosse a temeridade)

Policial enquadrando ciclista.

Policial enquadrando ciclista.

Esta é a realidade que explode para essa juventude da periferia e quanto mais adjetivos essa sociedade lhe empurra, em piores condições ela se encontra, ou seja, ser preto, favelado, funkeiro, pobre… Mais perseguido será, pois esses esteriótipos sustentados, infelizmente, para a maioria das pessoas são sinônimos de bandido, ladrão e mau caráter. Não é à toa, que mesmo quando algumas pessoas que passaram e se indignaram com a situação, comentaram: “ah! vai procurar bandido na favela”, enquanto o correto seria: vai procurar bandido em Brasília, é lá que está!

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Mais uma abordagem truculenta da Polícia Militar em São Vicente

 

São Vicente: Chega de descaso! Rumo à Organização Popular!

Foto-1441A crítica ao descaso e a incompetência administrativa apontada aos administradores públicos (de ontem e de hoje) da cidade de São Vicente, não é apenas uma retórica ou uma antipatia tinhosa de quem apenas tem o interesse de reclamar e pouco fazer para transformar a realidade. Infelizmente, é antes de tudo, uma realidade que atinge há anos a população vicentina.

Basta sairmos pela cidade, e conversarmos com as pessoas que iremos constatar, principalmente na periferia, a situação de caos que encontra-se o município. Problemas de habitação, de saúde, de alagamentos, de falta de escolas e de creches, de falta de emprego, de transporte, de segurança, de faltas de espaços de lazer e de manifestação cultural… Elencar tudo é uma ação tarefa enorme e resolver é o grande desafio.

Foto-1442Porém, é imprescindível aprendermos com o passado para não cometermos os mesmos erros. Viver hoje numa São Vicente delegando nossas responsabilidades à representantes políticos, é pior que acreditar em Papai Noel, não dá mais! Esperar que “supostas” lideranças resolvam nossos problemas é apostar de novo em algo que ao contrário de solucionar, cria mais problemas do que já temos.

Ficou claro com a nova reconfiguração política que, tudo muda pra continuar como estava, ou seja, tudo vira moeda de barganha, tudo se resume em disputa de poder e não há interesse pelo bem comum, o que há é muita conversa e movimentação de acordo com os próprios interesses politiqueiros, e no final, quem é que paga as contas? O povo.

Por isso, a alternativa viável é desconstruir essa lógica democrática que só é feita de dois em dois anos na hora do voto. É preciso participação permanente, somar forças, criar mecanismos alternativos de luta, ir nas plenárias para questionar projetos, propor, desmascarar e demolir tudo, arrancar o que é nosso, ocupar espaços ociosos e improdutivos e deste modo construir o que nos carece, espaços gestionados pelo povo.

Foto de Felipe Lobo

Foto de Felipe Lobo

Por exemplo: o problema da habitação em São Vicente é seríssimo, entretanto, fica sempre sendo protelado com desculpas esfarrapadas. No Dique Sambaiatuba há um conjunto habitacional pronto que se perdeu no meio da burocracia, e os prédios foram simplesmente abandonados (leia matéria aqui).

Isso é insano se pensarmos que vivemos numa São Vicente com um déficit habitacional enorme, onde famílias vivem em condições sub-humanas, vide o México 70, o Dique do Catarina, do Sambaiatuba, Favelinha da Comeca, do Bitarú, é inumerável, e o que fazer? Esperar o poder público resolver,? Não! Temos mais é que ocupar! Moradia é um direito, exemplo prático, ao lado do Centro de Convenções há um conjunto habitacional pronto, e aí?

Esperar a burocracia ou ocupar? Ocupar. Sim. Porém, isso demanda organização popular, que se traduz também em auto-gestão, que é assumirmos nosso próprio destino para geri-lo da forma como queremos. E se aquilo que queremos é uma vida digna, na qual nossos direitos são garantidos, com certeza não será por meio de ninguém que ele virá. Somente por meio de nossas ações coletivas e solidárias que poderemos construir tudo aquilo que nos é arrancado.

No ano passado, em dezembro, enquanto o mundo todo brincava com a questão do fim do mundo, uma organização popular indígena no México deu um exemplo de resistência e de organização (de forma silenciosa) que nos leva à reflexão do quanto ainda temos que aprender. Disseram em manifesto: “Escutaram? É o som do seu mundo desabando. É o do nosso ressurgindo. O dia que foi o dia era noite. E noite será o dia que será o dia. Democracia! Liberdade! Justiça!

Este é o caminho. Tempo de fazer desabar promessas e crenças em Billis e Franças. Só a organização popular pode fazer surgir um mundo justo para todos e todas.

Cracolândia um ano depois: A violência contra a população de rua. De São Paulo à Santos.

Foto-1204(Dados recentes do Governo do Estado de SP confirmam que no ano de 2012 durante ação ostensiva da polícia ocorreram 1.363 internações de dependentes químicos, após 152.995 abordagens durante o período.)

Um ano depois da Operação Cracolândia, o que realmente mudou? Após uma das ações mais truculentas e arbitrárias promovida pela Governo do Estado de São Paulo que contabilizou na época um saldo de 165 pessoas presas suspeitas de tráfico de drogas, 47 foragidas e 939 encaminhadas ao sistema público de saúde segundo dados da Secretária Estadual da Justiça e Defesa da Cidadania.

