Declaração do Promotor Rogério Zagallo pelo face é apenas a ponta de um iceberg fascista chamado Estado.

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Esta declaração demostra claramente uma sociedade de classes, onde quem tem poder conferido pelo Estado, manda. E manda matar! Pergunta: irá acontecer algo com esse promotor? Com certeza não. Isso se ficarmos calados, temos mais é que cobrar punição a este promotor, ou no mínimo um escracho manifesto denunciativo.

Pois, nas mãos do Poder Público com certeza ficará impune. Afinal, segundo justificativa do mesmo, o que ocorreu foi um momento de desabafo pela espera no trânsito, pois seus filhos os esperavam nervosos. Não justifica!

Compreender que ficar preso no trânsito gera estresse é uma coisa, porém isso não limpa a barra de um posicionamento autoritário. Agora, imaginem o que ocorre no distrito deste promotor, quantos casos vão para o arquivo?  E reparem como ele utiliza o pronome possessivo “meu Tribunal”, revelando uma prepotência, pois, refere-se a uma instituição pública como sua propriedade particular.

Entretanto, qual é a novidade oriunda de alguém a serviço deste Estado que não passa de uma máquina de moer gente, mas que tipo de gente? Trabalhador, morador de periferia que acorda às 5h da manhã para pegar ônibus lotado, pagar um valor caríssimo por um serviço público péssimo.

E ainda querem retirar a legitimidade do ódio que leva ao protesto.

Aí vem à mídia oficial dizendo que teve quebradeira, dano ao patrimônio público, violência… desculpe a expressão, mas, “vão à merda!” Divulgar que na manhã de sexta havia gente desaparecida, presa e ferida, e que inclusive segundo nota do MPL até a data de hoje ainda tem gente presa, isso não fazem, e por quê?

Exatamente porque a sociedade está dividida em quem manda e quem obedece, e quando quem obedece se cansa e vai a luta, aí é reprimido, tratado como vândalo e deve morrer.

Alguma dúvida que a polícia e todo o sistema jurídico são aparatos de extermínio da população pobre a serviço do Estado?

Isso comprovou-se na ordem dada pelo promotor; só porque estava nervosinho no trânsito. Ora, como ele acha que estão quem é violentado todos os dias pelos serviços públicos sucateados? É válido lembrar também que é o povo quem paga o salário gordo que garante a ele não precisar pegar o metro, o busão e suportar a violência cotidiana do transporte público e de todos os outros serviços públicos que são uma grande merda.

 Logo abaixo a nota do MPL sobre compas que continuam presos.

No ato contra o aumento da passagem realizado no dia 06/06, houve divulgação de que 15 pessoas foram detidas, dessas, 6 manifestantes foram presos e mantidos na 78ª Delegacia de Polícia. Quatro deles se encontram em liberdade desde sexta-feira pela manhã, mediante o pagamento de fiança, duas no valor de um salário mínimo e duas no valor de 3 mil reais. Parte deste valor foi pago pelas famílias e, em parte, por fundos do Movimento Passe Livre. Outros dois continuam detidos apesar do MPL e da Conlutas terem levantado o dinheiro necessário para a fiança.

Isso se deve a um conjunto de fatos. Primeiramente, ao chegarmos na 78ª DP para pagar as fianças, os mesmos já haviam sido transferidos, para a 2ªDP. Desta forma, tivemos que nos dirigir ao Fórum da Barra Funda, porém não pudemos pagar a fiança pois a documentação da delegacia ainda não havia chegado ao Fórum. Às 18 horas de sexta-feira os papéis finalmente chegaram, mas não havia mais tempo para que as fianças fossem pagas.

Na segunda-feira(10/06)faremos o pagamento da fiança para libertar os presos e os advogados de confiança do MPL irão acompanhar os respectivos processos.

Acreditamos, no entanto, que nenhum destes problemas foi casual: nem a transferência, nem a demora dos documentos, nem os valores das fianças. Todo esse conjunto de empecilhos tem como objetivo atrasar o processo, mantendo os companheiros por mais tempo na cadeia – algo que não pode ser deixado de lado em hipótese alguma. Além disso, contribui para a criminalização de quem luta por uma cidade de e para todas as pessoas.

O desserviço da mídia sobre a redução da maioridade penal.

O desserviço prestado pela mídia oficial é impressionante. A TV Tribuna, por exemplo, (retransmissora da Rede da Globo na Baixada Santista e Vale do Ribeira) quase todos os dias vêm apresentando matérias com jovens menores que cometeram algum delito na região, sempre num tom de absurdo e desagrado. Pra que isso? Qual o intuito? Uma coisa é noticiar um fato ocorrido, outra é a insistência num assunto cuja abordagem do mesmo faz um recorte social reforçando um olhar reducionista, exatamente em tempos de discussão da redução da maioridade penal.

Afinal, levantar a discussão da quantidade de jovens que foram assassinados na região em 2006 que segundo dados do Instituto Médico Legal (IML) foram possíveis constatar que 60% dos 493 corpos registrados no período receberam pelo menos um tiro na cabeça, e 57% dos cadáveres receberam pelo menos um disparo pelas costas(crimes de maio como ficou conhecido) Isso, não fazem! E por quê? Falta de interesse? Ou posição de classe tomada de maneira covarde. Fica à reflexão?

Sobre a redução da maioridade penal.

Primeiro: a questão da redução da maioridade penal é inconstitucional! No art. 60, §° 4, IV, da Constituição Federal, as chamadas “cláusulas pétreas”, que contém a seguinte redação: “não será objeto de deliberação proposta de emenda constitucional tendente a abolir: direitos e garantias individuais”. Na base desses direitos intransponíveis, conferiu-se trato especial à proteção da Criança e do Adolescente, principalmente no que diz respeito à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à dignidade etc. (art. 227, da C.F). Previu-se ainda, que os menores de 18 anos não são censuráveis penalmente, sujeitando-se à norma especial (art. 228, da C.F)

Segundo: dados (estudos da PUC) demonstram que a participação de menores em crimes, especialmente os praticados com violência contra a pessoa, são exceção, não a regra. No caso dos homicídios dolosos, os menores são responsáveis por apenas 1% dos crimes. No caso dos roubos, 1,5% e no caso dos latrocínios, 2,6%.

Terceiro: Uma análise mais aprofundada mostra que a violência não decorre de um instinto delinquente, mas pelo contrário, o ilícito penal – na sua grande maioria – decorre das deficiências sociais, caracterizadas por uma organização social de exclusão, que não garante a plena transformação do individuo.

Sobre a mídia oficial – nada a esperar. 

