No sábado 10 de novembro de 2012 foi realizado na cidade de São Paulo um debate necessário porem pouco feito no interior dos movimentos sociais, sindicatos, partidos, coletivos e outros espaços de organização que contestam o sistema capitalista. O debate sobre machismo e principalmente a violência dentro dos movimentos contestatórios e de resistência.
O espaço estava sendo organizado por alguns coletivos feministas como Anatácia Livre, Mulheres do DAR, Revolução Preta e Violeta Parra.
Entendendo que não estamos automaticamente livres de sofrer ou exercer uma opressão pelo fato de contestarmos a ordem vigente, pois somos filhas e filhos do patriarcado (sociedade gerida por homens brancos e proprietários), e reproduzimos todos os dias o machismo. Estes coletivos sentiram a urgência de discutir tal assunto, tendo em vista que o debate ainda permanece como secundário nos espaços da esquerda.
No entanto a pergunta: Há machismo na esquerda? se tornou óbvia a resposta ao longo do seminário e até mesmo durante a divulgação quando na verdade deveria ser assustadora pois o machismo é opressão, lutamos e sonhamos por mundo livre das opressão e injustiças. Contra a lei do mais forte, de repremir, violentar e explorar. Lutamos por um mundo onde sejamos livres e iguais em nossa essência, seja ela do gênero masculino ou feminino.
Então a questão não é apenas: Sim ou Não, existe ou deixa de existir mas como vamos combater?
Seguindo nessa perspectiva, de que o machismo enquanto cultura patriarcal, desenvolvida há séculos, ou milênios atrás, encontra-se no nosso inconsciente coletivo, tanto masculino quanto feminino, pensamos e debatemos sobre a prática do chamado “escracho” (prática de tornar pública a imagem do agressor, no caso o companheiro que praticou o machismo) que vem sendo utilizada e divulgada nas redes sociais, nos atos, nas ruas e na mídia de maneira geral.O que é o
escracho? Pra quem é o escracho? Devemos nos unir por sermos feministas, e utilizar desse instrumento para condenar, punir, excluir, boicotar o agressor? Estamos mesmo construindo desta forma a
liberdade da mulher? Devemos, como se diz a gíria “passar um pano” para os sujeitos que exerceram tal violência, apenas por serem companheiros de luta?As respostas, como vimos e debatemos durante o Seminário-Debate ficou em aberto, e isso pareceu-nos produtivo, para que a reflexão seja feita e não nos fecharmos em
receitas e métodos universais, muitas vezes pecamos nas urgências, simplesmente por querer dar respostas imediatas.Buscamos a liberdade e equidade entre os sujeitos, não a supremacia de um sobre o outro. Não estamos ” querendo passar a mão na cabeça” e ser coniventes com os homens que afirmam seu machismo a todo custo, que “batem no peito” o seu autoritarismo e sua necessidade de permanência no controle das relações estabelecidas.
Nos referimos aqui a companheiros que necessitam de espaços e reflexões para pensar suas posturas, rever suas condutas e modificar suas ações. E isso, foi visto e vivenciado nesse dia, homens falantes, indagando-se, questionando suas posturas, seus comportamentos e querendo se transformar e levar isso para seus espaços íntimos, coletivos, partidos e relações pessoais.
Não podemos perder de vista o fato da sociedade ser mais conivente com o homem, historicamente um privilégio dentro de inúmeras sociedades, mas vamos refletir o quão é complexo para muitos (homens) se despirem do machismo implantado e reforçado desde seu nascimento.
Não estamos defendendo a omissão dentro dos grupos, coletivos, partidos, seja qual for a organização, acreditamos que combate coletivo possa trazer frutos de mudança e libertação, ao contrário; quando um grupo se cala sobre um determinado assunto de violência, só tende a aumentar e reforçar as situações de opressão.
Simplesmente ignorar, questões relacionadas a violência (psicológica, simbólica, física, moral) no nosso cotidiano nos faz hipócritas. Se queremos mudanças concretas e lutamos por elas, comecemos por repensar nossas posturas, sem exercer o papel do Estado, esse que tanto nos oprime.
Não sejamos o Estado. Sejamos sujeitos(as) que buscam práticas diferenciadas, criativas e de eficácia, que a teoria seja a prática, que a igualdade seja atitude, e que nenhuma mulher tenha que sair do espaço político, que nenhuma mulher sinta-se em qualquer instância humilhada.
Que não sejamos definidas(os) por gênero, e que essa definição não trace os caminhos que devemos seguir, que não perpetue a lógica capitalista.
Pela organização das mulheres, por suas práticas de resistência diaria ao mundo extremamente machista, devemos homens e mulheres nos fortalecer e nos solidarizar, a opressão que a mulher sofre não diz respeito só a mulher, ou só ao homem.
Vamos dar esse passo juntos e juntas!