Hoje no centro de SP pouco se vê da tão temida e famigerada cracolândia, porém, isso não significa que o problema tenha sido resolvido, o que houve na verdade, foi um dispersamento das pessoas que ficavam no centro para as regiões periféricas. Ou  seja, o método que o Governo utilizou para resolver não surtiu efeito algum, as pessoas continuam espalhadas pela cidade, constituindo mini- cracolândias, o que prova na prática que a ação ostensiva da operação teve apenas o objetivo de higienização social e não de resolução social.  (critica esta, apontada por intelectuais, pelos movimentos e organizações sociais na época)

O crack

O problema do crack no Brasil, atinge principalmente os moradores de rua, além de ser um problema de saúde pública, também é um problema social gravíssimo, Pois, a maioria das pessoas que vivem nas ruas e que são usuárias de crack, se encontram num processo de desumanização perverso, a maior parte delas perderam o contato com seus familiares, não possuem emprego e nem moradia, o único espaço de sociabilidade que elas têm é a rua, a droga e a garantia de sobrevivência que é esmolar, ou partir para o furto.

Por isso, encontrar a solução para este problema não trata-se simplesmente de colocar essas pessoas à força dentro de um carro de polícia e levá-las ao Sistema Único de Saúde (SUS) e pronto, internação compulsória que tudo será resolvido. (considerando que, o SUS não possui suporte adequado para o atendimento, na verdade, o sistema único de saúde está sucateado, e qualquer tipo de atendimento já carece de profissionais e leitos que possam atender a demanda)

Pois então, ao contrário de um problema apenas de saúde pública, está intrínseco uma discussão de organização social, de ordem econômica e de qual o tipo de sociedade que nós queremos? Não é possível aceitar ou sequer acreditar que atitudes truculentas como foi tomada pelo Governo do Estado de SP levem a alguma solução.

Foto-1309A sociedade do visível/invisível

A população de rua sempre foi vista com uma sociedade visível/invisível, de direitos violados e de deveres cobrados no cassetete, e esse é um dos problemas que os governantes aprenderam a lidar de uma única forma; “higienização social “.

Segundo o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH) de abril de 2011 até março de 2012, 165 moradores de rua foram mortos no Brasil. representa pelo menos uma morte a cada dois dias, a coordenadora do centro, Karina Vieira Alves,  diz que: “as investigações policiais de 113 destes casos não avançaram e ninguém foi identificado e responsabilizado pelos homicídios. O CNDDH também registrou 35 tentativas de homicídios, além de vários casos de lesão corporal.”

Somente em 2011 o disque denúncia, serviço mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, registrou, 453 denúncias relacionadas à violência contra a população de rua. Casos de tortura, negligência, violência sexual, discriminação, entre outros. As unidades da Federação com o maior número de denúncias em termos absolutos foram São Paulo (120), Paraná (55), Minas Gerais e o Distrito Federal, ambos com 33 casos.

Contudo, esses dados não traduzem a real violência que estão submetidos os moradores de rua, pois, muitos dos casos, devido à falta de provas ficam sem apuração e acabam não entrando no rol das estatísticas, por exemplo, em muitos dos casos são estabelecidos conexões com o tráfico de drogas, furtos, brigas, embriagues… O que corrobora para um mascaramento da situação, acentuando ainda mais um processo de criminalização que reforça um esteriótipo de representação social que não contribui em nada, apenas, legitima a ideia de que os moradores de rua são um problema de causa individual, devido a vadiagem, o destino ruim… Além de outras infinidades de justificativas paliativas que não levam em consideração questões de ordem econômica, social e cultural. E quando une-se a ideia de morador de rua + crack aí a discussão entra num viés preconceituoso e moralista.

Foto-1386Na cidade de Santos

Como todos os centros urbanos a cidade de Santos abriga também população de rua – em parte, usuários de crack – numa proporção muito menor, comparada com a do centro de SP, apesar da imprensa local e da Prefeitura compará-la em proporções. O fato, é que Santos enquanto cidade Portuária, historicamente possui boa parte desta área constituída por uma população marginalizada que vive do tráfico, de esmolas, de pequenos furtos, de catar papelão e da prostituição. E como Santos a pouco tempo se tornou a capital do pré-sal, o custo de vida que já era alto aumentou ainda mais, com isso, os marginalizados, principalmente os moradores de rua ficaram sobre vigília e opressão constante da Prefeitura que promove uma descarada higienização social, disfarçada de preocupação social.

Para se ter uma ideia, a maioria dos bairros, desde a orla da praia, passando pelos morros e Zona Noroeste, (área periférica) a especulação imobiliária tem avançado, diversas empresas ocupando áreas que antes eram cortiços, diversos edifícios de alto padrão sendo construídos, enquanto a população periférica é esquecida e cada vez mais sendo empurrada e convidada à se retirar da cidade. Por exemplo, no bairro Vila Mathias onde a maior parte dele é carente de recursos básicos, foi construído a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e está a caminho uma FATEC, ou seja, este bairro tornou-se movimentado por um novo grupo social que ao contrário do anterior, este possui poder aquisitivo, por isso, pode cobrar, ou pagar pela sua segurança, (e ser ouvido) resultado: muitos moradores de rua antes esquecidos pelo poder público, agora são lembrados. Que coisa não?

Contudo, de que forma? Oras, a solução encontrada pela Serviço Social de Santos para resolver este problema, é oferecer abrigo por alguns dias e pressionar para que as pessoas consigam emprego, caso, num espaço de tempo determinado não consigam, recebem uma passagem para que voltem à cidade de origem. Ou seja, deixar a cidade, ou arrumar emprego. Isto é ressocializar? Isto é garantir dignidade as pessoas? Não! Isso é transferência dos problemas, isso é marginalizar, higienizar socialmente.

