Cultura, teto e pão! Não especulação!

Baixada que exclui seus moradores

A Baixada Santista está vivendo um processo de exclusão social único na nossa história. Em nome de valores duvidosos, como o “progresso” e o “desenvolvimento”, a fim de atrair mais empresas e dinheiro, o preço de terrenos, casas e apartamentos está ficando cada vez mais alto. Isso tem feito com que fique ainda mais difícil comprar ou alugar uma casa.

Hoje, o jovem que mora com os pais e pretende se mudar tem como única opção ir para uma casa precária, em um bairro (ou cidade) mais afastado. Isso quando tem um bom emprego, já que na maioria das vezes ou não consegue trabalho, ou se submete à exploração de algum patrão ganancioso.

Enquanto isso, as prefeituras e câmaras da Região abrem as pernas para o capital e aprovam leis que favorecem a especulação. Como resultado, a cada dia vemos mais espigões, acessíveis somente a dois tipos de pessoas: de um lado, porteiros e domésticas (que usam o elevador de serviço) e, de outro, os endinheirados: empresários, presidentes de companhias, proprietários, e os próprios políticos.

Já os pobres, cada vez mais esmagados pelos grandes empreendimentos, seguem ocupando os cortiços, as favelas, guetos que só crescem, mas espertamente escondidos dos turistas tão adorados pelos governantes das nossas capitanias hereditárias.

Por isso dizemos um basta a esses exploradores, que a cada dia nos jogam para as margens das cidades.

A classe política, a serviço dos especuladores, dá as costas para o povo em forma de um Plano Diretor que, por exemplo, loteia regiões da área continental de Santos (que deveriam ser preservadas) para instalação de mais terminais de contêineres.

O fato é que inexistem políticas de habitação realmente popular na Baixada Santista, e as áreas que poderiam servir para isso vão, quase de mão beijada, a construtoras e grandes empresas. Enquanto isso, vem aí mais um pré-candidato a vereador e sua patotinha mostrar a indignação ensaiada de quem mora bem, mas diz saber os anseios do povo, e com seu discurso novelesco, fala a jornais e tevês em nome dos desfavorecidos…

 

MAS DESSA VEZ NÃO! NÓS PRÓPRIOS FAREMOS NOSSAS VOZES SEREM OUVIDAS!

 

Santos e as outras cidades da Baixada Santista não precisam crescer, já são ricas. É preciso dar oportunidade a seu povo, massacrado por uma educação deficiente, empregos precários, cultura artificial e custo de vida cada vez mais alto.

Dizemos não à especulação imobiliária, assim como a todo tipo de política em nome do “desenvolvimento”, que servirão apenas para excluir o povo cada vez mais excluído.

 

Cultura, teto e pão! Não especulação!


“O Banco Vaticano, um paraíso fiscal”

