Primeira Feira Anarquista da Baixada Santista

Em 23 de agosto de 2014 a antiga “Barcelona Brasileira” recebeu a Primeira Feira Anarquista da Baixada Santista. No dia que completou 87 anos do assassinato dos anarquistas Sacco & Vanzetti, muitas reflexões sobre a violência do Estado no ontem e no hoje foram levantadas, situações concretas foram denunciadas e o anseio por mudança compartilhados entre compas.

Em um local de rearticulação do movimento Anarquista, a exitosa Feira, resultado de uma esforço coletivo, vem como um fôlego para seguir na construção de um novo mundo, desde as lutas cotidianas, nos “trabalhos de formiga”. O sentimento de solidariedade e apoio mútuo entre os coletivos de diversos lugares, através do encontro, prosas, olhares e abraços, nos faz perceber que não estamos sós nas inquietações e nas lutas.

A atividade aconteceu na Vila do Teatro, espaço ocupado e organizado pelo Movimento Teatral ao lado da rodoviária de Santos, o que facilitou muito a participação de compas de outras regiões, principalmente São Paulo. A infraestrutura do local também foi determinante para a organização do evento. Continue lendo

Marcha das Vadias Baixada Santista: Positividade e luta!

Domingo, 03 de dezembro de 2013.

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Foto: Rádio da Juventude

Com muita positividade foi realizado a segunda Marcha das Vadias na Baixada Santista, cerca de setenta pessoas se reuniram na praça da independência (Santos) para se manifestar contra o machismo – durante a marcha palavras de protesto como “ Se o corpo é da mulher ela dá pra quem quiser, inclusive, pra mulher”, “Abaixo o machismo”, “Por uma América latina feminista”, “nem mais um dia de machismo! Somos livres! Somos todas vadias!”, entre outras foram proliferadas pela avenida da praia por onde seguiu a marcha.

Ouça aqui:

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Foto: Rádio da Juventude

Foto: Rádio da Juventude

A marcha terminou no Emissário Submarino (área pública de lazer) onde foi realizada uma atividade cultural com microfone aberto e show de hip hop com as cantoras; Preta Rara e Luana Hansen – também teve MakeUp Frida Kahlo projeto da fotógrafa Camila Fontenele – Todos Podem Ser Frida e de quebra também teve lanches Veganos.

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Foto: Rádio da Juventude

Um dos momentos bacanas foi um grupo de garotas que leram um manifesto contra todas as formas de opressão sobre a mulher, fazendo uma analogia com a caça as bruxas exercido pela igreja católica na idade medieval.  (Que infelizmente não tem diferença nenhuma nos dias de hoje, quando discutimos temas, por exemplo, o aborto que ainda é tratado sobre a sombra do moralismo cristão, de modo a perseguir e criminalizar as mulheres).

Ouça aqui o manifesto;

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Foto: Rádio da Juventude

Foto: Rádio da Juventude

A Marcha das Vadias na Baixada Santista foi organizada pelo Coletivo Feminista Pagu que vem promovendo diversas atividades na região da baixada discutindo a sociedade patriarcal, homofóbica, racista e cristão-conservadora que sobre a égide da moral e dos bons costumes suprime as liberdades individuais, principalmente das mulheres e de grupos sociais que por não atender aos padrões impostos, não são aceitos e pra além têm seus direitos violados.

Para quem não conhece ou entende o que representa a Marcha das Vadias, leia aqui e tire dúvidas, porque;

Foto: Rádio da Juventude

Foto: Rádio da Juventude

A cada duas horas uma mulher é assassinada no país, a cada cinco minutos uma mulher é agredida, a cada hora uma mulher sofre abuso. É embaçado ou não é???

                                                      Parte da letra de Luana Hansen – Flor de mulher

Abaixo músicas que rolaram de Luana e da Preta.

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Cobertura fotografica completa aqui no perfil do face da rádio

Foto: Rádio da Juventude

Foto: Rádio da Juventude

Marcha das vadias dia 03 de novembro na Baixada Santista

1381336_10202213863446874_1018037736_nConcentração: 13 horas – Praça da Independência
Saída: 14 horas – Rumo ao Quebra Mar Emissário Submarino

1385660_568853143187920_1893489434_nNo Quebra Mar, vai rolar um show da Tarja Preta rap feminino (https://www.facebook.com/pages/TARJA-PRETA-RAP-FEMININO/191262120923246?fref=ts) e da MC e DJ Luana Hansen(https://www.facebook.com/pages/DJ-Luana-Hansen/269488799820532?ref=profile) , lanches veganos, oficina de pintura corporal e muito mais!

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A Marcha Das Vadias é um movimento feminista e apartidário, cujo objetivo é lutar contra as agressões físicas,psicológicas, sociais, culturais e morais as quais meninas e mulheres são submetidas todos os dias. Por sermos mulheres somos tratadas muitas vezes com desprezo e violência ( Física,psicológicas e\ou verbal) e com desrespeito por muitos homens. Principalmente quando se trata da sexualidade como no caso das lésbicas e bissexuais, que sofrem mais esse preconceito e o risco do ” Estupro Corretivo” ( Quando o homem acredita que pode corrigir o ” erro” da sexualidade feminina através da violência sexual). Sem falar das Travestis e transexuais, que estão sujeita a agressões de todos os tipos, em alguns casos inclusive, apenas por se assumirem, são brutalmente assassinadas.Queremos lembrar a todxs que,não importa qual a profissão da mulher, como ela se veste, como se comporta, qual sua idade, sua orientação sexual ou com quantas pessoas faz sexo, todas temos DIREITO a nos sentirmos seguras e termos nossa integridade respeitada.