Há uma posição clara do serviço que prestam e a quem prestam. (apesar de terem ortoga – permissão pública). Portanto, é providencial fazer o contraponto diante de um sensacionalismo midiático vagabundo que clama, mais rigor no combate ao crime, ( hora de forma direta, hora indireta) mas, que em momento algum faz uma discussão transparente, honesta e no mínimo com responsabilidade social de produção de conteúdo, e o mais perigoso em tudo isso, é que toda essa informação disseminada de forma distorcida contribui para o fortalecimento de um Estado cada vez mais violento e policialesco.

Ter a consciência,

que vivemos tempos extremamente violentos, marcados pela dor, pela crueldade e pelo medo, isso é inegável, porém, por que tudo isso? Como resolver? Não é possível crer que tudo seja tratado como caso de polícia, caso de pena, vivemos um processo de judicialização da vida cotidiana, e por quê???

A maior violência está fundada dentro da organização social, na configuração desta estrutura, e neste sentido o crime é apenas uma das consequências de uma sociedade fundada na exploração, que não garante direitos fundamentais, logo, endurecer as penas é manter a cortina de fumaça para esconder o real problema.

Quem deve responder por crime é a mídia oficial que omite e deturpa informação.

Desrespeito policial à juventude periférica de São Vicente

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Domingo, 05 de maio de 2013. O que está ocorrendo por trás deste quiosque localizado na praia da biquinha em São Vicente SP, é algo que tem ocorrido frequentemente na cidade, principalmente aos fins de semana e feriados. ( e não é um fato isolado)

“Desrespeito policial à juventude periférica de São Vicente “.  

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A foto não mostra claramente, mas há em torno de seis jovens que foram abordados na ciclovia e levados para trás do quiosque, talvez para que não ficassem à vista das pessoas que passavam pelo calçadão e vissem o “esculacho”, sendo que este tipo de atitude policial além de inadmissível, demonstra  a tática do terror que é empregada contra jovens da periferia com finalidade de bani-los de áreas públicas de lazer, pois, após serem abordados, os jovens  ficaram por um tempo sendo “investigados” e logo após toda a revista, ao contrário de serem liberados, ficaram no local aguardando, enquanto os policiais ficaram indo e vindo de um lado para outro, criando toda uma situação tempestuosa inexistente, até que por fim, num tempo de doze minutos e trinta e um segundos (cronometrado por este vos escreve) foram liberados e obrigados a retornar no sentido contrário que vinham pela ciclovia.

Pra quê? E por que tudo isso? Exagero deste que escreve? Não!

É importante evidenciar que em tempos estritamente penais, a naturalização destes atos policiais é extremamente assustadora e perigosa, por isso, de forma alguma pode ser encarada como sinônimo de segurança, ainda mais quando essas ações trazem incutidas o recorte de classe que persegue jovens pretos, favelados, pobres e periféricos.

Dados do Ministério da Saúde  revelam que o homicídio é a principal causa da morte entre jovens de 15 a 29 anos, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos, e que 53,3% das 49,9 mil vítimas de homicídios em 2010 no Brasil  eram jovens, dos quais 76,6% pretos e pardos e 91,3% do sexo masculino.

A relevância destes dados tem que romper a barreira do silêncio social, pois é numa ação descabida como essa promovida pela policia que se inicia o processo de higienização que a luz do dia esculacha e na calada na noite mata.

OBS: As fotos estão distantes porque foram tiradas de celular e não havia condições de aproximação.

21 de abril a 01 de maio é o dia Internacional da Juventude Trabalhadora. E a realidade continua alarmante!

A realidade que a juventude trabalhadora tem enfrentado tem sido cada vez mais alarmante. Atirada ao mercado de trabalho desde cedo para contribuir com a renda familiar, muitos jovens tem que deixar de estudar e se dedicar a empregos de péssima qualidade. Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) “Os jovens são os que estão sofrendo mais com a precariedade do trabalho” . Como média regional, 47,7% da população ocupada na América Latina no setor não-agrícola tem um emprego informal, embora trabalhe em empresas constituídas formalmente, segundo dados do final do ano de 2012.

No Brasil esse número chegou a 38,4%. No México, a segunda economia regional, o emprego informal atinge 54,2% da população. Entre os menos avançados, a taxa de emprego informal em Honduras foi de 70,7% e no Paraguai de 65,8%. Os dados da OIT indicam que, desse 47,7% de trabalho informal, dois terços correspondem ao setor informal da economia e, dentro desse setor, 41% são trabalhadores por conta própria. Mas, dentro dos trabalhadores informais, um de cada quatro trabalha em empresas formais.

Com isso:

Serviços terceirizados, call center, part time e estágios têm criado formas veladas de se precarizar e burlar ainda mais os direitos trabalhistas. E como se não pudesse piorar, incapazes de garantir um trabalho realmente digno, Governantes têm instituídos por meio de projetos sociais, empregos que nada diferem, ou simplesmente, reforçam estes citados, resultado: um processo colossal de exploração sistêmica que esmaga ainda mais a juventude trabalhadora que hoje vive a dura realidade de ser a mão de obra barata de um mercado que dita as regras e sucateia vidas e sonhos.

Há muito para se falar sobre essa questão e como entre 21 de abril e 01 de maio é o dia Internacional da Juventude Trabalhadora, na sequência uma entrevista (que elucida muito bem essa discussão) com uma jovem trabalhadora que presta serviço num navio de cruzeiros marítimos qual foi inserida neste emprego por meio de um projeto social da Prefeitura de São Vicente em que foram gastos um milhão e meio anuais para resolver parcialmente o problema de desemprego  na cidade, e cabe a pergunta e reflexão após lerem a entrevista: Todo esse dinheiro empregado muda a realidade desta juventude? Tem contribuído para quem realmente? Pois partindo da cidade de São Vicente, o problema continua, então, precisamos nos questionar em para onde estão mandando nossa juventude? Quais condições? E este montante de dinheiro público, não poderia ser melhor utilizado, criando formas em que a região se auto gestionasse?

OBS: Não revelaremos o nome desta jovem, utilizaremos: Juventude trabalhadora, até porque seu relato representa a história de muitos outros jovens trabalhadores.

E viva a juventude trabalhadora!

Entrevista:

Rádio da Juventude: Como foi viajar e conhecer outros lugares? Valeu a pena?

Juventude trabalhadora: Apesar do pouco tempo que temos pra descer e conhecer os lugares, é uma experiência que vale muito a pena, quando a gente para pra pensar que dificilmente poderia estar conhecendo aqueles lugares trabalhando aqui em terra, sabemos que não estamos ali pra fazer turismo, mas sempre dá pra fugir um pouquinho e conhecer alguns pontos turísticos, conhecer os moradores e aproveitar o intercambio cultural.

Rádio da Juventude: O que você fazia? Sua função?

