Maio é comercialmente conhecido como mês “das mães”. Ironicamente este também foi o mês que em 2006 o Estado brasileiro assassinou algumas centenas de jovens da periferia, deixando como “presente” para as mães que ficaram o sentimento de revolta e o clamor por justiça.
“O tiro que acertou o coração do meu filho, acertou o meu também!” (Débora – Mães de Maio)
Maio é um mês de luta!
Não só pelo histórico dia primeiro, mas cada dia deste mês ecoa o grito de revolta dessas mães que não se calaram diante da violência do Estado.
No dia 11/05, as Mães de Maio realizaram a tradicional missa em memória de seus filhos assassinados em 2006. Foram distribuídas 2.920 rosas, que simbolizam cada dia destes longos 8 anos.
foto: Francisco Santos
No dia seguinte, 12, registrado oficialmente como dia de luta das Mães de Maio, elas realizaram um grande ato na praça Mauá, em frente à prefeitura de Santos e contaram com a presença da Trupe Olho da Rua, que apresentaram a intervenção “Blitz”, retratando a violência do Estado aliado a manipulação da mídia.
Medalha Braz Cubas
Como reconhecimento da luta do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, uma das impulsionadoras desta luta, recebeu, no dia 09/05, a medalha Braz Cubas.
“Essa medalha é dos nossos filhos e de todos os guerreiros e guerreiras que lutam no cotidiano da periferia” (Débora – Mães de Maio)
Débora (Mães de Maio) – Recebimento da medalha Braz Cubas
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Débora considera esse reconhecimento também um presente, já que seu aniversário é comemorado dia 10/05.
Angústias de uma trabalhadora da saúde
Para as mães trabalhadoras, seu dia é o 1º de maio, é o 8 de março e também o 20 de novembro. Ser mãe é mais uma esfera de suas vidas e para muitas não a mais fácil nem a mais romântica delas.
Élida foi mãe adolescente e não viu seu neto nascer pois, na noite em que sua menina entrava em trabalho de parto, os homens de cinza a levaram para trás das grades. Enquanto gritava por liberdade a menina gritava com seu bebê sendo tirado a ferro.
Aos nove meses de gestação, dias antes de Lorena vir ao mundo, seu pai, um adolescente preto e pobre, foi assassinado por homens encapuzados na rua de sua casa.
A filha de Catarina nasceu com muitos problemas de saúde. A mãe desconfia que seja sua culpa pois não conseguiu controlar os nervos durante a gestação. No 5º mês seu filho mais velho foi morto pelos homens de farda.
Esses e muitos outros relatos não muito cor de rosas, são corriqueiros
na vida das mulheres/mães/lutadoras das periferias. O Estado, o patriarcado, o capitalismo são todos parte de uma mesma lógica que massacra a mulher e entrega flores em algumas outras datas do ano.
Obs.: todos são relatos reais do cotidiano do hospital
Outras imagens das Mães de Maio nos dias 09, 11 e 12.