O movimento começou em Toronto, no Canada. Estava acontecendo muitos casos de abusos sexuais contra mulheres na Faculdade de Toronto e um policial fez uma observação para que ” As mulheres evitassem se vestir como vadias para não serem vítimas de estupro”. Esse pensamento do policial gerou muita revolta e no dia 3 de Abril de 2011, aconteceu a primeira Marcha Das Vadias ( em inglês: SlutWalk) que reuniu cerca de 3 mil pessoas, que protestavam contra o pensamento de que a culpa da violência é da mulher.

No Brasil a marcha começou em São Paulo,em Junho do mesmo ano, e em seguida várias cidades brasileiras realizaram também a marcha.Na baixada Santista, a primeira marcha ocorreu ano passado (2012) em Santos e esta no seu segundo ano.

Mais informações: marchadasvadiasbs.wordpress.com
Página no facebook: https://www.facebook.com/marchadasvadiasbaixadasantista?fref=ts

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Pelo fim da violência contra a mulher!
Pelo o direito ao nosso corpo!
Contra uma cultura que culpa a vitima!
Por todas as mulheres que sofrem ou já sofreram violência!

Organização: Coletivo Feminista Pagu – Baixada Santista, com o apoio do Conselho Regional de Psicologia De Santos, Sindicato dos Petroleiros de Santos e Rádio da Juventude

A mulher que é estuprada sofre em dobro: pela mão de quem a estuprou e de quem a silenciou.

1380306_392327017537385_2062457141_nGeralmente quando uma mulher é estuprada, várias pessoas tentam justificar o ato. Ouvimos que a vítima “ provocou o estupro por estar com roupas curtas” entre outras frases clássicas. Além disso, existe um mito sobre o estupro; as pessoas acreditam que a maioria dos estupros é cometido por desconhecidos no meio de uma rua deserta, quando na verdade, a minoria dos estupros é assim. Nos EUA dados apontam que 70% dos estupros são cometidos por alguém que a vítima conhece. No Brasil, dos 16 estupros registrados por dia no Estado do Rio de Janeiro, a maioria foi cometido por amigos ou conhecidos.

Esses tipos de pensamentos são muito úteis aos estupradores, fornecem um roteiro de como agir para não ser condenado pela agressão. Eles criam situações nas quais nossa cultura vai protegê-los, arrumando desculpas para o comportamento deles e questionando ou negando o relato de suas vítimas. É improvável que eles sejam condenados porque a história não se encaixa no script [do que convencionamos como estupro “de verdade”]. É improvável que eles sejam presos porque a história não leva a uma condenação fácil. Aliás, é improvável que eles sejam denunciados porque as sobreviventes do estupro sabem que as táticas que estes homens usam as deixam com poucas chances de fazer justiça.

Quando você justifica o estupro você esta alimentando uma cultura que favorece o estuprador, você esta dizendo as mulheres as suas voltas que se elas forem estupradas, que não vai ajudá-las. Quando você justifica o estupro, você silencia a mulher, fazendo-a acreditar que é culpada. Quando você justifica o estupro, você esta dando um “ OK “ para o estuprador estuprar.

Leia detalhado em: http://marchadasvadiasbs.wordpress.com/2013/10/08/os-estupradores-estao-contando-com-voce/

O QUE É A MARCHA DAS VADIAS ?

A marcha das vadias é um movimento que luta contra a cultura que culpa as mulheres que são estupradas. Elas surgiu no Canadá,quando um policial disse as estudantes de uma faculdade que para não serem estupradas precisavam evitar se vestir como “vadias”.

POR QUE VADIA ? 

Vadia é um termo para menosprezar e ofender mulheres. É usado para envergonhar mulheres sobre suas ações, seja com quantas pessoas transa, que lugares frequentam até para ofender mulheres que levantam a voz numa discussão. Só por sermos mulheres já fomos chamadas de vadias. Vadia além de ofender, assusta, pois ser vadia na nossa sociedade é ser “ estuprável”. Nos recusamos a ser ofendidas por ousarmos viver nossas vidas da forma como desejamos. Se ser livre é ser vadia, somos TODAS vadias!

Evento no facebook: https://www.facebook.com/events/481834158578585/?ref=ts&fref=ts

Evento sobre a visibilidade lésbica! Contra a lesbofobia & Homofobia !!!

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PRÓXIMO SÁBADO:

Dia 31 de Agosto de 2013, Sábado, às 18 horas, na Cinemateca de Santos, Rua Xavier de Toledo, número 42, Bairro Campo Grande, Santos/SP. Exibição dos Documentários: “4 Minas” (Diretora: Elisa Gargiulo, São Paulo, 2012) + “Negras Lésbicas” (Diretoras: Patrícia Norica, Priscilla Mendes, Formiga & Erica Silva, São Paulo, 2012) + Debate sobre o tema com a presença de Elisa Gargiulo & Luana Hansen.

ENTRADA GRATUITA !!!

Organização: Coletivo Feminista Pagu, da Baixada Santista !!!

Contamos com a presença de todxs !!!

A ideia do nascituro se baseia em quê? Valores morais religiosos?

Dotar o nascituro de personalidade jurídica com direitos é uma teoria concepcionista totalmente cristã que vem na contra mão de um Estado Laico. E não é uma questão de interpretação meramente semântica, pois, a discussão não é sobre se há várias formas de compreensão da vida, ou do que é considerado vida. Mas sim, que o Estatuto em torno do nascituro, da defesa de células se apoia apenas em valores morais religiosos doutrinários que são crenças particulares de determinados grupos sociais. Um Estado Laico não confessa religião, é plural, diverso e preza pela compreensão e tolerância onde cada grupo social pertencente à sociedade exerce seus direitos professando suar fé na religião que quiser, sem que interfira no bem estar societário.

Agora, quando determinados grupos sociais se sentem prejudicados por determinadas leis, ou sentem a necessidade de alguma, nada mais legitimo que lutar e promover o debate com a sociedade sobre tal assunto, porém, um Estado laico não pauta suas leis por dogmas religiosos, ainda mais quando tal lei representa apenas a decisão de um único grupo que se coloca no direito de decidir por toda a sociedade, isso somente revela arrogância, intolerância, desrespeito e autoritarismo mascarado com uma bandeira hipócrita de proteção à vida, à criança… Que ainda nem existe, mas a mulher sim!