Juventude trabalhadora: Eu era Cleaner. (pessoa que limpa áreas públicas) Limpava áreas por onde circulava os passageiros, como bares, banheiros. Depois de alguns meses também trabalhei dentro de cabines limpando os banheiros.

Rádio da Juventude: Deu pra conhecer muita gente?

Juventude trabalhadora: Nossa! Muita gente. Tanto passageiros como tripulantes, em grande parte nossos maiores sofrimentos, porque sempre nos apegamos às pessoas e depois você vê seus amigos desembarcando e você ficando.

Rádio da Juventude: Como é formada a equipe? É só brasileiro?

Juventude trabalhadora: Não. Na maioria as equipes são mistas, mas existem algumas funções que eles dão prioridade de nacionalidades, por exemplo, os bombeiros na sua maioria são de Samoa, os seguranças são de Israel, a grande maioria da manutenção é da Sérvia, Montenegro e Croácia.  Em relação aos brasileiros, nós estamos em várias funções, inclusive como oficiais, mas muito mais por conta da legislação brasileira que exige no mínimo 30% da tripulação seja brasileira.

Rádio da Juventude: O que é Oficial?

Juventude trabalhadora: Oficiais são os chefes de todos os setores e são vários oficiais e hierarquias, existem oficiais que obrigatoriamente tem de serem formados na marinha de seu país, e tem alguns que sobem de cargo, por exemplo, uma pessoa começa como Cleaner, depois se torna camareiro (que limpa cabines) e depois promovido a Assist Chief housekeeping, e assim por diante, a partir do momento que ele se torna Assist de chefe ele já é um oficial.

Rádio da Juventude: E toda essa equipe que presta serviço é de empresas prestadoras de serviço?

Juventude trabalhadora: Não. Todo mundo é contratado diretamente pela MSC. O que acontece é que no Brasil existem agências que fazem esse contato entre o tripulante e a MSC, mas o contrato é assinado com a própria empresa.

Rádio da Juventude: O que é MSC?

Juventude trabalhadora: Mediterranean Ship Company

Rádio da Juventude: Qual a diferença?

Juventude trabalhadora: MSC é a empresa gestora do navio, é a empresa que tem cruzeiros marítimos de luxo e também possui navios de carga, mas são setores bem diferentes, na verdade é como se fossem duas empresas distintas, as agencias são empresas que treinam e fazem o contato dos tripulantes com as empresas de navio, não só a MSC, também tem Royal, Costa, Puma tour e mais outras.

Rádio da Juventude: E onde entra a Prefeitura nisso?

Juventude trabalhadora: Dá o curso apenas?

Rádio da Juventude: Entendi.

Juventude trabalhadora: Então, a prefeitura aceitou o projeto de  um empresário, que tem uma dessas agencias recrutadoras, ele é de São Vicente e passou dez anos embarcado, pois, mesmo com tanta vaga de emprego, é difícil achar pessoas capacitadas pra embarcar, então ele fez um projeto para que a Prefeitura contratasse a empresa pra recrutar esses jovens… Todos os profissionais envolvidos no projeto são contratados da empresa e a Prefeitura fornece material didático e uniforme também.

Rádio da Juventude: Alguma ajuda de custo durante o curso, em média quanto tempo de curso? E o que aprendem?

Juventude trabalhadora: Nenhuma ajuda de custo. O curso durava seis meses na minha época, agora não sei, lá tínhamos aulas de camareira, bartender, hospedagem e garçom, também tínhamos acompanhamento com uma psicóloga e aulas de inglês semanais.

Rádio da Juventude: Tem faixa etária para participar?

Juventude trabalhadora: Ah! E até onde eu sei, eles incluíram mais alguns cursos e também aulas de italiano. Na minha época era de 18 a 29 anos, isso também é interessante de falar, no Brasil as agencias sempre pedem pessoas de 18 a 35 anos mais ou menos, mas lá dentro sempre encontramos pessoas mais velhas, na maioria de outros países.

Rádio da Juventude: Irregulares? Ou depende de país para país?

Juventude trabalhadora: Então, não sei, mas não creio que estavam irregulares, acho que deve ser pedido da própria MSC, eles já tem muito preconceito com brasileiros por dizer que somos preguiçosos. Devem achar que pessoas mais velhas não aguentam trabalhar

Radio da Juventude: Quantas horas de trabalho? Como funcionam as folgas?

Juventude trabalhadora: Isso é um pouco mais complicado… Tem várias funções e cada função é uma escala diferente, eu trabalhava 11 horas com intervalo de uma hora pra almoço. No restaurante e no bar as pessoas trabalham por escala rotativa, normalmente com total de 12 horas também… E as camareiras já são diferentes, elas têm quantidades de cabines pra arrumar, e devem fazer isso duas vezes por dia, normalmente temos 25 cabines pra arrumar e gastamos de cinco a dez minutos em cada uma… E folgas não existem, você trabalha todos os dias do seu contrato, salvo quando você está doente, ou seu chefe dê umas horinhas a mais pra você descansar, no meu caso, trabalhava 12 horas e folgava 12.

Rádio da Juventude: Quanto tempo você ficou?

Juventude trabalhadora: Oito meses e 28 dias.

Rádio da Juventude: Sem folga?

Juventude trabalhadora: Eu fiquei doente por dois dias. Foi quando fiquei de folga. E teve uma vez que eles liberaram umas horinhas, foi quando vim visitar minha família em Santos.

Radio da Juventude: Desconta-se do salário?

Juventude trabalhadora: Não.

Radio da Juventude: Você está desembarcada agora? Pretende voltar, como vai ser?

Juventude trabalhadora: Vou sim, o mais rápido possível. (risos) Já estou sem dinheiro, então… Só que toda vez que vamos reembarcar pagamos uma taxa pra agencia, pra contatar a MSC e pedir o retorno.

Radio da Juventude: Pagar pra voltar a trabalhar? E quanto custo isso?

Juventude trabalhadora: Fazer o quê? E o custo depende da agencia, a que eu achei mais barata… R$ 500,00… Agora, quando você embarca pela primeira vez o gasto é bem maior… Só o curso que não pagamos pelo projeto, mas caso eu tivesse feito pela agencia, é em média: R$ 1500,00 a R$ 2000,00…  Mais passaporte e curso de sobrevivência no mar. Acaba que tudo sai por volta de R$ 3500,00, e eu acabei gastando R$ 1500,00, mas o que acaba valendo a pela é porque dá pra recuperar isso em um mês e meio de salário.

Rádio da Juventude: É descontado algo de alimentação, dormitório ou banho?

Juventude trabalhadora: Não. A gente só paga por bebidas que compramos no bar ou coisas que compramos no navio.