Continuando…

O que acaba ocorrendo é que a maioria das pessoas voltam para as ruas, e a Prefeitura de Santos preocupada em ser Comitê da Copa do Mundo acaba resolvendo da seguinte forma: utiliza-se de servidores públicos que fazem a limpeza das ruas, que durante o trabalho de limpeza recolhem os pertences de moradores e vão os enxotando, na sequência vem a Guarda Municipal para efetivar prisão se algum morador se revoltar. (como já denunciado aqui no blog, o caso do morador de rua que foi agredido pela Guarda Municipal de Santos, acesse o link.)

Essa é a dura realidade que não podemos ignorar e temos que enfrentar coletivamente.

A grande ironia de tudo isso, é uma das fotos deste post, que contém a bandeira do Brasil, cujo hasteamento foi realizado por moradores de rua de Santos no bairro Vila Mathias na rua Silva Jardim, que é constantemente policiada, e que a população de rua daquele local de tão invisível/visível, nos levam à refletir: para quem é a ordem e para quem é o progresso?

Lixo – A irresponsabilidade administrativa

Foto-1327Foi normalizada a coleta de lixo em São Vicente nesta sexta-feira dia 18 de janeiro de 2013. Muitos bairros ficaram sem a coleta de lixo, e o resultado disso são montantes de lixo que acumulou-se pelas esquinas da cidade. (principalmente os periféricos, pois o centro e a praia teve ação tarefa, por que será?)

A paralisação da coleta deveu-se a greve dos coletores que teve como justificativa a falta de pagamento do vale-alimentação e também segundo reivindicações dos trabalhadores, a falta de segurança que estão submetidos. Legítimo e apoiado a luta dos coletores!

A coleta de lixo em São Vicente é feita pela Termaq uma empresa prestadora de serviço contratada pela Prefeitura e pela CODESAV, Companhia de Desenvolvimento de São Vicente que é uma Sociedade Anônima de capital fechado, classificada como empresa de economia mista que tem como controle acionário e acionista majoritário a Prefeitura de São Vicente –  detentora de 99,99% de suas ações.

Segundo a Prefeitura a diminuição do repasse federal foi o motivo pelo atraso dos pagamentos, contudo, não se trata apenas de atraso quando falamos de uma prestadora de serviço, pois, cabe a prestadora de serviço cumprir o seu contrato, mesma que a verba pública atrase, ela vem, neste caso, o que ficou comprovado foi a falta de fiscalização e compromisso da Prefeitura em garantir o serviço e o pagamento dos trabalhadores. O que prova na prática a delegação de responsabilidades de uma administração pública que vai repassando suas obrigações, favorecendo à iniciativa privada por meio de licitações, o que contribui à precarização das condições de trabalho dos trabalhadores.

Com o palanque armado

A nova administração começou bradando mudanças, mas em novembro demitiu 200 pessoas que pertenciam a frente de trabalho contratados, que como num passe de mágica foram todos demitidos, não receberam o último mês de trabalho, sem contar que esses trabalhadores estavam empregados por meio de um projeto de inserção social, que visava atender pessoas com dificuldades de inserção no mercado de trabalho, ou seja, tiveram seu direitos trabalhistas violados. Interessante ressaltar que esta frente de trabalho foi criada pelo atual Prefeito quando pertencia a Secretaria de Relações do Trabalho. ( A Prefeitura deu como resposta em relação as demissões, que o projeto somente duraria enquanto houvesse receita)

Aspones

Outro ponto à dizer é referente o sindicalismo que pouco ou em nada representam estes trabalhadores, há de se aguçar o olhar em relação estes momentos que são extremamente oportunos para lideranças se promoverem e abocanharem cargos. Pois, uma coisa tem que ficar claro, esses trabalhadores prestam um serviço de extrema importância para a sociedade e são remunerados com salários risórios, cadê a luta? Cadê a luta contra as terceirizações do serviço público? Essa história de projeto é pura balela para explorar o suor dos trabalhadores.

Uma coisa é certa: a população precisa se organizar!

Incra ocupado! Milton Santos resiste

Cerca de 120 pessoas, entre assentados e apoiadores do Assentamento Milton Santos, ocuparam o Incra em São Paulo. Por Passa Palavra

Fonte: http://passapalavra.info/?p=70663

Cerca de 120 pessoas, entre assentados e apoiadores do Assentamento Milton Santos, ocuparam um pouco depois das 4 horas da manhã do dia 15 de janeiro o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria) na Rua Doutor Brasílio Machado, 203, Santa Cecília, na região central de São Paulo. Foram estendidas lonas e faixas na entrada do prédio e os funcionários que chegavam para trabalhar estavam sendo dispensados. Perto das 8h começaram a chegar os primeiros funcionários do corpo técnico do Incra, que também foram impedidos de entrar.

Os assentados já estenderam seus colchões e pertences em um andar do prédio.

Já há seis meses as famílias estão convivendo com a insegurança, diante da ameaça de perderem suas casas e, ao contrário do que aconteceu em outros momentos, desta vez a posição dos manifestantes é manter-se em ocupação até que a presidenta Dilma assine o decreto de desapropriação.

Também acompanham a ocupação alguns representantes do acampamento Luiz Gustavo, situado na região de Colômbia, próximo a Barretos. Eles exigem que o Incra acelere o processo de indenização do terreno, sob o risco de 110 famílias serem desalojadas nos próximos dias.