Este Estatuto do Nascituro que foi aprovado na Comissão de Finanças e segue para ser aprovado na Comissão de Justiça a no Plenário, ele é totalmente surreal e perverso, criminaliza a mulher colocando uma pedra sobre o debate do aborto, um debate importantíssimo, pois a quantidade de casos de violência contra a mulher que existe no Brasil de espancamento, estupro, assassinato não é brincadeira. E isso, não está sendo levado em consideração, não há respeito pela mulher nem a analise de quão ridículo ele é, pois na prática, de acordo com o que foi proposto, uma mulher quando for estuprada além de não poder fazer o aborto, ainda terá que conviver com tal criatura desprezível (estuprador) pelo resto da vida, pois, o mesmo terá de pena: pagar pensão, e não duvido que acrescentem direito a visitas aos fins de semana. Absurdo! Imaginem o dano psicológico que um estupro causa para uma mulher e o que causará a ela tendo que conviver com tal situação, é como incentivar a mulher ao suicídio.

E tem mais, obrigar uma mulher a manter uma gravidez de uma criança encefálica, (inflamação no cérebro que levará a criança a óbito após nascer) é outro absurdo! Primeiro: todas essas questões devem ser de autonomia da mulher, ela deve decidir! Segundo: há uma discussão de classe envolvida que temos que considerar, porque aquela mulher que possui poder aquisitivo irá numa clínica de aborto e resolverá o problema, enquanto a mulher periférica estará ferrada! Será ainda mais perseguida do que já é, mais criminalizada, mais desmerecida e continuará morrendo em clinicas clandestinas por omissão de um Estado genocida que negligencia uma questão que é de saúde pública, e se cala diante de um Estatuto policialesco, portanto, mais porrada essa mulher vai levar, porque estará institucionalizado: o nascituro terá mais direitos que ela.

Essa é a afirmação de uma sociedade teocrática de valores patriarcais em que a mulher será punida por todo o mal!

Não podemos aceitar!

Avante mulheres! Chega de cristo em nossos ovários!

Tamujunto!

O machismo no dicionário informal do R7. Qual o significado da palavra ordinária?

feminismoEstava a escrever um texto outro dia (para o blog) e num determinado momento me deparei com a palavra; ordinária, qual utilizaria como adjetivo de algo ruim, fora de ordem e que não cumpre com algo acordado, de modo que, tive a preocupação habitual de ter a interpretação correta, afinal, algumas palavras assumem significados pejorativos em determinado contexto cultural, (também porque não tenho formação em letras) por isso, fui confirmar no dicionário, e o de praxe à quem migrou para a cibercultura: página do google –  digita – qual o significado da palavra ordinária? Ok! Apareceram às opções, cliquei na primeira,  Ordinária – Dicionário inFormal, quando abri o site para confirmar se minha interpretação estava correta, tive a surpresa de encontrar isto como definição:

Mulher que não presta, faz armações tudo por dinheiro e gosta de se exibir para os homens, mais novinhos”.

Exemplo, Aquela ordinária estava louca pra transar com o Paulo.

Continuei a ler o site e ver se eu não estava sendo precipitado em tecer minha opinião, (apesar de que essa duas frases já dizem tudo pra mim) encontrei isso:

Muitas vezes como a definição colocada neste site de um mulher “ordinária” é colocado de tal ordem que passa a ideia que as mulheres ordinárias seriam todas levianas, vagabundas, o que deve ser repudiado, nem todas as mulheres são vagabundas. A sociedade “convencionou” que algo ordinário, ordenada ou de “ordem” não necessariamente deva ser atribuído a todas as mulheres  como sendo vagabundas, rameiras, lasciva, libidinosas, imorais, depravadas etc., seria a coisa de ordem, porém não o é! Assim acho que a colocação da palavra “ordinária” às mulheres que mantem-se numa ordem de boa moral, não necessariamente são extraordinárias. Se a sociedade humana está degradada, não é por causa das mulheres ordinárias, mas sim pelas extraordinárias, que fazem mais na conduta sexual ordinária, para reprodução, a função primária para uma relação sexual. Se agora uma mulher é lasciva, e dá o cu  fornecer o esfíncter de forma passiva e lasciva; entregar o canal do reto para prazer… Como vertido neste dicionário, nem todas o dão!

Olha, confesso; o que está escrito aí em minha opinião é tentar explicar e se lambuzar ainda mais na merda que fez, pra mim não faz sentido toda essa explicação. Não havia porque fazer referência a mulher. Não sou professor, mas se é importante explicar com exemplos, o mais correto seria usar de forma neutra, tipo: “aquela empresa é ordinária” logo, significa que a empresa não é idônea, ou, “as pessoas tiveram uma atitude ordinária na câmara” logo, significa que as pessoas agiram por interesse. E só. Perfeito, certeza que todos entenderiam.

Fiquei indignado… Li e re-li, refleti, não havia outra conclusão! Sabia que as palavras assumem significados pejorativos, devido o momento histórico/cultural, (o que é ruim) mas essa foi demais – explicação de dicionário criminalizando a mulher, reafirmando uma cultura patriarcal e hedionda – nem sei dizer se neste caso, é sutil, pelo menos não pra mim! Pois, fiquei a pensar na quantidade de pessoas que acessam em busca da mesma definição que eu precisava e se deparam com este horror, e com certeza boa parte não percebe, simplesmente assimilam e mais tarde reproduzem essa cultura de inferiorização da mulher de forma natural, legitimando ainda mais uma sociedade em que as mulheres são vistas como seres de subserviência ao homem, que tem que lavar passar, cozinhar, cuidar dos filhos, fazer sexo quando o homem quer… Ou seja, ser sempre a propriedade, a empregada, a culpada, a crucifixada, a compadecida que tem que amar um mundo que a condena.