Rádio da Juventude: Esses meses em que você não está embarcada, você não ganha nada?

Juventude trabalhadora: Não. Meu contrato acabou. Eu só vou receber quando assinar outro contrato. Aí tenho que embarcar.

Rádio da Juventude: Há chances de perder contrato e não conseguir voltar?

Juventude trabalhadora: Muito difícil, eles sempre dão prioridades de embarcar quem já tem alguma experiência a bordo. E quando acaba seu contrato a agencia vai enviar uma nota do seu desempenho, caso seja positivo você pode embarcar novamente, mas eles só não aceitam caso você tenha roubado algo, brigado, usado droga…

Rádio da Juventude: Questão de salubridade, de atendimento médico pra vocês, como é? Tem pronto socorro?

Juventude trabalhadora: Tem pronto socorro sim, mas o atendimento é péssimo! Normalmente nós somos muito destratados pelos médicos e enfermeiros, sempre acham que a gente tá enrolando pra não trabalhar, sem contar que os médicos na sua maioria são croatas e a medicina deles é bem diferente, tem uns tratamentos estranhos, nossa sorte é que sempre colocavam alguma enfermeira brasileira, que acabava ajudando mais a gente…

Rádio da Juventude: Como assim?

Juventude trabalhadora: Então na cozinha sempre tem acidente com queimadura, essas coisas… E a enfermeira sempre dizia que eles não faziam os procedimentos como no Brasil, parece que usam uma medicina mais antiga.

Rádio da Juventude: Sobre os outros jovens de outros países, como era a relação, o porquê deles estarem ali? É o desemprego, a vontade de viajar, o que você percebeu de semelhança com os brasileiros?

Juventude trabalhadora: São bem diferentes dos brasileiros em relação às posturas, os da Indonésia, Madagáscar e Indianos são muito submissos, mas quase todos me diziam que a moeda em seu país é muito desvalorizada em relação ao dólar, então o que ganhavam ali em um contrato já construíam uma casa e grande, podiam viver bem, sabe outra coisa, eles parecem se mais focados em juntar dinheiro, quase não saem e quando saem gastam pouquíssimo, enquanto a gente quer se divertir, não poupa tanto… Acho que os brasileiros apesar do trabalho todo… Tenta ver aquilo como diversão… Desculpa… Esqueci a pergunta inicial.

Rádio da Juventude: Tranquilo. Vamos seguir. O que levou você a ser uma tripulante?

Juventude trabalhadora: No inicio a ideia de conhecer vários lugares, e ganhar uma grana com isso né… Eu tenho muitos amigos que já haviam ido antes de mim e sempre falavam como era, na verdade as pessoas me assustavam muito, mais do que é na realidade. Diziam que eu não ia conseguir tomar banho, nem comer direito de tão ruim que era a comida, e uma coisa eu percebi (pausa) – a gente se adapta – estava me sentindo sozinha aqui, a maioria dos amigos namorando, trabalhando e fazendo faculdade. E eu ainda parada, então, me joguei…

Rádio da Juventude: Acho que esse é um ponto interessante na vida de todo jovem, ainda mais trabalhador, chega um momento que há umas cobranças de onde ir, “interna mesmo” e as opções são poucas. Teve uma menina que se matou né? O estresse deve ser grande, a solidão de estar distante. Rola isso?

Juventude trabalhadora: Sim. (pausa) Olha… Quando voltei, achei que as coisas aqui seriam diferentes, que arrumaria um emprego rápido, que conseguiria pelo menos começar a estudar… E não foi bem assim… Quando cheguei às pessoas estavam vivendo suas vidas… Você tem a impressão que vai ter aquela festa, todo mundo querendo te ver, e não… As pessoas ficam felizes porque você voltou e pronto. Acho que em relação às pessoas que piram ali dentro, acontece mesmo. Eu tive uns surtos quando cheguei à exaustão, vontade de gritar, chorar… Mas depois passa… Quando teu trabalho acaba, tu vai até a proa do navio e olha o por do sol… E tudo te acalma, parece bobo, mas é uma sensação indescritível, então tem coisas que a gente aprende a relevar, aprende que pode gritar com o chefe, aprende a lidar com tudo e as máfias ali dentro… E eu ando me decepcionando tanto aqui em terra, com as pessoas, com os sonhos que eu tinha, com os trabalhos… Como eu falei pra minha mãe, se é pra chorar, ficar cansada, que seja chegando cada dia em uma cidade e terminando o dia com aquele por do sol em alto mar. Olha, vou te dizer: vida a bordo não é pra qualquer um!  Não é um lugar pra depositar os jovens, não mesmo, porque se na sua cidade não tem emprego, você tem que ir porque você precisa… Ama viajar, porque apesar do cansaço você quer viver tudo aquilo, senão acontece o que aconteceu com esse povo, surtou ali dentro e acabou tirando a própria vida.

Rádio da Juventude: Este é um dos maiores motivos que incomoda “depósito”, porque vivemos uma realidade quase sem alternativa.

Juventude trabalhadora: Acho que essa é a avaliação que a gente tem que fazer, é que ali não é pra ser deposito, tem que ser opção, se a pessoa quiser viver aquilo é uma coisa, mas tem que ter a opção de não querer. Infelizmente tem gente ali dentro desesperada porque precisa sustentar a família… Precisa viver né? E isso não é deixado tão claramente no curso, e também diante das condições… Qual é a alternativa?

Rádio da Juventude: Sim. Queria apenas perguntar uma coisa para finalizar, há assédio em relação às mulheres lá por parte dos viajantes? E se algo que não perguntei e que você queira falar fique à vontade.

Juventude trabalhadora: Há assédio sim, e muito! Tanto de passageiros como de oficiais, na verdade, há assédio por parte de todo mundo, de homem com mulher e de mulher com homem, mas assim, é só você cortar, os seguranças ajudam muito nesses momentos. Eu tive um chefe que me pediu em namoro, eu disse que não e ele continuou me cercando, insinuando que minha vida podia ser mais fácil ali dentro, mas eu fui séria e disse que não era aquilo que estava interessada. Mas é isso, rola muitas propostas de facilitação da vida em troca de sexo. Aí vai de você, aceita se quiser entendeu?

Rádio da Juventude: E não tem nem como denunciar? Com tanto assédio, há perigo de forçar alguma mulher, estupro mesmo sabe?

Juventude trabalhadora: Complicado. Vive todo mundo junto e a gente até prefere evitar confusão, mas caso passe dos limites e esteja atrapalhando sua vida ali dentro, aí você ameaça denunciar e eles param.

Rádio da Juventude: Obrigado.

Juventude trabalhadora: Beleza. Depois me manda.