Atualizações

As circunstâncias da ação de hoje

A ação de hoje acontece como tentativa de estabelecer um canal de pressão mais direto sobre o governo federal.

Apesar de o Incra vir sofrendo um processo de enfraquecimento de suas funções, a própria mudança de orientação na prática de reforma agrária do governo coloca este órgão no centro das atenções.

*

A ocupação do prédio mantem-se total por prazo indeterminado. Substituindo a sua atividade ordinária, outras estão sendo pensadas com o intuito de estreitar os laços com outras organizações e parceiros na cidade de São Paulo. A idéia é abordar a questão do Assentamento Milton Santos dentro de um contexto mais amplo, vivenciado por outras experiências de luta social, marcado pelo avanço das formas de expropriação da classe trabalhadora.

*

Enquanto isso, em Americana…

Enquanto no prédio do Incra nenhum responsável apareceu para estabelecer um contato oficial com os manifestantes, coisas importantes aconteceram no Assentamento.

O prefeito de Americana esteve no local para dialogar sobre possíveis soluções. Chegou a oferecer propostas reparativas para as famílias, como alojamentos provisórios ou subsídios, mas que foram prontamente rechaçadas por elas. Neste diálogo chegou a ser cogitada a possibilidade de a Prefeitura executar a desapropriação, desde que tivesse dinheiro em caixa para cobrir a idenização, o que recolocaria o problema no colo do governo federal.

*

Por fim, é importante ressaltar que hoje a notificação chegou no Assentamento pela parte da manhã, de forma a não deixar nenhuma dúvida de que o prazo está correndo. Ao mesmo tempo, espera-se o resultado do julgamento do embargo da liminar pedido pelo INSS. Era essa a última desculpa sustentada pelo governo federal para executar a desapropriação, visto que em todos os espaços de negociação ele alegou que faria uso deste instrumento tão logo se esgotassem os recursos jurídicos.

Mas até o momento não há informações sobre esta questão.

Três conjuntos habitacionais fantasmas em São Vicente. Mas, foram gastos 12 milhões!

Foto de Felipe Lobo

Em São Vicente no bairro do Joquey Clube, mais precisamente no Dique Sambaiatuba, três conjuntos habitacionais servem perfeitamente para um filme de fim dos tempos, ou, para aqueles documentários de canal a cabo estadunidense “History” que contam histórias mirabolantes, tipo, ¨imaginem o mundo sem ninguém.¨

No entanto, a história destes conjuntos, infelizmente, não é fictícia, é tão real e perversa que precisamos pensar de verdade num mundo sem Estado, representantes e administradores públicos, pois, são tão incompetentes que não é possível sequer imaginar um mundo com eles.

Mas, vamos ao cerne da questão: Nestes três conjuntos foram gastos 12 milhões, (O dinheiro da obra veio do FAT fundo de amparo ao trabalhador) ficou pronto em 2004, porém, logo foi abandonado pela burocracia e pela incompetência Municipal, Estadual e Federal que em 2005 não sabiam se o projeto iria virar “Minha casa minha vida” ou ficaria como obra do PAR . Em 2007 a CDHU entra como Administradora, porém, a obra fica novamente emperrada, porque parte do dinheiro virá do PAC, outra parte do Estado e outra do Município, só que… Nada aconteceu e o prédio continuou abandonado. Com isso, a população foi ocupando e retirando o que precisava.

Depois de inúmeras denúncias, agosto de 2010, a Prefeitura de São Vicente e a Caixa Econômica Federal anunciaram que as obras seriam retomadas com previsão para novembro de 2011. Já estamos em novembro de 2012.

E aí? Nada! Quem tiver a oportunidade pode conferir os esqueletos dos prédios que são o que restam, parte dele foi ocupado pela população, outra parte afunda na lama e é ocupado pelo mato.

Segundo o ex secretário de habitação de São Vicente Alfredo Martins, (hoje vereador eleito ) questionado pela Rádio da Juventude, ” Ali há um problema de burocracia no qual depende de muitas questões que me fogem a alçada”. Resumindo: Ocupemos!

Pois, a incompetência administrativa de quem representa a população nunca vai mudar, e chega de representantes, façamos por nós!

Polícia Militar ostensiva na Baixada Santista é sinônimo de segurança?

Quem é morador da Baixada Santista já deve ter notado  a quantidade de policiais que estão espalhados pela região, principalmente nos fins de semana.

Na praia da Biquinha, em São Vicente, por exemplo, flagrar viaturas da polícia  andando pela areia, motos pelas calçadas, ou atravessando pelas praças, demostram bem a forma como essa segurança está sendo conduzida. Sem contar a “geral”, que é de praxe, policiais esculachando mesmo, tratando as pessoas (principalmente os jovens) como criminosas, malfeitoras que devem ser banidas dos espaços públicos. Pior: assustadoramente tornou-se comum ver isso acontecendo à luz do dia, na frente de todo mundo.

E por quê?

Segundo o novo coronel da  Polícia Militar da Baixada Santista e Vale do Ribeira, Marcelo Prado, somente com um bom diagnóstico será possível fazer uma boa intervenção na região para conter a onda de violência. Diz também que: “Estamos reavaliando a administração e vamos liberar o maior número de policiais para a atividade […} criar conselhos comunitários, utilizar as redes sociais”.