Absurdo! Lembrei-me de duas amigas que num programa de rádio leram um texto que falava em como os adjetivos quando são utilizados referindo-se a mulher são sempre de forma machista, desprezando a mulher, colocando a sempre como degenerada, corruptora de lares, pervertida, praga da humanidade entre outras deformações.

Aí lembrei que esta é uma briga grande de se travar numa sociedade tão cristã como a nossa, não sou contra nenhum tipo de crença, mas penso que a religião contribui demais para a alienação do povo e para todo esse machismo que vivenciamos hoje.

Na bíblia, por exemplo, conta-se o mito que no iniciou do mundo quem comeu o fruto proibido foi a mulher (Eva), deixando claro, que foi ela quem perverteu o homem (o tal do Adão) e trouxe o pecado para o mundo. Vejam só, além de cultural é algo religioso, pior ainda, porque com a ordem de Deus não se discute – uma boa forma que alguns canalhas inventaram para escravizar as mulheres – e isso perdura e vai determinando a vida – a questão do aborto, tenho certeza que se fosse o homem quem parisse, já estaria legalizado!

Mas em tempos que se faz piada com a lei Maria da Penha, lei que existe devido uma mulher ter ficado paraplégica porque o marido com seu sentimento de posse, além de a espancar durante seis anos, deu um tiro tentando a assassiná-la.

A verdade, é que muita luta ainda há pela frente nesta sociedade patriarcal!

OBS: Fui até o famigerado dicionário “Aurélio” esquecido na estante, e a palavra ordinária refere-se; Substantivo feminino, singular, 1. ao gasto diário, mensal ou anual. 2.Pensão alimentícia. – Enquanto adjetivo: 3. de má qualidade; inferior 4. de baixa condição; baixo, grosseiro.

Era só isso que eu queria, e que até havia lá no site, junto com toda essa droga junto.

Estatuto do Nascituro: a mulher que se foda

Hoje o Estatuto do Nascituro foi aprovado na Comissão de Finanças.

Ainda falta ser aprovado na Comissão de Justiça a no Plenário. Mas não duvido nada que seja. Nunca ouviu falar do Estatuto do Nascituro? Basicamente é o seguinte: um ÓVULO FECUNDADO vai ter mais direitos do que eu, do que a sua mãe, do que a sua irmã e do que a minha filha e todas as outras mulheres do Brasil. Se, digamos, minha filha de nove anos fosse estuprada e engravidasse, não teria direito a fazer um aborto; teria de manter o filho do agressor. Se caso não tivesse recursos para sustentar a criança (!!!), o Estado se responsabilizaria com a apelidada BOLSA ESTUPRO até os 18 anos do filho – isso caso o estuprador não fosse identificado e RESPONSABILIZADO. Aborto de anencéfalo? Esquece. Risco de vida pra mãe? Foda-se a mãe. Trauma? Foda-se a mãe.

O aborto ilegal já causa 22% das mortes maternas. Com essa monstruosidade aprovada, é provável que esse número dobre, triplique. Criminalizar o aborto não é solução. Já falei sobre isso aqui.

Mas isso é muito, muito pior. Até o “aborto culposo” querem inventar. Sabe homicídio culposo, onde a pessoa não tem a intenção de matar? Então. Vai ser a mesma coisa se a mulher abortar acidentalmente. Ela será investigada. Imagina só perder um filho e ainda ser suspeita disso?

Se a mãe correr risco de vida e precisar de um tratamento que coloque em perigo a vida do feto, ela será proibida de se tratar. Afinal, a vida de um amontoado de células que ainda não nasceu, não tem personalidade, não tem consciência, é evidentemente mais importante do que a de uma mulher formada.

Vejamos alguns dos artigos dessa aberração:

Art.1º Esta lei dispõe sobre a proteção integral ao nascituro.

O embrião, você quer dizer. O amontoado de células.

Art. 2º Nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido.

Pff.

Parágrafo único. O conceito de nascituro inclui os seres humanos concebidos “in vitro”, os produzidos através de clonagem ou por outro meio científica e eticamente aceito.

 Quer dizer, ATÉ UM CLONE é mais importante do que a vida da mãe.

Art. 4º É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar ao nascituro, com absoluta prioridade, a expectativa do direito à vida, à saúde, à alimentação, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar, além de colocá-lo a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

SENHORES, NÃO SEI SE VOCÊ SABEM, MAS ELE AINDA NÃO NASCEU.

Art. 9º É vedado ao Estado e aos particulares discriminar o nascituro, privando-o da expectativa de algum direito, em razão do sexo, da idade, da etnia, da origem, da deficiência física ou mental ou da probalidade de sobrevida.

E a mãe que se foda.

Art. 10º O nascituro deficiente terá à sua disposição todos os meios terapêuticos e profiláticos existentes para prevenir, reparar ou minimizar sua deficiências, haja ou não expectativa de sobrevida extra-uterina.

E a mãe que se foda, depois de ter passado uma gestação inteira sabendo que o filho não sobreviveria.

Art. 13 O nascituro concebido em um ato de violência sexual não sofrerá qualquer discriminação ou restrição de direitos, assegurandolhe, ainda, os seguintes:

I – direito prioritário à assistência pré-natal, com acompanhamento psicológico da gestante;

II – direito a pensão alimentícia equivalente a 1 (um) salário mínimo, até que complete dezoito anos;

III – direito prioritário à adoção, caso a mãe não queira assumir a criança após o nascimento.

Parágrafo único. Se for identificado o genitor, será ele o responsável pela pensão alimentícia a que se refere o inciso II deste artigo; se não for identificado, ou se for insolvente, a obrigação recairá sobre o Estado.