                                                                 

                                                                A Juventude vale mais que todo ouro do mundo!                                                                   

                            Padre Joseph Cardijn – Fundador da JOC (Juventude Operária Católica)

Domingão na Constituição! A Rádio da Juventude é toda Feminista!

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Semana da Mulher – Dia 10 de março 13h  Tod@s estão convidad@s!!!

O que irá rolar?

-Comes  (opções vegetarianas) e bebes

-Música – com artistas da região!!!

-Teatro de rua – ocupando geral!

-Microfone aberto para todos que quiserem expressar opinião

-Poesia – Pra aliviar e instigar a alma

-Venda de livros – Desligue a TV e leia um livro –

-Intervenções radiofônicas com a Rádio da Juventude – ocupando e questionando! Por uma Comunicação Livre e Popular!!

Com a  participação do Coletivo Feminista Pagu e da Biblioteca Carlo Aldegheri

Local: Casa da Juventude Operária Católica – JOC – Rua da Constituição 331, (próximo da rua 7 de setembro) – Santos

Solicitamos apenas a contribuição voluntária e solidária com 1k de alimento não perecível que será destinado à aldeia indígena de Paranapuã em São Vicente, (Parque Xixová – reserva ecológica) comunidade esta, que vem sofrendo vários embargos do Poder Público.

É isso aí!  Pão, Tesão e Anarquia pra tod@s!!! Nos veremos lá. 

Subindo a serra e fortalecendo o poder popular!

Neste fim de semana que marca a nossa volta (finalmente!) às transmissões de sábado, depois de umas semanas de muito trabalho de organização, a Rádio da Juventude também estará presente na Grande São Paulo, pra duas atividades, sábado e domingo. Assim, ajustando nossos calendários e nossas geografias com nossas e nossos compas, procuramos estar juntas e juntos em todas as quebradas, fortalecendo com quem realmente tá comprometido com o poder popular.

A atividade de sábado é a Inauguração do Espaço Povo Forte, em Suzano. Como tá escrito no evento do facebook, o lugar é um espaço é libertário, anticapitalista, político e cultural, totalmente independente, apartidário e autônomo. Estaremos lá a convite dos compas do Ktarse, que desde o ano passado tão com a gente na luta. Além dos vários coletivos presentes, também vai colar o Eduardo, do Facção Central, que vai trocar uma ideia sobre o livro dele. Segue aí o cartaz, só clicar que ele abre:

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O segundo evento, no domingo, é o “Odeia a mídia? Seja a mídia!”, na Casa de Cultura Marginal, em Sampa (Rua Silva Bueno, 1257, no Ipiranga – num sobradão em cima de uma igreja evangélica!). A entrada é 5 reais, e lá vai rolar o seguinte:
* Bate-papo com a Rádio da Juventude e oficina de rádio livre;
* Bate-papo com Frequência daMata;
* Palestra com Claudia da Rádio Heliópolis

+ Apresentação dos grupos Liberdade e Revolução e FRN (Rap), e Infernal Noise (Grindcore)

+ Venda de rango vegan

Todas e todos estão convidados a colar junto nessas duas atividades. Só com a união entre os movimentos e coletivos, sem sectarismos nem vanguardismos, construindo espaços e iniciativas concretas, conseguimos acumular forças pra derrotar nossos inimigos.

Bora então?

O esculacho nosso de cada dia: Jovem voltando de uma entrevista de emprego leva geral da polícia

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A quantidade de policiais por metro quadrado na cidade de São Paulo é sinal de segurança ou de puro controle social?

Oras, quem vive em São Paulo já deve ter notado a quantidade de policias que estão pelas ruas garantido a segurança da população, principalmente no centro. Interessante salientar que algumas bases policiais instaladas são bem estratégicas, na Av Paulista por exemplo, frente ao Museu de Arte Moderna (MASP) onde sempre ocorre  diversas manifestações, (que inclusive a policia marca presença pra reprimir) tem lá uma base em atenção.

Foto-0183Curioso né? Pois bem, no dia 4 de janeiro a Rádio da Juventude esteve participando do Ato em Solidariedade aos Presos Mapuches no Chile que ocorreu exatamente no Masp, (vide matéria sobre no link) e infelizmente presenciou um jovem sendo esculachado pela PM em plena luz do dia ( por volta das 14h).

Segue o bate papo rápido que fizemos com o rapaz e tirem as conclusões de como a onda de violência direcionada à juventude não para. Sendo que, importante refletirmos sobre toda essa militarização das cidades, por que isso? Copa? Olimpíada? Será uma espécie de domesticação da população para tempos obscuros que virão? (continuaremos com esse assunto)

Bate papo:

Foto-0209Rádio da Juventude: E aí cara o que houve ali com a Polícia? Pareceram bem agressivos com você?

Jovem: Tranquilo é assim mesmo… só geral

Rádio da Juventude: Tranquilo como? Desculpa te encher, mas, a forma como te trataram não é legal não.

Jovem: To ligado, mas eles queriam saber se tava passando algo, ou ia fumar… eu tava lá de boa acabei de vim de uma entrevista e só tava dando um tempo, mas ali é osso, cola muita molecada pra fumar, aí tem uns nóia, tá ligado?

Foto-0208Rádio da Juventude: Sei… Quantos anos você tem?

Jovem: Vinte

Rádio da Juventude: Tu é daqui de SP?

Jovem: Sou lá do Boa Vista

Rádio da Juventude: Eles mexeram na tua bolsa né?

Jovem: É cara, mas, eles não tão nem aí, vê só quantos “homi” tem na rua, ficar dando mole, eles pensam mal de você e já querem te enquadrar e levar pro esculacho, é normal, fazer o quê? To acostumado…

Rádio da Juventude: Entendi, é que pra mim isso é maior violência, eu vi eles sacudindo sua bolsa, te revistando, isso não é certo não, tá ligado, não quero te encher, mas sou de uma rádio lá da Baixada Santista e queria divulgar isso, eu tirei fotos do que aconteceu.

Jovem: Tranquilo cara, mas não quero que apareça meu nome não, beleza?

Rádio da Juventude:Tranquilo, escuta tinha um cara lá que eu vi que desceu pelo vão, o que foi aquilo?

Jovem: Então, ali perto de onde eu tava sentado, tinha um cara deitado, acho que mendigo, aí quando os homi veio, mandaram já o cara descer pelo vão, dizendo: “aí some daqui, vai desce por aí mesmo de onde tu saiu”. É assim mesmo…

Rádio da Juventude: Assim mesmo como?

Jovem: A geral cara…. policial é assim… e aqui no centro é foda! os cara tão sempre aí querendo enquadrar, mostrar serviço, aí, ali no Masp nem cola de ficar, porque já ficam de olho…

Rádio da Juventude: Mas o espaço ali é público não é? E tinha outro pessoal também e não fizeram isso?