Pois é, parece que esta atividade está em andamento (aliás, como sempre esteve). O triste é viver uma realidade onde os representantes públicos têm uma visão tacanha sobre a questão da violência, na verdade resumem ela a uma simples briga de polícia e ladrão, onde a única solução (que acaba sendo sempre a adotada) é a de aumentar o efetivo policial, que no final das contas só irá resultar em mais atitudes de repressão.

Fica nítido como toda esta ostensividade é promovida pelo Estado por puro controle social. Copa do Mundo vem aí, Olimpíada também, na Baixada Santista temos a questão do pré-sal impulsionando a especulação imobiliária.

Ou seja, a população que está sendo excluída, é a mesma que sustenta sobre seus ombros todos os grandes eventos, mas, a única coisa que ganha com isso, é a humilhação e o porrete da polícia.

OBS: Continuaremos este assunto.

Creches de São Vicente: Crianças com fome e professores sem salários

10 NOVEMBRO 2012 – por Passa Palavra.

Em São Vicente, na Baixada Santista, as crianças de quase todas as creches (parceria público-privada) estão sem merenda escolar, crianças que muitas vezes não têm o que comer em casa. Quatro creches fecharam por falta de merenda.

Os professores, da própria comunidade, estão sem receber salário. As professoras que estão sem receber em algumas creches são as auxiliares de classe.

Estas creches são casas privadas, para as quais a Prefeitura e uma associação de pais repassam verba, inclusive para pagar o salário das professoras, que não são concursadas e pertencem à própria comunidade.

As professoras estão pedindo dois reais para as mães, para manter a refeição dos seus filhos, que são quatro refeições diárias.

No site da prefeitura de São Vicente tem uma lista grande de creches (veja aqui), mas não há muita articulação entre essas creches. Algumas classes têm em média 50 crianças e em algumas creches existe berçário.

Algumas mães se manifestaram, chamando a mídia, mas não foi divulgado. O movimento fica dificultado porque algumas mães não estão se importando. Outras pessoas têm medo de se manifestar, outras pensam que não resolve nada ou acham que estão pedindo benefício e não direito e por aí vai.

DENÚNCIA: Guarda municipal de Santos agride morador de rua

Post de origem: PassaPalavra

As forças de “segurança” que temos: profissionais que são pagos para tratar pobre com ameaça, truculência, tortura e agressão. Por Márcio G.

VÍDEO 1

VÍDEO 2

Os vídeos deixam claro o abuso da Guarda Municipal de Santos (cidade do litoral do estado de São Paulo), e por conhecer a vítima me sinto ainda mais seguro em relatar o que aconteceu. As informações relatadas a seguir foram obtidas dos próprios comentários do responsável pelo vídeo e de pessoas da vizinhança do bairro, onde meus pais moram.

O homem agredido, André, é morador de rua e amigo meu há pelo menos uns 15 anos. No dia 1º de novembro, guardas municipais foram ao local onde ele e outros moradores de rua costumam dormir, no bairro do Macuco, e retiraram os cobertores e travesseiros de lá, para jogar fora. André foi até eles perguntar o que estava acontecendo, por que eles estavam fazendo aquilo, possivelmente indignado com a situação, quando foi jogado ao chão pelos guardas e imobilizado.

A partir daí, as imagens dos vídeos são claras. Ele só fala “Eu não fiz nada! Eu não fiz nada!”, e as pessoas em volta, muitas que o conhecem e viram o que aconteceu desde o início (ali do lado há uma padaria, frequentada por estudantes de uma universidade próxima), gritavam para que os guardas parassem com aquela abordagem. Um dos guardas, como podemos ver, quase quebra o braço de André, que suplica para não ser levado, já que de fato não cometeu nenhum crime. Em um momento, outro vai atrás do homem que está gravando toda a ação e tenta intimidá-lo.

O drama prossegue com os guardas o pegando e o colocando no camburão [carro prisional]. Com muito custo levam o morador de rua, possivelmente até uma delegacia [esquadra] e, segundo relatos de vizinhos, André voltou duas horas depois, cheio de marcas de agressão.

Ainda quero conversar com ele para saber mais detalhes do que aconteceu, mas só os vídeos já mostram o caráter das forças de “segurança” que temos: profissionais que são pagos para tratar pobre com ameaça, truculência, tortura e agressão.

O que me deixa ainda menos esperançoso com o futuro é que essas ações violentas e autoritárias são vistas com bons olhos pela nossa “classe média”, até mesmo por trabalhadores, que preferem confiar na ação da “autoridade” a arriscar dizer que a vítima não era bandido. Acho que esse é um dos principais desafios para uma efetiva transformação da sociedade.

Força policial não é guarda palaciana

Marcelo Rayel
Post de origem: Cinezen Cultural

Semana passada, comentei sobre a calamidade promovida pelo estado de São Paulo a respeito da população mais necessitada, em especial sobre a comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos. O passivo que o governador Geraldo Alckimim está tentando absorver deve valer a pena. Uma aposta a memória curta da população.
Em breve, todos esqueceremos, seremos escalados para otário novamente e está tudo certo. A maioria dos eleitores paulistas reconduzem o atual chefe do executivo ao seu posto outra vez e está tudo beleza.

Sim, porque precisamos de muita amnésia para colocar o atual chefe do executivo ou seu sucessor no posto mais representativo na esfera estadual. Se tudo der certo, a oposição saberá bater onde dói (leia-se Pinheirinho).

Não vou aqui fazer generalização barata e vil contra a população de São José dos Campos, afirmando que todos ali dão apoio e guarida ao atual prefeito Eduardo Cury. Acredito que mais da metade da população de lá não deu suporte ou apoio moral para a loucura que foi o Pinheirinho. Ninguém é maluco de chegar a esse ponto. Quanto aos cabeças coroadas da cidade, até entendo, principalmente o rulling class regional. Quem tem dinheiro, às vezes, é bem chegado a uma assepsia desmesurada. Ser chegado a uma assepsia não chega a ser um grande problema. O problema é não se assumir…

Colocar a força policial, que é um patrimônio público, que pertence ao povo, contra os próprios contribuintes, é algo que ainda não me sai da cabeça. Como podem os chefes dos executivos estaduais chegarem a esse ponto de um quase patrimonialismo com algo que não lhes pertence?

Não só fazem, como repetem a dose. Muito pouco adianta o governador baiano Jacques Wagner engrossar a voz e dedo em riste mandar policiais em greve voltarem ao trabalho. Se há dívida, que seja paga. Se houve algum tipo de promessa ou compromisso, que se cumpra. Caso contrário, fica parecendo que a força policial do estado, que zela pelo bem-estar do contribuinte, não passa de uma espécie de guarda palaciana que, nessa época do ano, garante muito axé ao carnaval local.

Policial não é capitão-do-mato. Caso esteja redondamente enganado, um dos trabalhos do então capitão-do-mato era buscar escravos fugitivos. Uma vez capturados, eram devidamente bem tratados, pois se tornavam um ativo valioso na hora do senhor da casa-grande resgatar o que perdeu. Nem um capitão-do-mato faria no Pinheirinho o que foi feito.

“Notícias de uma Guerra Particular”

Às vezes, a impressão que se tem é que força policial é um capricho quase sádico que os governadores de estado têm. Não estão a serviço do povo, mas a manutenção de uma ordem pública que em certos momentos atinge inclusive o espírito humano do policial, do praça de uma corporação militar. Como se policial não tivesse família, não tivesse consciência.

O confronto na Bahia é uma mostra disso. Até que ponto, em nome da ordem social e civilizatória, um policial merece receber um salário indigno para ordens espúrias a serem cumpridas? Segundo o ex-secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, Hélio Luz, no documentário “Notícias de Uma Guerra Particular”, a polícia foi feita para a segurança da elite econômica do Estado. É quase uma guarda particular. Só que na hora do vamos ver, nada de se cumprir com salários dignos, devidos reajustes e cumprimento no pagamento de bonificações.

Para botar o axé com segurança nesse carnaval, aí a polícia existe, é válida, tudo para a segurança dos milhões de foliões que deixarão milhões de reais nos cofres estaduais. Aí, a polícia existe. Caso contrário, os tais choques de gestão dos governadores de estado, que mais parecem um bloco dos sujos, uma patuscada hedionda, colocam os policiais nos últimos lugares da fila.

Pior ainda é ver militantes de partido político no Facebook botarem o pé no estribo para surfarem em possíveis benefícios nas corridas para as prefeituras. Do tipo, o meu governador é ruim, mas o seu, olha aí… Não fica atrás… Ficam parecendo aquele personagem do livro de Chico Buarque, “A Fazendo Modelo”, de 1974, o Zé das Feridas: que abria a camisa para ficar mostrando os hematomas.

Lamentável. Profundamente lamentável… Mas, se a pergunta proposta pelo mesmo Hélio Luz, no mesmo documentário citado há pouco, que tipo de polícia a sociedade quer for colocada, como seria a resposta dessa mesma sociedade onde parte dela tem como livro de cabeceira “Mein Kampf”?

Está aí um mundo que bem que poderia acabar logo, logo.

*Texto originalmente publicado no site CineZen

Moção sobre Pinheirinho lida na 3ª Mostra de Teatro Olho da Rua – Santos (SP)

O manifesto sobre a invasão da polícia em Pinheirinho (São José dos Campos) foi lido na noite de sexta, dia 27/1/12, no Valongo (Santos), durante programação da 3ª Mostra de Teatro Olho da Rua, que tem a Rádio da Juventude como um dos parceiros.

SOMOS TODOS PINHEIRINHO!

Moção Pinheirinho – Mostra Olho da Rua – Santos.mp3

Moção de Repúdio dos Trabalhadores da Cultura à Política do Coturno em Pinheirinho

De um lado, pelo menos 1.600 famílias que lutam pelo direito de morar no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), ocupação que tem oito anos de existência. Do outro, mais de 2.000 policiais militares e civis cumprindo ordens da Justiça Estadual e da Prefeitura de São José dos Campos, em favor da massa falida da empresa Selecta, pertencente ao mega-especulador Naji Nahas.

Ainda que não houvesse outras circunstâncias agravantes no caso, já seria possível constatar que as instâncias dos poderes executivo e judiciário fizeram a opção, em Pinheirinho, pela lei que protege a especulação imobiliária, em detrimento do direito das pessoas à moradia.

Vence mais uma vez a política do coturno em prol do capital. De um lado, bombas, armas, gases, helicópteros, tropa de choque. Do outro, dois revólveres apreendidos. Não há notícia de que tenham sido usados. Uma praça de guerra é instalada – numa batalha em que um exército ataca civil.

Não há plano de realocação das famílias. As que não conseguiram ou não quiseram fugir, ou receberam dinheiro para passagens para outras cidades, ou estão sendo mantidas cercadas, com comida racionada, como num campo de concentração. A imprensa não pode entrar no local, não pode fazer entrevistas, e os hospitais da região não podem informar sobre mortos e feridos. O que se quer esconder?

