Carandiru. Quem é o responsável?

Infelizmente. O que ocorreu no Carandiru não é nada diferente do que ocorre no país inteiro, exemplo: Pinherinhos, Giral, Belo Monte, os assassinatos de indígenas em Roraima por grileiros, a operação higienização para receber a copa do mundo, cracolândia, Favela do Canão, as retaliações da polícia ao PCC na Baixada Santista que segundo dados do IML contabilizam 493 jovens de periferia assassinados pela polícia de 2006 à 20012, os 21 mil trabalhadores em condições análogas a escravidão segundo pesquisa de maio de 2011 do Ministério do Trabalho… E a lista não para.

O caso do Carandiru é mais um exemplo de como a política do Estado é de opressão, e toda a lógica de nossa organização social é de segregação social para garantir privilégios.

A existência de uma casa de detenção não é para ressocializar o cidadão infrator, é para moer gente que o Estado de direito não foi capaz de criar garantias.

Se ninguém foi punido, a pergunta é, por quê? Oras, evidente que não, um deles é até deputado. Precisamos é aguçar nosso olhar e radicalizar para entender o fenômeno social das prisões.

Por que elas existem? Por que o governo gasta tanto com prisões superando os gastos com educação? É preciso entender como se estrutura a sociedade e mobilizar as bases para intervir com ações reais e não paliativas. A polícia como instrumento do Estado vai cumprir seu papel de controle social, diante de qualquer situação identificada como contrária a ordem determinada pelo Estado.

Não há um momento na história onde as Instituições e os Estados não tenham sido criados para subjugar e legitimar o poder de um grupo social sobre outro.

O triste é ver a sociedade brasileira ludibriada por meios de comunicação, alienados e espúrios, reproduzindo a ideia de que colocar os responsáveis (policiais) na prisão irá dar um exemplo de justiça, quando na verdade, os policiais devem ser presos sim! Mas o grande responsável é o Estado Brasileiro, e este deve ser desmascarado como o grande assassino e opressor social, responsável por todas as mazelas sociais.

Por isso, enquanto a sociedade acreditar que a renovação política por meio de representações partidárias, trará mudanças, dentro uma organização social que não funciona, estaremos vivendo o passado no presente e projetando o mesmo futuro de barbárie.

Há 500 anos que mais de 111 são mortos, e tornou-se insustentável discutir os direitos humanos por um viés que não leva em consideração todos os aspectos sociais que determinam a realidade.

SEGURANÇA PÚBLICA. Direitos Humanos para Todos?

Dia 19 de setembro de 2012 ocorreu na Unifesp Baixada Santista o I Seminário sobre SEGURANÇA PÚBLICA ¨Direitos Humanos para Todos¨. Cerca de cinquenta pessoas estiveram presentes, entre elas estudantes, professores, ativistas de direitos humanos, ONGs e cidadãos comuns.

A 1° mesa de debate foi composta por Thiago Santos de Souza Coordenador da Defensoria Pública Regional de Santos, Luiz Eduardo Arruda Cel PM da Diretoria de Ensino e Cultura de São Paulo, Fabiana Botelho da Defensoria Pública de São Paulo e Hélio Silva Junior Advogado representando a OAB, este último não compareceu, mas, em seu lugar para representá-lo, outro advogado incumbiu-se de tal compromisso, contudo, seu nome este que vos escreve esqueceu, fato desagrádavel para uma mesa composta por representantes do Estado, ok!

Como foi divulgado pelas redes sociais: oportunidade rara para um ¨cara a cara¨ com autoridades. Será? Enfim, feita a solene abertura de blábláblá, algo que intrigava era discutir segurança pública só com milicos, oras, a polícia é um agente muito atuante no que diz respeito a violação dos direitos humanos, e neste Seminário, a voz era deles?