Jovem: É que eu tava mais afastado, os homi já acham que tá na escama, mas é assim, na cidade é eles quem mandam e não dá pra fazer nada, é foda! Mas é isso aí…To acostumado, nem ligo mais..

Rádio da Juventude: Beleza cara, valeu! vai na paz!

Jovem: “Só”.

OBS: A naturalização de acontecimentos como este não podem ser tidos como naturais, ( ainda mais porque não são isolados, tem se tornado frequentes e propositalmente direcionados) mesmo que a juventude não perceba isso, afinal, ir atrás de um trampo e no caminho para casa ser humilhado, é muita violência e retira as esperanças de qualquer um. Precisamos subverter essa lógica!

Carnaval em São Vicente: Uma ditadura particular

Foto-1587Neste domingo dia 10 de fevereiro, foliões vicentinos compareceram em massa no maior bloco de carnaval da cidade, o Ba-baianas. E também como prometido pela Prefeitura da cidade, a Força Tarefa marcou sua presença para coibir que o bloco saísse do bairro e passasse pelas vias do centro indo até a praia. Quem esteve presente pode conferir uma verdadeira operação de guerra que remetia ao regime ditatorial. (se é que não foi uma ditadura particular)

Foto-1565Foi por volta das 11h que o bloco das Ba-baianas saiu em direção oposta à de costume, circulou pelo bairro de forma contida, mas provocante, iniciou com um grito de guerra que mandava o Prefeito ir chupar. Porém, o som do trio elétrico estava baixo e como havia apenas um este ano, as pessoas que vinham acompanhando o trio numa distância maior de 60 metros, simplesmente não conseguiam ouvir nada.

Foto-1634Num passeio de uma hora e meia o bloco retornou ao seu ponto de partida e a pedido de Oficiais da Polícia Militar (PM), que de forma “delicada” disseram aos organizadores que era para acabar a festa ali, e deste modo, evitar problemas.

Pois é, como já diz o ditado “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, lá se foi o carnaval de rua, deu para brincar um pouco, beber um pouco, xingar um pouco e se irritar muito! Pois, foi vergonhosa a forma como a população foi tratada num dos únicos momentos em que ela pode sair à forra e se divertir, depois durante o percorrer do ano,  enfrentar um CREI sucateado, uma Educação sucateada e toda uma cidade entregue aos vermes do Estado, que fizeram palanque, que fizeram uma São Vicente entregue ao descaso.

Foto-1569Vamos economizar as palavras, silêncio! Eles pedem com os cães para ficarmos em silêncio.

Está difícil de viver numa Baixada Santista policiada

Policia fazendo ronda

A ronda que não respeita calçada, praça, semáforo… Muito menos a população pobre.

Como já noticiado aqui no blog, é só chegar alguma data festiva que culmine num feriado prolongado que o efetivo policial na Baixada Santista aumenta espantosamente. Comandos pelas vias principais da cidade, batidas na ciclovia, helicóptero circulando pela areia da praia, motos cruzando praças e calçadas, é isso, a operação de guerra está armada num perverso recorte de classe.

Morador de rua convidado a circular

Morador de rua convidado a circular

É nestes dias que a higienização social acentua-se duramente, afinal, a Senzala não pode ir à Casa Grande sem ser convidada, ela existe apenas para servir e ser a mão de obra que garante a riqueza do sinhozinho e da sinhazinha, enquanto os jagunços mantém a ordem e a segurança.

Ontem dia 02 de fevereiro de 2013 a orla da praia de São Vicente parecia um desfile de sete de setembro, porque a quantidade de militares circulando era espantosa, uma verdadeira ação tarefa mobilizando a PM, a Rota, a Guarda Municipal e a CET. Será que isso garante segurança ou é só para provocar terror?

As duas coisas, segurança para turista e terror para a população pobre, quem não concordar, que fique à vontade para avaliar na prática, basta ficar alguns minutos observando as ações policiais que irá constatar em como a polícia é despreparada, e em suas ações realmente seguem uma cartilha igual aquela nota que o Comando da PM de Campinas apresentou, ” abordar  especialmente indivíduos de cor parda e negra entre 18 e 25 os quais estão sempre em grupo de 3 a 5.

Foto-1522

Policial enquadrando ciclista na ciclovia

Infelizmente o celular que estava sendo utilizado acabou a bateria e há poucas fotos ( mas, dá para ter uma ideia), senão iríamos fundamentar por meio da imagem, uma situação que ocorreu na Praia da Biquinha neste dia 2 de fevereiro em que um grupo de jovens que estavam sentados num banco do calçadão foi abordado por um bando de policiais armados que simplesmente desceram o esculacho em plena luz do dia.

Sendo que um destes jovens tinha 12 anos e ficou o tempo todo sofrendo o assédio dos policiais que o interrogavam perguntando “onde tá o bagulho”. Com a movimentação das pessoas que por ali passavam e queriam entender o que estava ocorrendo os jovens foram convidados a ‘circular” ( jargão da polícia) fomos atrás do garoto de 12 anos, e ele relatou à Rádio da Juventude que um dos policiais disse que não queria vê-lo mais por ali, porque ali não era o lugar dele. Ué, qual o lugar dele então? Ele estava num espaço público. (válido lembrar que esse garoto estava somente de bermuda, quer dizer, qual o perigo que os policiais identificaram  neste menino? Enfim, ele era preto, talvez essa fosse a temeridade)

Policial enquadrando ciclista.

Policial enquadrando ciclista.

Esta é a realidade que explode para essa juventude da periferia e quanto mais adjetivos essa sociedade lhe empurra, em piores condições ela se encontra, ou seja, ser preto, favelado, funkeiro, pobre… Mais perseguido será, pois esses esteriótipos sustentados, infelizmente, para a maioria das pessoas são sinônimos de bandido, ladrão e mau caráter. Não é à toa, que mesmo quando algumas pessoas que passaram e se indignaram com a situação, comentaram: “ah! vai procurar bandido na favela”, enquanto o correto seria: vai procurar bandido em Brasília, é lá que está!

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Mais uma abordagem truculenta da Polícia Militar em São Vicente

 

Juventude e o mundo do trabalho que explora

Rapaz

Rapaz vendendo cartões solidários

 (Vistos como mão de obra barata pelo mercado capitalista, o que também contribui para empurrá-los à informalidade, essa é a realidade dos jovens trabalhadores)

A inserção da juventude no mercado de trabalho sempre foi um problema social protelado. Segundo dados de julho de 2012 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) o índice de desemprego entre os jovens é maior do que no caso dos adultos. No Brasil após a crise dos EUA de 2009, (que exportou problemas para o mundo inteiro) apesar da economia ter se mantido aparentemente instável, o problema da escassez de emprego continuou sendo um problema sério que há anos assombra boa parte da classe trabalhadora, principalmente os jovens.

O relatório da OIT apresentou que houve mudanças significativas no que diz respeito ao trabalho decente, apesar de não haver explicações neste relatório do que a OIT entende por trabalho decente.

Em 2005 foi criado o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) que em seu site ressalta que em sete anos de existência (quase oito) importantes conquistas foram obtidas por meio de diálogo entre sociedade civil e o Governo, garantindo assim diretrizes de uma política nacional de juventude. Porém, a maior parte destas conquistas se traduzem em projetos sociais que ao passar dos anos pouco se efetivaram em mecanismos de proteção e de garantias sociais concretas. O que tem revelado de fato, é que esses projetos não mudam a realidade radical das condições de vida da juventude trabalhadora. Na verdade, mascaram com soluções paliativas. (isso sem levar em discussão quem administra, ou promove esses projetos que nem sempre são órgãos públicos)

Resultado: cada nova geração enfrenta os mesmos problemas da geração anterior como: desemprego, educação precária, saúde péssima, falta de espaços de lazer,  de acesso à informação e de acesso à cultura, além de uma infinidades de outras coisas. Ou seja, total falta de perspectiva de uma vida digna, onde cada jovem possa viver segundo suas aspirações e encontre o sentido mais profundo de suas vidas. ( se é, que isso seja possível dentro dessa organização social)

Neoliberalismo 

O avanço de uma política neoliberal, que atualmente atende pelo nome de “desenvolvimento econômico sustentável”,  qual à esquerda que ascendeu ao poder brada cheia de imponência, intensificou ainda mais o processo de desmantelamento dos direitos trabalhistas da classe trabalhadora, formatos de contratos de trabalhos temporários como os serviços de Call Center, Part time e todas as terceirizações e quarterizações absorveram para este mercado principalmente os jovens, e sem nenhuma fiscalização ou lei que regulamente e crie mecanismos de proteção, a verdade é que essa configuração trabalhista deixou a juventude muito mais vulnerável. Desta forma, de um lado é tentar se inserir dentro de um projeto social durante algum tempo, porque os projetos têm exigência de faixa etária e também possuem um tempo para existirem, ou, de outro lado encarar o mundo da informalidade e do subemprego, cujos formatos citados, hoje são os que mais empregam, com isso também os que mais exploram.

E dentro desta precariedade, como se não pudesse piorar, há de se ressaltar as entidades (pilantrópicas) que contratam jovens para pintarem o nariz de palhaço e venderem cartões solidários pelas ruas, e esses jovens apenas recebem um percentual daquilo que vendem (que não é muito), após receberem treinamentos de técnicas de venda com base na solidariedade, pois, estarão prestando um trabalho lindo para a sociedade. (insano, sem contar a venda do sonho de artistas, que é mais uma das coisas vendidas para a juventude)

Diante de tudo isso, cabe à reflexão que, a juventude precisa se organizar, criar contra-posição e construir novos códigos sociais. Toda essa realidade que esmaga como um rolo compressor, tem que ser demolida. Talvez este seja o grande desafio num tempo que passa depressa –  leva nossos sonhos  –  e num acordar de dias iguais, onde o trabalho deixa de ter significado, perdemos as esperanças. Porém, lutar, criar, poder popular sempre!

A juventude trabalhadora somos todos nós!

Mães de Maio lançam livro na Rádio da Juventude (ouça o programa!)

A periferia de São Vicente foi a primeira região na Baixada Santista a receber o lançamento do novo livro das Mães de Maio, chamado “Mães de Maio, Mães do Cárcere – A Periferia Grita”.

Nós da Rádio da Juventude tivemos a satisfação de falar em primeira mão sobre o livro, lançado em Sampa três dias antes, e que é mais um esforço do Movimento em dar visibilidade aos crimes cometidos pelo Estado brasileiro (principalmente o de São Paulo), a partir de 2006. Neste sábado, dia 08 de dezembro, o programa Vozes do Gueto recebeu a coordenadora do movimento, Débora Maria da Silva, e o poeta Armando Santos, onde conversamos por mais de duas horas.

Parceiras e referência de luta para nós, as Mães de Maio já tinham passado pela Rádio da Juventude neste ano. Agora, voltaram em transmissão que rolou ao vivo só para os moradores da região da Vila Margarida, periferia de São Vicente. O livro, inclusive, além da palavra de vários parceiros, traz nosso manifesto: “A luta por mudanças se faz além das urnas”.

CLIQUE AQUI E OUÇA O PROGRAMA NA ÍNTEGRA

Transcrevemos aqui algumas falas dos convidados:

Armando

“Não adianta trocar secretário (…) Tem que mudar o sistema de segurança pública (…) E tem que desmilitarizar mesmo!”

Débora:

“Eu paguei a bala que matou meu filho. (…) Essa bala que matou meu filho teve uma direção certa: o pobre, o negro, o periférico.”

“Em 2006 trocaram o comando, todo o aparato corruptor, mas só pra inglês ver. Porque a política continua a mesma, talvez pior.”

“[o atual secretário de Segurança Pública de SP] Grella foi um dos procuradores com quem tivemos conversando, e ele foi um dos que se exaltou quando eu falei que era necessário a federalização dos crimes, e ele rapidamente mandou o Ministério Público fazer uma investigação interna para poder blindar o pedido de federalização que nós fizemos em 2010.”

“Que se faça a desmilitarização, porque a gente não precisa de duas polícias: uma polícia que mata e uma que não investiga”

“A mídia, por trás dela, vive o capitalismo”

“A gente não precisa de mais partido. A gente precisa de mais vergonha na cara por parte deles!”


O machismo na loja de brinquedos

A mulher, há tempos, é relegada ao papel de mero coadjuvante nas sociedades. Jessita Rodrigues, em seu livro “A mulher operária: um estudo sobre tecelãs”, já dizia do papel subalterno a que as mulheres são relegadas em todas as classes sociais, pois às operárias ensina-se o cuidar da casa e filhos. Quando esta operária sai de casa de casa para trabalhar irá cuidar dos filhos e marido da madame. E a madame que, de posse de recursos, não precisa trabalhar, também estará relegada ao papel doméstico, não como executora das tarefas em si, mas como uma administradora dessas tarefas realizadas por sua empregada.