O Governo do Estado lavou as mãos diante do caso, assim como o Superior Tribunal de Justiça. O Governo Federal tardou em agir. A chamada “função social da propriedade”, prevista na Constituição Brasileira, revelou-se assim como peça de ficção, justamente onde a ficção não deveria ser permitida.

Mais uma vez, o Estado assume o papel de “testa de ferro” para as estripulias financeiras da “selecta” casta de milionários e bilionários. A política do coturno em prol do capital vem ganhando espaço. Assim está acontecendo na higienização do bairro da Luz, em São Paulo , preparando-o para a especulação imobiliária; assim vem acontecendo na repressão ao movimento estudantil na USP, minando a resistência à privatização do ensino; assim acontece no campo brasileiro há tanto tempo, em defesa do agronegócio. Os exemplos se multiplicam. E não nos parece fato isolado que, hoje, a quase totalidade dos subprefeitos da cidade de São Paulo sejam coronéis da reserva da PM.

Nós, trabalhadores artistas, expressamos nosso repúdio veemente a esse tipo de política. Mais 1.600 famílias estão nas ruas: a lei foi cumprida. Para quem?

ENTIDADES E MOVIMENTOS PARTICIPANTES:

Avoa! Núcleo Artístico
Brava Cia de Teatro
Buraco d’Oráculo
Cia Antropofágica de Teatro
Cia Estável de Teatro
Cia Ocamorana de Teatro
Grupo Teatral Parlendas
Cia São Jorge de Variedades
Cooperativa Paulista de Teatro
Dolores Bocaaberta Mecatrônica
Estudo de Cena
Kiwi Companhia de Teatro
Movimento de Teatro de Rua
Movimento dos Trabalhadores da Cultura
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo
Roda do Fomento
Trupe Olho da Rua – Santos – SP
Karina Martins
Núcleo do 184
Trupe Sinhá Zózima
A Jaca Est
Grupo Redimunho de Teatro
Coletivo Núcleo 2
Juliana Rojas (Filme: Trabalhar Cansa)
Atuadoras
Rede Brasileira de Teatro de Rua

(Re)começa a luta contra o aumento da tarifa!

Novamente aumenta a tarifa do busão em Santos, e os militantes vão a reboque. Com um fato tão certo e tão unânime como o o impacto do reajuste do transporte nos nossos bolsos, como fazer frente a isso, com uma diferença de poder tão grande? Retomemos a luta!

Surpreendeu muita gente a notícia de que Santos ia ter mais uma vez aumentada a tarifa do transporte público municipal. Não bastasse ano passado ter subido de R$ 2,50 para R$ 2,65, a prefeitura da cidade abriu mais um pouquinho as pernas e desta vez subiu a passagem para R$ 2,90, em uma cidade pequena e plana, que a cada dia faz de tudo para expulsar os mais pobres. Novamente antes da volta às aulas, quando os estudantes, historicamente os mais combativos a reajustes no transporte, estão em férias escolares.

Fato é que a reação foi quase instantânea. Foi marcada manifestação para dali a dois dias, na Praça Mauá, em frente à Prefeitura. Porém num sábado, quando não há expediente no Centro da cidade. Muito menos do prefeito, em tese o principal alvo de críticas dos manifestantes.

A chuva afugentou alguns possíveis manifestantes, mas cerca de 40 compareceram à praça, o que pode ser considerado um bom número pra tradição recente santista. Fermentados pelo ano eleitoral, diferentes partidos políticos estiveram representados ali (alguns realmente de luta, outros nem tanto). Estudantes, libertários e outras pessoas sem ligação com grupos ou ideologias em particular também fizeram questão de comparecer. Curiosamente, dos quatro organizadores do evento no facebook, dois não apareceram. E houve quem reclamasse das confirmações falsas na rede social.

Terminada a chuva, o que faltou acontecer mesmo foi um ato, o que seria prato cheio para a mídia empresarial. O principal jornal da cidade enviou repórter e fotógrafo para a praça, talvez esperando um volume como o visto pela manhã, em uma manifestação contra a violência animal, no Gonzaga (bairro nobre da cidade), quando mais de 400 pessoas se colocaram radicalmente a favor dos cães e gatos. Inicialmente divididos, os manifestantes contra o aumento da tarifa decidiram posar para o jornal, o mesmo que recebe anúncios das viações e dos órgãos públicos municipais responsáveis pelo reajuste para R$ 2,90.

Fotos tiradas, definiu-se por uma assembleia para apontar os próximos passos da frente. Os partidários deixaram a legenda de lado nas sugestões, todos que pediram a palavra foram ouvidos atentamente, e as ideias debatidas. Chegando no meio da reunião, um pré-candidato a vereador e um pré-candidato a prefeito apareceram, sendo que o primeiro chegou a falar à assembleia, improvisada no ponto do bondinho turístico. Venceu a moderação, sem muitas propostas combativas, e sim dois indicativos de manifestações, desta vez em horários e locais que possam “incomodar” mais as “autoridades”.

Dentre as propostas, chamou a atenção a fala de um dos companheiros, que disse que poderíamos começar a criar um movimento que pudesse ter continuidade, para aí sim barrar o próximo reajuste, já que é sempre algo mais ou menos esperado, e que manifestações depois que a coisa já está feita não vão fazer o poder (institucional) voltar atrás. Apesar da sensação de impotência em aceitar esse fato, parece mesmo não haver outro objetivo a médio prazo para o caso.