 Quer dizer: se uma menina for estuprada pelo próprio pai e engravidar, ela vai ter que carregar o filho/irmão, parir, criar e ainda ter que lidar com o pai de ambos, ou colocar o filho para adoção, como se os orfanatos fossem lugares bacanérrimos, como se o processo de adoção fosse algo fácil, como se isso tudo tivesse alguma conexão com a realidade. Se uma mulher for estuprada por desconhecido, até parece que vão caçar o cara para que ele dê pensão. Não sei o que é pior, o Estado oferecer a pensão ou sugerirem que o ESTUPRADOR pague pensão. Ele deveria estar preso, não deveria? Se encontrado, o estuprador não seria preso, mas obrigado a sustentar um filho? Vão querer visita obrigatória também? É completamente fora da realidade. Completamente. É de uma falta de empatia que eu nunca vi nessa vida. Obrigar uma mulher a carregar o fruto de uma violência é acabar com a vida dela. Ou seja, mais uma vez: FODA-SE A MÃE.

É basicamente isso que diz o Estatuto do Nascituro: foda-se a mãe, foda-se a mulher que sofreu violência, foda-se a vida delas. O que importa é a vida que foi gerada.

E isso é baseado em que, mesmo?

Crenças. Crenças de que DEUS mandou essa vida. Gente, olha só, eu sou atéia, eu não tenho DEUS ALGUM. Se você tem um deus e ele não quer que você aborte, apenas NÃO ABORTE. Mas tire as suas idéias, as suas crenças e essa violência toda do corpo das outras mulheres. Das mulheres. De todas as mulheres.

O Estado não pode mandar em nossos corpos.

Aqui tem um post da Lola a respeito.

Aqui tem um do queridíssimo Pedro Munhoz.

E aqui tem essa MONSTRUOSIDADE na íntegra.

Não podemos aceitar. Não podemos nos calar. Não podemos deixar que os fundamentalistas religiosos tomem assim esse país.

O

ESTADO

DEVE

SER

LAICO.

Se não lutarmos por isso, se não fizermos barulho, retrocederemos mais e mais e mais até, sei lá, não podermos usar energia elétrica ou remédios.

Conto com vocês pra fazer um escarcéu.

Fonte: Clara Averbuck

Empregadas domésticas: discriminação e direitos violados. Uma lei pode mudar tudo?

Historicamente desde a Grécia antiga o trabalho doméstico sempre foi exercido por escravos e tido como um trabalho sem valor atribuído as pessoas denominadas como inferiores e incultas. O filósofo Grego Aristóteles em seu livro clássico A Política, afirma que para conseguir cultura, era necessário ser rico e ocioso à custa da escravidão dos incautos. Esse tipo de pensamento permeou toda antiguidade, na velha Roma, por exemplo, todo o trabalho manual era reservado aos escravos. Na idade média, nos castelos medievais a cozinha era reservada aos servos. Apenas em alguns mosteiros da Igreja católica onde a função doméstica era exercida por monges, que esse trabalho recebia algum tipo de consideração. No Brasil, não foi diferente, os colonizadores obrigavam os índios a cumprirem todo o trabalho considerado pesado, e foram os jesuítas que em suas missões catequizadoras que colocaram as índias para serem as responsáveis pelo trabalho doméstico em suas comunidades criadas aqui em terras tupiniquins.

Com o surgimento do patriarcalismo e a escravatura instalada como a base do sistema de produção, os homens negros eram colocados para trabalhar na lavoura, enquanto as mulheres negras foram inseridas na casa grande para trabalhar como mucamas.

Hoje no Brasil, resquícios de uma escravidão que ainda não foi enterrada persistem por meio do serviço doméstico, uma realidade com poucas mudanças, que traz enraizada na cultura de muitos empregadores de que é uma função sem direitos, reproduzindo deste modo, uma nova relação de trabalho escravocrata velada. 

PEC dos trabalhadores domésticos e a polêmica em torno da lei.

Com o Projeto de Emenda Constitucional dos trabalhadores domésticos um avanço importante foi conquistado para a categoria, no entanto, há muito a ser conquistado. Pois, ficou evidente nas criticas de quem foi contra a emenda que para esses direitos serem respeitados na prática será preciso organização da classe. Uma das criticas bastante discutida, era que os empregadores vão precisar contratar um Contador para fazer os cálculos de seu prestador de serviço, o que irá gerar mais gastos, resultado: ao contrário da lei ser um avanço, será um retrocesso, pois, contribuirá para o aumento do trabalho informal e do desemprego, já que muitos empregadores irão preferir contratar diaristas, ou ficar sem o prestador de serviço doméstico.

Mas isso na prática já acontece, a competição para precarizar cada vez mais o serviço doméstico pagando cada vez menos pelos afazeres domésticos é uma realidade quase que irrefutável. Sem contar que estes “afazeres domésticos” imbrica outra discussão: a função indefinida das domésticas por exemplo, afinal, qual o serviço especifico de uma empregada doméstica? Tudo e mais um pouco, essa é a verdade! A maioria lava, passa, varre, cozinha, arruma, cuida de criança, faz compras… Ou seja, toda a responsabilidade da casa é delegada a essa trabalhadora, e quando o serviço é contratado no modus operandi “diarista”, esta trabalhadora fica com o serviço mais pesado e com a missão de resolver tudo num único dia para poder receber o que foi acordado, que na maioria das vezes é uma mixaria! Agora querer dizer que a lei prejudica os empregadores é demais! Afinal, sabemos como funcionam as coisas neste país para a classe trabalhadora, uma lei para se efetivar na prática precisa de muita luta e de muitas ações na Justiça do Trabalho.