A simbologia do que se espera da mulher é de fácil assimilação. É inculcada na cabeça dela desde a sua primeira infância quando se presenteia a criança com bonecas. A mais tradicional é a boneca bebê – responsabilidade de ser mãe que já é ensinada aos 3, aos 5 anos de idade! E a mais moderna, o modelo Barbie, longe de ser um “modelo de mulher bem-sucedida” está mais próximo de um modelo que, sem pesar tanto sobre a maternidade, pesa mais sobre um modelo de magreza socialmente aceito que desfilará roupas acinturadas e cabelos loiros e lisos, produzindo milhares de mulheres frustradas num Brasil de morenas gordinhas.

Afora a linha anoréxica-fashion, a Barbie (e suas variações de modelos populares mais baratos porém nada alternativos) também inculca nas futuras mulheres um padrão de beleza e comportamento aceito pelos homens: roupas provocantes, seios fartos, sapatos altos (já inclusos em todas as caixas), unhas pintadas e, para finalizar, um cor-de-rosa sempre presente que instrui, sem sutilezas, uma feminilidade artificial baseada na presença de acessórios produzidos pela indústria fashion, além disso, uma aquiescência e uma meiguice esperadas pelo patriarcado. Não que a meiguice, a feminilidade ou a aquiescência sejam, por si, características execráveis. Mas a padronização de um perfil tido como ideal visa a erradicar uma variedade de pensamentos e comportamentos livres salutares a uma sociedade plural e igualitária – a qual estamos longe de alcançar.

Desafio qualquer um a comprar um brinquedo que não contenha os elementos supra-citados. É praticamente impossível encontrar um brinquedo que não tenha a missão de inculcar valores machistas nas nossas meninas: princesas, bebês, Barbies, panelinhas, castelos de princesas – para que nossas meninas fiquem à espera de seus príncipes encantados, como se sua vida precisasse da presença de um homem para ter significado, e por aí vai…

E para finalizar este texto, anexo fotos da última visita à loja de brinquedos: réplicas perfeitas em miniatura de fraldas descartáveis, conjuntos de maternidade, com direito a pérolas que só o machismo poderia replicar com tamanha desfaçatez e maldade:

 “Para as pequenas mamães!”

 

Um minuto de silencio à morte da infância lúdica

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Lançamento: Mães de Maio, Mães do Cárcere – A Periferia Grita

MÃES DE MAIO, MÃES DO CÁRCERE – A PERIFERIA GRITA (Nós por Nós, São Paulo, 2012)

(Evento no facebook)

Coletiva de Imprensa + LANÇAMENTO nesta Quarta-Feira (05/12), a partir das 15:30hs no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rêgo Freitas, 530 – Sobreloja – São Paulo)

Mais informações: 13-8124-9643 (Débora Maria) ou 11-98708-7962 (Danilo Dara)

Coletiva de Imprensa nesta Quarta-Feira (05/12) a partir das 15:30hs no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rêgo Freitas, 530 – Sobreloja)

Seguiremos, no mesmo dia, a partir das 18:00hs, ali do lado para o SESC Consolação – Teatro Anchieta (Rua Dr. Vila Nova, 245 – Consolação, São Paulo), junto ao lançamento do Relatório Anual de DH da Rede Social de Direitos Humanos.

Ao longo das próximas semanas ocorrerão diversas outras atividades de lançamento/apresentação do livro (CONFIRAM ABAIXO).

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Polícia Militar ostensiva na Baixada Santista é sinônimo de segurança?

Quem é morador da Baixada Santista já deve ter notado  a quantidade de policiais que estão espalhados pela região, principalmente nos fins de semana.

Na praia da Biquinha, em São Vicente, por exemplo, flagrar viaturas da polícia  andando pela areia, motos pelas calçadas, ou atravessando pelas praças, demostram bem a forma como essa segurança está sendo conduzida. Sem contar a “geral”, que é de praxe, policiais esculachando mesmo, tratando as pessoas (principalmente os jovens) como criminosas, malfeitoras que devem ser banidas dos espaços públicos. Pior: assustadoramente tornou-se comum ver isso acontecendo à luz do dia, na frente de todo mundo.

E por quê?

Segundo o novo coronel da  Polícia Militar da Baixada Santista e Vale do Ribeira, Marcelo Prado, somente com um bom diagnóstico será possível fazer uma boa intervenção na região para conter a onda de violência. Diz também que: “Estamos reavaliando a administração e vamos liberar o maior número de policiais para a atividade […} criar conselhos comunitários, utilizar as redes sociais”.

Pois é, parece que esta atividade está em andamento (aliás, como sempre esteve). O triste é viver uma realidade onde os representantes públicos têm uma visão tacanha sobre a questão da violência, na verdade resumem ela a uma simples briga de polícia e ladrão, onde a única solução (que acaba sendo sempre a adotada) é a de aumentar o efetivo policial, que no final das contas só irá resultar em mais atitudes de repressão.

Fica nítido como toda esta ostensividade é promovida pelo Estado por puro controle social. Copa do Mundo vem aí, Olimpíada também, na Baixada Santista temos a questão do pré-sal impulsionando a especulação imobiliária.

Ou seja, a população que está sendo excluída, é a mesma que sustenta sobre seus ombros todos os grandes eventos, mas, a única coisa que ganha com isso, é a humilhação e o porrete da polícia.

OBS: Continuaremos este assunto.

A juventude da periferia está sendo exterminada!

Em maio de 2006, 493 jovens foram assassinados na baixada santista. Segundo dados do IML foram possíveis constatar que 60% dos 493 corpos registrados no período receberam pelo menos um tiro na cabeça, e 57% dos cadáveres receberam pelo menos um disparo pelas costas. Até hoje, ninguém foi punido!

Hoje 25/06/20012 na cidade de Santos ocorreu o julgamento de um policial que está sendo acusado de assassinar nove jovens na baixada Santista. Resultado: nada ficou provado, nada foi esclarecido para os parentes das vitimas, devido a insuficiência de provas.

Por coincidência nesta madrugada de segunda feira o MC Neguinho quando voltava para casa após um show teve seu carro alvejado levando quatro tiros nas costas, por sorte passa bem e aguarda alta.

Já outros MCs da baixada não tiveram a mesma sorte, no dia 29/04/2012 Cristiano Carlos Martins, 33, foi morto a tiros e no dia 19 de abril, Jadielson da Silva Almeira, 28 anos, também foi morto a tiros.
Na baixada santista, outros jovens MCs em outros anos também foram assassinados como o MC Felipe Boladão e o DJ Felipe da Silva Gomes.

E assim morrem Felipes, Barbaras, Camilas e Diegos.

Filhos da periferia que o Estado se omite a dar uma resposta, e por quê? Será ele mesmo o grande assassino da população pobre? Sim. O Estado existe para ser um instrumento de garantias, o contrário disso, é apenas um instrumento de opressão e exclusão do povo, e isto, historicamente tem sido o grande papel do Estado: oprimir e massacrar a população pobre.