O combinado era uma hora e meia de exposição (deles) e uma hora e meia de debate com o público, no entanto, milico sabe como é, DOMINA! O que começou a gerar uma tensão na galera que sacou desde o princípio a cascata de uma discussão de cima para baixo, onde o Cel Arruda tecia em discurso e em power point dados da eficiência da PM, além de dizer: sou ativista dos direitos humanos e de uma polícia humanizada e […] Construção coletiva […] Estamos abertos a ideias, sugestões…

Argumentos bem articulados, estátiscas, projeções, palavras bonitas… E assim foi d@s outr@s companheir@s de mesa e Instituição, que em alguns pontos rolou até piada: Está liberado falar palavrão porque Universidade é para a gente pirar nas ideias, formar mão de obra para o mercado, é saudável, só que discussão tem que ter educação…

Para! Nós sabemos o que eles fazem numa manifestação de greve. E não vamos esquecer e nem achar graça. Educação é o caralho! Somos nós quem levamos borrachada, somos nós quem estamos sendo oprimidos! Rebateu muito bem um estudante.

Daí por diante começou o debate, perguntas sobre Pinheirinhos, Belo Monte, Favela do Canão, Cracolândia, os 493 jovens mortos pela PM na Baixada Santista em retaliação ao ataques do PCC em 2006 ( todos com tiros pelas costas segundo dados do IML) a operação higienização nos centros urbanos, extermínio de comunidade indigenas, kilombolas e de rua. E assim parte do público bradava:

Se é para discutir direitos humanos, queremos abertura para expor todos os problemas, afinal, está sendo discutido direitos humanos para todos, ou para um nicho social?

Não tem representação de gênero nesta mesa! Não tem organização social nesta mesa! Cadê as pessoas que vivem na pele a opressão da polícia? Que na verdade, a polícia é só uma ferramenta do Estado, e o Estado é o grande culpado e o grande assassino! Enquanto houver Estado haverá opressão!

Querem discutir coletivamente e desrespeitam nossas falas. Não nos deixam falar.

Mas, apesar de todas essas colocações, nenhuma resposta, voltas e voltas e absorção de discurso; ¨concordo, claro, concordo, foi monstruoso mesmo, temos que nos unir e mudar isso¨.

O que tornou evidente que o Cel Arruda conhecia como se articulava por dentro os movimentos sociais, e das duas uma, ou ele era um esquizofrênico, ou muito bem preparado para limpar a imagem da polícia. Até penso que as duas coisas, tipo, daqueles que querem reformar o inferno, enquanto o diabo vai te usando para fazer propaganda que lá é um lugar agradável. E neste caso o diabo é o Estado.

Uma coisa interessante foi ouvir os discursos revoltosos de algumas pessoas que foram lá discutir direitos humanos e segurança pública por um viés: ¨violência é caso de polícia!¨ e quando sentiram-se intimidadas com todas as exposições das mazelas que vive a maior parte da população, o discurso deles ficou atropelado para não dizer outra coisa.

Temos que ser mais humanos, não se iludam jovens! Não existe mais esquerda, não existe mais direita, essa coisa de ideologia é ruim, todos podemos lutar e sermos felizes, por isso, precisamos da polícia, do exército, de Deus e da paz no coração.

Isso, como se toda a problematização levantada não tivesse nada de humano. E na verdade, tem muito de humano! O que não tem de humano é querer se esconder por tráz de leis que privilegiam uma minoria e exclui e oprimi a maioria.

Mas, aí o buraco é mais embaixo e assumir que se vive de discursos hipócritas não é tarefa fácil para quem defende seu ossinho, até porque naturalizar o estado das coisas e culpabilizar quem está com a cabeça de baixo das botas é simples e não dói no bolso.

 

OBS: Sobre a outra parte do seminário não acompanhei, fiquei cansado e tinha que acordar cedo no outro dia para pegar busão lotado… Se alguém sabe deixe comentários.

Comunicado urgente do Movimento Mães de Maio

Post de Origem: Movimento Mães de Maio

Santos, 27 de Junho de 2012

Diante de algumas declarações e insinuações recentes buscando claramente estigmatizar o nosso movimento Mães de Maio, com o patente interesse de criminalizá-lo, nós vimos por meio desta deixar bem claro e reforçado que somos uma Rede de Mães, Familiares e Amigos de Vítimas da Violência com o exclusivo interesse de defender o Direito à Memória, à Verdade e à Justiça referente aos nossos entes queridos vitimados injustamente pela violência de agentes do estado. Superando a dor irreparável da perda fatal de nossos filhos e entes queridos, lutamos cotidianamente pela Verdade e por Justiça em relação a TODAS as vítimas atingidas pelos mais diversos tipos de violações dos Direitos Humanos mais fundamentais, a começar pelo direito à vida e à liberdade de ir e vir em segurança por nossas cidades.