Outra coisa, há de se considerar que o trabalho doméstico também é um serviço delegado as mulheres, e por quê? Exatamente por vivermos numa sociedade que traz engendrada em sua cultura, a praga do patriarcalismo que coloca a mulher em condição de subserviência ao homem, e neste caso, acrescentamos também a criminalização da origem étnica e social como item, pois quanto mais adjetivos a sociedade nomeia de forma pejorativa: mulher, preta, nordestina, pobre, deficiente… Mais explorada está trabalhadora será! Essa é a dura realidade que permeia essa discussão, mas que não é levada em consideração e que a mídia oficial sabe muito bem como prestar um desserviço distorcendo toda a questão.

Organização 

Para além de direitos trabalhistas conquistados institucionalmente (justo e providencial) há de se pensar na organização da classe trabalhadora para uma verdadeira emancipação, pois estes direitos garantidos por um Estado que em sua essência é contra a classe trabalhadora, na maioria das vezes mascara o problema, o resolvendo paliativamente, e no que diz respeito ao serviço doméstico, é apenas a ponta do iceberg, mas também um precedente aberto que temos que radicalizar, pois, numa sociedade onde o valor humano está fundado num diploma acadêmico, continuaremos vivendo numa sociedade de exclusão e privilégio onde o prestador de serviço doméstico continuará sendo desrespeitado numa relação análoga a escravidão.

É este o tipo de sociedade que queremos?

Ouça o relato de Dona Esmeralda falando  sobre o serviço doméstico:

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Domingão na Constituição! A Rádio da Juventude é toda Feminista!

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Semana da Mulher – Dia 10 de março 13h  Tod@s estão convidad@s!!!

O que irá rolar?

-Comes  (opções vegetarianas) e bebes

-Música – com artistas da região!!!

-Teatro de rua – ocupando geral!

-Microfone aberto para todos que quiserem expressar opinião

-Poesia – Pra aliviar e instigar a alma

-Venda de livros – Desligue a TV e leia um livro –

-Intervenções radiofônicas com a Rádio da Juventude – ocupando e questionando! Por uma Comunicação Livre e Popular!!

Com a  participação do Coletivo Feminista Pagu e da Biblioteca Carlo Aldegheri

Local: Casa da Juventude Operária Católica – JOC – Rua da Constituição 331, (próximo da rua 7 de setembro) – Santos

Solicitamos apenas a contribuição voluntária e solidária com 1k de alimento não perecível que será destinado à aldeia indígena de Paranapuã em São Vicente, (Parque Xixová – reserva ecológica) comunidade esta, que vem sofrendo vários embargos do Poder Público.

É isso aí!  Pão, Tesão e Anarquia pra tod@s!!! Nos veremos lá. 

Do feminismo nosso de todo dia.

“Maquilagem, cabelo, roupa, corpo e homens! Saiba tudo o que uma mulher precisa aqui! Responda SIM e assine por R$0,35/dia os segredos que toda mulher tem que saber”

Fonte: http://outramento.blogspot.com.br/2012/12/do-feminismo-nosso-de-todo-dia.html

Recebi essa mensagem no celular essa semana, e ficou ecoando na minha cabeça o tempo todo. Em um primeiro momento, o fato de “maquilagem, cabelo, roupa e corpo” serem colocados no mesmo “conjunto” de “homem”. Como se tratasse de um mesmo grau de interesse e de uma mesma necessidade de atenção a forma como escolhemos um penteado ou nos relacionamos com outro ser humano. A questão é essa: não se trata de relações humanas. É uma coisa, os homens. Precisamos saber o que eles afinal pensam e querem, e como fazer para ganhá-los. Dos bons, evidentemente. E claro, a melhor opção é adquirindo um serviço de celular.

Sempre escrevo insistentemente sobre como reproduzimos nas relações humanas a forma que nos relacionamos com as coisas. Insisto porque é uma lógica que estamos todos sujeitos a reproduzir sem perceber. E é muito triste esse grau de previsibilidade e clichê que nos tornamos. Repetimos e repetimos insistentemente, tentando reproduzir da forma mais correta que a “receita” prescreve a forma de amar outra pessoa, as outras pessoas. Mesmo que esse modelo nos custe colocar de lado nossos desejos e vontades.  Não bastasse nos ordenar: trabalhas, pague, compre… também nos orientam: ame aquele, seja desse jeito, sirva a teu esposo dessa forma, reproduza filhos sadios.

Para além dessa relação reificada, existe essa redução do que se trata ser mulher. É tão cristalizado e naturalizado que penso quantas mulheres questionaram ao receber um SMS. Eu me senti, ao ler, extremamente reduzida. Como se fosse isso que a mulher deveria se interessar: estética e homens. Estética para conseguir atrair os homens. Parece bobeira, parece papo chato de feminista como gostam de falar por aí mas não é! Normalmente fico brava e me irrito com essas mensagens – não só do celular, mas cenas da televisão que nos reduzem dessa forma: Seja burra, mas seja gostosa. Seja decidida, porque os homens gostam, mas não tão decidida, porque eles assustam. Seja sexy, mas não seja vulgar – pode dificultar arrumar um marido – coisa mais fácil é ser mal falada.

Dessa vez não fiquei brava, mas fiquei triste. A cena que me veio na cabeça era como uma criança gordinha com roupinha de ginástica, tentando impressionar os pais com coreografias mirabolantes e mal sucedidas, que dão risada tentando dizer: “não precisa disso, queridinha”. De repente eu era essa criança, em meio a tantos livros, buscando com tanto compromisso uma formação humana com o objetivo de contribuir da melhor forma pra uma transformação social… e a sociedade me manda um SMS dizendo que tudo que eu preciso é de uma boa sombra e um bom decote. Desista. Esse mundo dos pensantes não é pra ti, lindinha.

Talvez um homem não tenha a dimensão disso, do que significa ouvir quase a vida toda que sua inteligência é bônus. Ou, pior, como algo que atrapalha. Melhor que seja burra mesmo, mas bonita. Bem cuidada. Belos dentes. Contanto que o conjunto de roupas e maquilagem estejam de acordo, tanto faz o que falaremos. Lembro de um livro, sobre Simone de Beauvoir e Sartre no Brasil, que comentava de notícias do jornal, que quase não falavam dela, apontando os holofotes sempre para Sartre. Muitas vezes, ela era isso: a companheira de Sartre. O cúmulo do absurdo foi em uma palestra dela os jornalistas comentarem sobre a ausência de Sartre na platéia, pois estava sabe lá onde. A ausência de Sartre era mais interessante que Simone falando.

Nós nos acostumamos (essa palavra dói nos ossos na alma e em tudo) a essa condição. Reduzidas a uma máquina de fazer filhos e refeições para o marido. Com uma calça que ressalta a bunda e um sutiã que valoriza os seios, uma maquilagem que esconde as olheiras de cansaço e qualquer sinal de idade – afinal, temos que nos manter ou aparentar jovens, para não sermos trocadas.

Parece exagero, mas se pararmos para pensar é essa imagem que está de fundo quando nos dão bonecas de presente, quando nos mostram desde pequenas o batonzinho, a bolsinha, o sapato alto. Fogãozinho. Nos ensinam a sentar de perna fechada – “senta igual mocinha“. Se buscarmos entender o que está no nosso imaginário social, o que está pelas televisões, nas notícias de jornal, nas músicas… é isso que está nos dizendo. O tempo todo. E se entendemos a mensagem e questionamos somos as feministas chatas. Não entendemos a brincadeira.

Pois é, eu não entendi a brincadeira, sociedade. Talvez eu tenha perdido a parte engraçada quando um sujeito imaginou que tinha permissão de agarrar a minha bunda no metrô quando eu não tinha nem 18 anos – eu fiquei com vergonha, ao invés de ficar brava. Ele disse que foi sem querer, mas eu e ele – e o resto que viu – sabe que não foi. Talvez era muito nova pra entender a piada quando o zelador do prédio ao lado me chamou de gostosa ao me ver com o uniforme da escola, e eu então fiquei um tempo sem coragem de usar saia. Talvez não tenha entendido a piada quando um “companheiro” me disse que eu não precisava falar muito para convencer os homens a ser militante, basta piscar meus olhinhos verdes. Ou perdeu a graça – tantas brincadeiras depois –  quando eu vi na TV que mulher feia deve agradecer ser estuprada. Não vi graça mesmo ao sentir medo de voltar pra casa pois morava num prédio que outras garotas tinham sido estupradas outras vezes, algo “recorrente naquela região”. Esqueci de rir quando bateram na minha vizinha, pelo fato dela ser mulher, e de seu esposo estar com raiva – que outro lugar para depositar sua raiva, que não em sua mulher, não é mesmo?

A forma de apagar essa mensagem da cabeça é talvez escrever sobre. Denunciar. É o que podemos fazer. Sabemos que nosso grito não tem o alcance das palavras e gestos sufocantes do outro lado, mas vamos tentando. Que chegue em uma, que alcance outra, que questione mais uma. Quem sabe alguns companheiros no caminho se sensibilizem. Até que um dia deixem de nos querer deixar pequenas. Até que nós passemos a aprender que não devemos pedir permissão para sermos grandes do jeito que somos. Até que um dia a opressão comece a perder a graça, e possa, quem sabe, ser superada.

O machismo na loja de brinquedos

A mulher, há tempos, é relegada ao papel de mero coadjuvante nas sociedades. Jessita Rodrigues, em seu livro “A mulher operária: um estudo sobre tecelãs”, já dizia do papel subalterno a que as mulheres são relegadas em todas as classes sociais, pois às operárias ensina-se o cuidar da casa e filhos. Quando esta operária sai de casa de casa para trabalhar irá cuidar dos filhos e marido da madame. E a madame que, de posse de recursos, não precisa trabalhar, também estará relegada ao papel doméstico, não como executora das tarefas em si, mas como uma administradora dessas tarefas realizadas por sua empregada.

A simbologia do que se espera da mulher é de fácil assimilação. É inculcada na cabeça dela desde a sua primeira infância quando se presenteia a criança com bonecas. A mais tradicional é a boneca bebê – responsabilidade de ser mãe que já é ensinada aos 3, aos 5 anos de idade! E a mais moderna, o modelo Barbie, longe de ser um “modelo de mulher bem-sucedida” está mais próximo de um modelo que, sem pesar tanto sobre a maternidade, pesa mais sobre um modelo de magreza socialmente aceito que desfilará roupas acinturadas e cabelos loiros e lisos, produzindo milhares de mulheres frustradas num Brasil de morenas gordinhas.

Afora a linha anoréxica-fashion, a Barbie (e suas variações de modelos populares mais baratos porém nada alternativos) também inculca nas futuras mulheres um padrão de beleza e comportamento aceito pelos homens: roupas provocantes, seios fartos, sapatos altos (já inclusos em todas as caixas), unhas pintadas e, para finalizar, um cor-de-rosa sempre presente que instrui, sem sutilezas, uma feminilidade artificial baseada na presença de acessórios produzidos pela indústria fashion, além disso, uma aquiescência e uma meiguice esperadas pelo patriarcado. Não que a meiguice, a feminilidade ou a aquiescência sejam, por si, características execráveis. Mas a padronização de um perfil tido como ideal visa a erradicar uma variedade de pensamentos e comportamentos livres salutares a uma sociedade plural e igualitária – a qual estamos longe de alcançar.

Desafio qualquer um a comprar um brinquedo que não contenha os elementos supra-citados. É praticamente impossível encontrar um brinquedo que não tenha a missão de inculcar valores machistas nas nossas meninas: princesas, bebês, Barbies, panelinhas, castelos de princesas – para que nossas meninas fiquem à espera de seus príncipes encantados, como se sua vida precisasse da presença de um homem para ter significado, e por aí vai…

E para finalizar este texto, anexo fotos da última visita à loja de brinquedos: réplicas perfeitas em miniatura de fraldas descartáveis, conjuntos de maternidade, com direito a pérolas que só o machismo poderia replicar com tamanha desfaçatez e maldade:

 “Para as pequenas mamães!”