O aprendizado não está tão longe. Ano passado, de fevereiro a abril foram cerca de sete atos, com encontros semanais, reuniões e a criação do Comitê de Lutas pelo Transporte Público da Baixada Santista, que uniu estudantes e não-estudantes na luta por bandeiras imediatas como o passe livre para estudantes, a volta do cobrador, bilhete único metropolitano e abertura das planilhas de custos das viações, e até bandeiras a longo prazo, como o transporte público gratuito, viabilizado por meio de impostos (há em Sampa o movimento pela Tarifa Zero). Apesar da dissolução do comitê em pouco tempo, uma vitória é incontestável: os que fizeram parte daquele grupo estão entre os manifestantes deste último sábado.

Se esta frente recém-forma vai vingar ou não, é cedo para dizer. Preocupa o excessivo conservadorismo, mesmo de jovens, satisfeitos com protestos como contra a corrupção, em que basta gritar contra certos políticos, pintar a cara, cantarem orgulhosos o hino nacional e defenderem valores como a honradez, honestidade, patriotismo, a defesa do povo, enfim, o que defende todo grupo de auto-afirmados “cidadãos conscientes”, e políticos e partidos de praticamente todas as matizes. Houve até reações contrárias a palavrões. A falta de um caráter popular a lutas como essa do transporte também é um desafio a ser encarado. Afinal, o povo não pensa “R$ 2,90 é osso”.

A ofensiva do capital sobre transporte público é mais uma sobre a luta popular entre tantas outras que devemos enfrentar, e a importância em resistir é o aprendizado para outras lutas futuras, desde que mantido o foco: contra o capital e esse sistema representativo que dá carta branca para nossos governantes fazerem o que quiser, sempre a favor de quem concentra poder. Os inimigos estão aí, facilmente identificáveis. Cabe a nós a resistência, em seguida a ofensiva. Afinal, não dizem que todo o poder emana do povo?

Litoral de São Paulo: além do sol e mar… | Raquel Rolnik

Post de origem: blog da Raquel Rolnik

Como todos os anos, nos próximos dias, a baixada santista e o litoral norte de São Paulo vão receber um enorme fluxo de turistas em busca da dupla sol e mar. Os congestionamentos certamente ocuparão as páginas dos jornais e o noticiário da TV. Mas o que provavelmente não fará parte dessa cobertura é a complexa situação que essas regiões estão enfrentando neste momento.

No caso da baixada, é preciso lembrar o que foi o desastroso polo de Cubatão, que nos anos 1960 e 1970 ocupou os mangues, poluiu até as almas de quem viveu ali, e empurrou os trabalhadores petroquímicos para viverem pendurados nos morros. Além disso, o aumento da acessibilidade ao litoral norte (com as estradas Mogi-Bertioga, Piaçaguera-Guarujá, e Bertioga-São Sebastião, por exemplo), desde os anos 1980, acelerou o loteamento das frentes marítimas para segunda residência, desde Bertioga até Ubatuba, expulsando caiçaras, índios guaranis e trabalhadores migrantes para as mais de cem favelas que existem hoje na região.

Mal recuperada dessa situação – o desastroso pólo petroquímico e a expansão do turismo –, a região vive agora um novo surto de transformações territoriais com a perspectiva de exploração do pré-sal e a ampliação dos portos de São Sebastião, Guarujá e Santos, em função do desenvolvimento econômico do país. A Santos dos aposentados está sendo substituída rapidamente por torres milionárias para executivos, sem ter recuperado seus cortiços e os velhos casarios da área portuária. Os planos de expansão do porto de São Sebastião terão um impacto tão grande e controverso, que a audiência pública sobre o tema, no dia 7 de dezembro, reuniu mais de mil pessoas da região, durante cerca de 10 horas, varando a madrugada.

Enquanto isso, na baixada santista, o governo do Estado tenta regular o uso e ocupação do solo por decreto, com o Zoneamento ecológico-econômico (ZEE), que amplia áreas urbanizáveis em áreas de mangue. Mas nem esse decreto, nem o anterior – o do litoral norte, de 2004 – serão obedecidos plenamente, já que a disputa acirrada pelo território nestas regiões não é definida por essa regulação, mas pelos preços de mercado. Da descoberta do pré-sal, em 2006, pra cá, o preço dos imóveis em Santos, por exemplo, praticamente triplicou.

É preciso lembrar que estes novos investimentos e transformações estão se dando em cidades cuja situação urbanística é extremamente precária. É verdade que o projeto Onda Limpa, da Sabesp, está investindo na melhoria das condições de esgotamento sanitário da região, com avanços significativos em algumas cidades da baixada. Mas no litoral norte, por exemplo, a realidade hoje é que só 30% do esgoto é coletado. Mais grave é saber que o projeto não está sendo implementado nas favelas e, pior, que nenhuma política está sendo planejada para as favelas dessas regiões nesse momento.

O resultado é que a combinação perversa do aumento dos preços de mercado com a absoluta falta de opção de moradia de interesse social certamente provocará uma super densificação das favelas e uma explosão de novos assentamentos informais.

Em tempo: ao leitor e à leitora que só querem pegar um sol e tomar um banho de mar, se vocês ficarem incomodados com o mau cheiro em algumas praias ou com a destruição de antigas paisagens, saibam que a posição e ação dos que moram e frequentam essas regiões podem, quem sabe, incidir nos rumos dessa situação.