Não é por outra razão, senão por conta de nossos princípios e práticas cotidianas em busca de justiça e transformação social pela paz, que ao longo desses mais de 6 anos de existência nosso movimento já foi amplamente reconhecido nacional e internacionalmente, por entidades como a Anistia Internacional, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, a Human Rights Watch, a Clínica de Direitos Humanos da Universidade de Harvard, o Prêmio Nacional 2010 de Direitos Humanos da Secretaria de DH da Presidência da República do Brasil, a Associação de Juízes pela Democracia, o Prêmio Nacional 2011 da Associação Nacional dos Defensores Públicos, o Prêmio Santo Dias 2011 de Direitos Humanos da ALESP, homenagem da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça pelo Dia da Mulher em 2012, entre diversas outras manifestações contundentes de reconhecimento e congratulação pelo nosso compromisso incansável com a Verdade, a Justiça e os Direitos Humanos, sobretudo da população mais pobre e vulnerável no Brasil.

Nada nem ninguém nos desviará desses princípios, desse compromisso e dessa firme trajetória! Tampouco conseguirá, sob nenhuma hipótese, nos estigmatizar fraudulentamente com caracterizações que não nos dizem respeito, em absoluto.

MOVIMENTO MÃES DE MAIO
por Verdade e Justiça, Ontem e Hoje!
PAZ!

Mães de Maio – 6 anos de luta contra o Estado genocida!

O massacre de jovens pobres e de maioria negra, filhos de trabalhadores e trabalhadoras, moradores das periferias, é uma constante do Estado brasileiro. Em maio de 2006, vidas de muitos jovens eram covardemente ceifadas em todo o estado de São Paulo, por grupos de extermínio ligados ao crime organizado – aquele formado pelos poderosos. Foram mais de 500 mortes em pouco mais de uma semana, no que foi considerado o maior Massacre da Democracia Brasileira Contemporânea contra sua própria população civil.

A partir desse triste episódio, por iniciativa mães da Baixada Santista, nasceu o Movimento Mães de Maio, formado por mães, familiares, amigos e amigas de vítimas do Estado. A luta é pelo Direito à Memória e à Verdade, à Justiça e à Liberdade. Mesmo com algumas vitórias, a grande maioria dos casos está arquivada, e os jovens pobres e negros continuam sendo mortos por grupos de extermínio ligados a agentes do Estado.

Prova de que o assunto continua presente é a nova onda de terror na Baixada Santista, promovida por agentes policiais, grupos paramilitares e grupos de extermínio, que seguem praticando execuções sumárias, prisões abusivas e até mesmo toques de recolher pelas periferias afora, sobretudo na Zona Noroeste de Santos. (Os recentes assassinatos de dois MCs de funk, em Santos e São Vicente, traz nova dimensão a esse terror).

Por conta de tudo isso, neste sábado, dia 12 de maio, a partir das 11 horas da manhã, as Mães de Maio farão um grande ato na Praça da Paz Celestial, na Zona Noroeste. Além das mães e outros militantes, estarão no ato grupos de rap e música popular (Anexo Verbal, Cientistas MCs, Família Ducorre, Guerreiroz do Capão, Versão Popular e Yzalú), saraus periféricos de São Paulo (da Ademar, Brasa, Casa, Elo da Corrente, Marginaliaria, Mesquiteiros, Perifatividade e Vila Fundão), e outras Redes de Luta (Rede Contra Violência – RJ, Rede 02 de Outubro, Rede Nacional de Familiares de Vítimas do Estado) que se somarão às organizações parceiras da Baixada Santista (Educafro, o Procuru – Projeto Cultura de Rua, o movimento sindical, a Igreja e nós da Rádio da Juventude). No final, haverá ainda uma grande surpresa em homenagem às vítimas históricas do Estado brasileiro!

Mães na Rádio da Juventude

Em 24 de março, as Mães de Maio Débora Silva Maria, Vera de Freitas e Flávia Gonzaga (mãe de abril de 2010) estiveram na Rádio da Juventude para falar sobre os crimes do Estado, bem como a luta do movimento. O programa, que tem cerca de duas horas, pode ser visto abaixo: