A copa do mundo por onde passou deixou um rastro de problemas para os países que investiram dinheiro público no maior evento esportivo do mundo. Na África do Sul, por exemplo, o último país que sediou a copa, comunidades inteiras de bairros periféricos foram removidas somente porque estavam no caminho por onde passaria o modelo de modernidade, no que diz respeito ao transporte público.
Gautrain como foi batizado o sistema de transporte ferroviário, para se tornar realidade, o governo da África teve que investir 24 bilhões dos cofres públicos, para ter uma ideia, o valor deste trem é de 10 euros cobrados por um bilhete do centro de Johanesburgo até o aeroporto, ou seja, um preço de turista. Mas e hoje? O preço não baixou. Então, quem são os turistas?
Em relação os grandiosos estádios construídos, hoje a África vive um dilema em como administrar essas obras faraônicas, já que a iniciativa privada se retirou da jogada, pois só estava envolvida no projeto inicial e como no próprio projeto não se previa em como utiliza-los, afinal, as equipes internacionais e os torcedores iriam embora ao término da copa.
Segundo o próprio governo africano “Embora em alguns estádios tenham sido realizados grandes eventos esportivos após o Mundial, especialmente no Soccer City, em outros, como o de Polokwane ou o de Port Elizabeth, não foi registrada atividade alguma e, por isso, já se encontram em uma situação econômica insustentável”.
A alternativa que o governo africano encontrou foi pedir as equipes de rúgbi e críquete, esportes que movimentam mais dinheiro que o futebol, que ocupem os estádios e realizem suas partidas neles para garantir a viabilidade do pagamento das faturas (custos) que chegam mensalmente. Traduzindo, a África do Sul construiu elefantes brancos quais não sabe o que fazer com eles.
Mas este lado da moeda é apenas a ponta do Iceberg, porque o povo africano sem recursos, nem acesso teve aos jogos da copa, devido o alto preço de uma partida que na época girava em torno de US$ 100,00 até US$ 2000,00 dólares, isso dependendo da seleção que estivesse jogando ou localização da cadeira comprada, o que é evidente que excluía pontualmente essa população.
E no caso das comunidades que foram removidas para a construção do sistema ferroviário citadas acima no texto, para onde elas foram? Colocadas em containers, essa é a verdade que o maior evento esportivo não conta.
Esperando a promessa do governo africano de construções de novas moradias ao término da copa, coisa que nunca ocorreu, e após a copa criou um estado de tensão e conflito social que perdura até hoje, ou seja, a população foi enganada e quando foi a luta por seus direitos, teve como resposta a opressão do Estado africano por meio da tropa de choque.
Perverso! Mas governo é igual em todo lugar. O que temos que aprender é que não podemos aceitar calados, sabemos que a farra das licitações começou, pois a Presidenta Dilma Rousseff disse ano passado que não dá para burocratizar as obras da copa, ou seja, é mesmo uma farra onde a iniciativa privada suga até a última gota o dinheiro dos cofres públicos, e não só ela, mas, por exemplo, o Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida, instituição ligada à Igreja Católica que administra a basílica da cidade de Aparecida (168km da capital), no interior de São Paulo, que vai receber R$ 32,5 milhões de “empréstimo” do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção do hotel popular “Cidade dos Romeiros”, é mole ou quer mais? Hotel popular para receber turistas da copa?
Para ter uma ideia o BNDES Pró-Copa Turismo, tem linha de financiamento de R$ 1 bilhão com condições especiais de juros e pagamento para projetos hoteleiros a serem construídos para atender à demanda turística gerada pela Copa do Mundo de 2014.
De partida há investimento de cinco bilhões, vindo de outros setores do governo, mas há um certo obscurantismo em torno de quanto será este investimento de fato.
A pergunta é: todo esse montante de dinheiro público vai beneficiar quem? O governo diz que a Copa do Mundo de 2014 irá quintuplicar os investimentos diretos realizados no país, injetando R$ 142,39 bilhões na economia brasileira até 2014. Deste ponto de vista, só beneficies! Será?
No Brasil já temos exemplo da mentira que são esses grandes eventos, o Jogos Pan-americanos realizado em 2007, deixou um monte de elefantes brancos para trás, dívidas e dívidas para os cofres públicos e de nada fomentou ou contribuiu para a cultura esportiva de diversas modalidades, como venderam a ideia na época, muito menos melhorou a qualidade de vida das pessoas.
Para a copa de 2014 já temos exemplos de construções que resultarão em problemas, como o caso da construção de estádios em Manaus, Brasília, Natal e Cuiabá. Em Natal, por exemplo, há uma construção de um corredor de ônibus no qual está sendo feito um alargamento da avenida, sabe quem está cedendo recurso para isso? Os moradores da avenida, que estão tendo que sair de suas casas, há outros casos, em Cuiabá com a construção da ferrovia para o VLT (veículo leve sobre trilho) o mesmo caso de expulsão está ocorrendo, já em Brasilia em abril de 2011 a Justiça embargou uma licitação por conter fraude de que o governo do Distrito Federal teria beneficiado os grupos Daclon, Altran/TCBR e Veja Engenharia, que teria relações com o presidente do metrô do DF, José Gaspar de Souza. Não é mesmo uma farra?
Sem contar que, há de se fazer uma observação, que diversas cidades do Brasil possuem o projeto do VLT, e eles nunca saíram do papel devido o conflito com as empresas locais de transporte, que sempre ganham na queda de braço, no entanto, agora estão sendo desengavetados, por que será? E de que forma isso será feito? Há de se considerar também a falta de estudos de orçamentos, que estão sendo feitos a base de mãe Diná.
É preciso organização popular para o enfrentamento direto contra os malefícios que a copa trará! Diversos comitês pró-copa estão surgindo pelas cidades brasileiras, em sua maioria são formados por grupos empresariais e politiqueiros querendo se beneficiar. Nada mais que isso! É preciso fomentar comitês populares onde a população tome as decisões do que é melhor para a sua cidade, o seu bairro e a sua vida. As diretrizes da copa impostas pela FIFA e acatadas pelo Governo Federal sem consulta pública é de uma violência e cara de pau sem tamanho, pois ela criminaliza qualquer pessoa que comercialize algum tipo de produto que faça referência à copa, e num país onde o trabalho informal cresce a cada dia, devido o desemprego, o Governo Federal vai ter que começar a construir novos cárceres.
Resumindo: a lei criminaliza, fere direitos de cidadania e garante o monopólio a FIFA. De fato, é uma copa que serve ao capitalismo e como consequência a exploração do povo pobre. Senão houver organização popular as coisas irão se agravar e o povo pagará as contas de uma copa que não lhe pertence.
Poder popular já!