 

Um minuto de silencio à morte da infância lúdica

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Reflexão e Ação – em debate: O sistema carcerário no Brasil

O sistema carcerário no Brasil é uma máquina de moer gente! Principalmente negros e pobres, impossível pensar os problemas das prisões no Brasil sem levar em consideração a formação histórica e o recorte de classe.

Neste último sábado dia 01 de dezembro de 2012 o programa Reflexão e Ação teve como tema de debate: “O sistema carcerário no Brasil”.

Contou com participações da Prof. do Curso de Serviço Social da UNIFESP Andrea Almeida Torres e com a Educadora Social Camila Gibin que compõe o movimento de defesa da infância e juventude e o Coletivo Feminista Anastácia Livre.

Ouça na íntegra todo o programa com a apresentação de Lila Maria.

Download: VBR MP3 (176 MB) | Ogg Vorbis (47.7 MB)

Há machismo na esquerda?

No sábado 10 de novembro de 2012 foi realizado na cidade de São Paulo um debate necessário porem pouco feito no interior dos movimentos sociais, sindicatos, partidos, coletivos e outros espaços de organização que contestam o sistema capitalista. O debate sobre machismo e principalmente a violência dentro dos movimentos contestatórios e de resistência.

O espaço estava sendo organizado por alguns coletivos feministas como Anatácia Livre, Mulheres do DAR, Revolução Preta e Violeta Parra.

Entendendo que não estamos automaticamente livres de sofrer ou exercer uma opressão pelo fato de contestarmos a ordem vigente, pois somos filhas e filhos do patriarcado (sociedade gerida por homens brancos e proprietários), e reproduzimos todos os dias o machismo. Estes coletivos sentiram a urgência de discutir tal assunto, tendo em vista que o debate ainda permanece como secundário nos espaços da esquerda.

No entanto a pergunta: Há machismo na esquerda? se tornou óbvia a resposta ao longo do seminário e até mesmo durante a divulgação quando na verdade deveria ser assustadora pois o machismo é opressão, lutamos e sonhamos por mundo livre das opressão e injustiças. Contra a lei do mais forte, de repremir, violentar e explorar. Lutamos por um mundo onde sejamos livres e iguais em nossa essência, seja ela do gênero masculino ou feminino.

Então a questão não é apenas: Sim ou Não, existe ou deixa de existir mas como vamos combater?

Seguindo nessa perspectiva, de que o machismo enquanto cultura patriarcal, desenvolvida há séculos, ou milênios atrás, encontra-se no nosso inconsciente coletivo, tanto masculino quanto feminino, pensamos e debatemos sobre a prática do chamado “escracho” (prática de tornar pública a imagem do agressor, no caso o companheiro que praticou o machismo) que vem sendo utilizada e divulgada nas redes sociais, nos atos, nas ruas e na mídia de maneira geral.O que é o escracho? Pra quem é o escracho? Devemos nos unir por sermos feministas, e utilizar desse  instrumento para condenar, punir, excluir, boicotar o agressor? Estamos mesmo construindo desta forma a liberdade da mulher? Devemos, como se diz a gíria “passar um pano” para os sujeitos que exerceram tal violência, apenas por serem companheiros de luta?As respostas, como vimos e debatemos durante o Seminário-Debate ficou em aberto, e isso pareceu-nos produtivo, para que a reflexão seja feita  e não nos fecharmos em receitas e métodos universais, muitas vezes pecamos nas urgências, simplesmente por querer dar respostas imediatas.Buscamos a liberdade e equidade entre os sujeitos, não a supremacia de um sobre o outro.  Não estamos ” querendo passar a mão na cabeça” e ser  coniventes com os homens que afirmam seu machismo a todo custo, que “batem no peito” o seu autoritarismo e sua necessidade de permanência no controle das relações estabelecidas.

Nos referimos aqui a companheiros que necessitam de espaços e reflexões  para pensar suas posturas, rever suas condutas e modificar suas ações. E isso, foi visto e vivenciado nesse dia, homens falantes, indagando-se, questionando suas posturas, seus comportamentos e querendo se transformar e levar isso para seus espaços íntimos, coletivos, partidos e relações pessoais.

Não podemos  perder de vista o fato da sociedade ser mais conivente com o homem, historicamente um privilégio dentro de inúmeras sociedades, mas vamos refletir o quão é complexo para muitos (homens) se despirem do machismo implantado e reforçado  desde seu nascimento.

Não estamos defendendo a omissão dentro dos grupos, coletivos, partidos,  seja qual for a organização, acreditamos que combate coletivo possa trazer frutos de mudança e libertação, ao contrário; quando um grupo se cala sobre um determinado assunto de violência,  só tende a aumentar e reforçar as situações de opressão.

Simplesmente ignorar, questões relacionadas a violência (psicológica, simbólica, física, moral) no nosso cotidiano nos faz hipócritas. Se queremos  mudanças concretas e lutamos por elas, comecemos por repensar nossas posturas, sem exercer o papel do Estado, esse que tanto nos oprime.

Não sejamos o Estado. Sejamos sujeitos(as) que buscam práticas diferenciadas, criativas e de eficácia, que a teoria seja a prática, que a igualdade seja atitude, e que nenhuma mulher tenha que sair do espaço político, que nenhuma mulher sinta-se em qualquer instância humilhada.

Que não sejamos definidas(os) por gênero, e que essa definição não trace os caminhos que devemos seguir, que não perpetue a lógica capitalista.

Pela organização das mulheres, por suas práticas de resistência diaria ao mundo extremamente machista, devemos homens e mulheres nos fortalecer e nos solidarizar, a opressão que a mulher sofre não diz respeito só a mulher, ou só ao homem.

Vamos dar esse passo juntos e juntas!