Entrevista com Gianluigi Nuzzi, jornalista e autor do livro “Vaticano S. A.”
O Instituto de Obras Religiosas, o “Banco Vaticano” sempre manteve o sigilo de suas operações bancárias. “Vaticano S.A.” revela uma rede de contas secretas e comissões a políticos.
O Instituto de Obras Religiosas (IOR), o chamado Banco Vaticano, está no centro de uma investigação judicial conduzida por um tribunal de Roma. Em outubro de 2010, uma decisão ordenou a apreensão de 23 milhões de euros, considerando que o IOR havia violado as obrigações das normas anti-lavagem de dinheiro em operações bancárias realizadas com o banco alemão JP Morgan Frankfurt e outro banco italiano. De acordo com a sentença, o IOR não comunicou “para quem pretendia realizar as operações, nem a natureza e o propósito delas”.
Embora alguns meses depois desta sentença o Vaticano tenha modificado suas regras fiscais para tentar entrar na lista da OCDE de países que respeitem as normas internacionais contra a lavagem de dinheiro, o IOR sempre vem operando no mais absoluto sigilo e seu histórico de acusações é extenso.
Envolvidos no escândalo do Banco Ambrosiano, o IOR continua aproveitando os privilégios dado a seu status de banco papal para movimentar dinheiro pelo mundo sem qualquer autoridade por trás das paredes do Vaticano para pedir contas, agindo como um verdadeiro paraíso fiscal na prática.
O livro Vaticano S.A., do jornalista Gianluigi Nuzzi, permite conhecer os negócios sombrios da Santa Sé, graças à documentação recolhida por um dos seus responsáveis, monsenhor Renato Dardozzi. Conhecedor em primeira mão dos aspectos mais reservados do IOR até o final dos anos 90, Dardozzi quis que os documentos se tornassem públicos após sua morte. Em suas páginas aparecem contas milionárias de fundações caritativas inexistentes, movimentos de capitais que ninguém controla e ligações com a política e até mesmo a máfia.
Diagonal > Que ações do IOR vêm à luz em seu livro?
Gianluigi Nuzzi < Se tornam públicos pela primeira vez documentos que sempre permaneceram secretos e revelam todas as operações realizadas depois de Marcinkus (presidente do IOR de 1971-1989). Revela, por exemplo, a existência de todo um sistema de contas secretas em nome de supostas fundações beneficentes de luta contra a leucemia ou a pobreza, utilizadas na verdade para proteger os verdadeiros titulares. Estas contas foram parar, por exemplo, parte das enormes comissões e subornos pagos por empresas italianas a inúmeros políticos investigados por juízes de Mani Pulite (Mãos Limpas).
Diagonal > Alguma conta foi usada por políticos importantes?
Gianluigi < Sim, por exemplo, a Fundação Spellman poderia ser na realidade uma conta utilizada por Giulio Andreotti, o então primeiro-ministro da Itália.
Diagonal > E para lavar dinheiro sujo?
Gianluigi < Isso não faz parte da documentação do arquivo de Dardozzi. Estas são declarações de Massimo Ciancimino, filho de Vito Ciancimino, o prefeito mafioso de Palermo, que diz em uma entrevista que nos anos 70 e 80 seu pai depositava no Instituto para Obras Religiosas parte do dinheiro que circulava entre mafiosos e políticos – “Ratzinger está tentando introduzir sistemas de controle diante o risco de que incluam o banco na lista de paraísos fiscais”.
Diagonal > O que faz com que o IOR se torne um banco ideal para passar despercebido?
Gianluigi < Sobretudo pelo fato de agirem em segredo absoluto. Não se sabe de quem é o dinheiro depositado lá, o patrimônio do banco é secreto. Goza de importantes isenções fiscais por ser um banco estrangeiro. Nestas condições não há dúvida de que é um banco muito tentador para quem quer discrição.
Diagonal > O papa Wojtyla conhecia os fatos denunciados no livro?
Gianluigi < Há provas documentais de que seus conselheiros mais próximos sabiam sobre a estrutura paralela que foi desenvolvida para lavar o dinheiro das comissões. Por exemplo, o então presidente do IOR, Angelo Caloia, em uma carta confidencial ao secretário do papa, Stanislaw Dzwisz se refere explicitamente a “investigações realizadas com completa reserva” das contas correntes secretas. O papa teve um comportamento muito prudente, sem prejudicar frontalmente o que estava acontecendo.
Diagonal > Qual foi a reação do Vaticano ao livro?
Gianluigi < Uma mudança, pelo menos sobre o papel, tem havido, porque existe o risco de que o banco se incluía na lista negra da OCDE. Ratzinger está tentando introduzir sistemas de controle nos fluxos financeiros. A coisa a se observar é quanto do prometido é de fato alcançado.
Diagonal > Se pode afirmar que o IOR tem atuado como um paraíso fiscal?
Gianluigi < Pela documentação disponível, podemos dizer que pelo menos até o final dos anos 90 funcionou como um verdadeiro paraíso fiscal.
Instituto de Obras Religiosas: O Benefício é Sagrado
O Instituto de Obras Religiosas nasceu em 1942 ao se tornar um verdadeiro banco que foi inicialmente chamado Comissão para as Obras Pias. A partir daí, nasceu um grande império financeiro, com investimentos em todo o mundo.
Sobre ele recaíram suspeitas de haver financiado operações armamentistas ou ter colaborado com o regime de Mussolini e com o Terceiro Reich. Os privilégios de que goza tem feito do banco a escolha para aqueles que queriam transferir capitais ao estrangeiro para fugir dos impostos. Conforme observado por Gianluigi Nuzzi no Vaticano S.A., o IOR “não se pode registrar; não é permitido interceptar os telefones; não se pode questionar seus empregados”.
Para saber algo sobre as operações do banco, continua Nuzzi, “os juízes do país interessado devem realizar rogatórias ao Estado da Cidade do Vaticano. O Estado do Vaticano é o único país europeu que não tem firmado qualquer acordo de assistência judicial mútua com outros países no continente”.
Fonte: Diagonal
agência de notícias anarquistas-ana
Festival de vida:
as borboletas se amando
no meio da estrada.
Humberto Del Maestro

Clique aqui para salvar a Ficha Limpa!

A Ficha Limpa está em perigo — o STF pode julgar a lei inconstitucional e dar margem para que centenas de políticos condenados se candidatem às eleições. A corte está dividida, mas em breve a Presidente Dilma irá nomear um novo Ministro que terá o voto decisório — vamos fazer um apelo urgente para que ela escolha alguém que seja um campeão contra corrupção! Mobilize-se agora!

Clique aqui e assine a petição

Programa do Jô a serviço do status quo

Em mais uma entrevista sem o menor apelo público (paga?), Jô Soares entrevistou nesta segunda o delegado geral da policia civil do Estado, Marcos Carneiro de Lima.

(É de se estranhar esta sequência de entrevistas com representantes do Estado.

Mês passado o governador Geraldo Alckmin esteve no sofá do apresentador)
O delegado chegou a surpreender por certas colocações, quando disse que muitas vezes o pobre é associado ao banditismo, que o Estado não se faz presente com educação, cultura e saúde nas periferias.

Talvez desnorteado, Jô Soares preferiu invocar o sistema anglo-saxão, que no seu entender seria melhor, com o município cuidando da segurança pública, já que o coitadinho do governador não teria como coordenar o setor em um estado como São Paulo.

No final da entrevista, sem a menor justificativa, o apresentador cita o “controle da mídia”, uma proposta que poderia ser implantada pelo governo federal, como uma forma de censura aos meios de comunicação democráticos, a favor da liberdade de empresa, como as Organizações Globo. “Esperamos que a presidente Dilma Roussef, que já esteve aqui, não aprove esta medida”, suplica ele.

Jô Soares não lembra de citar que a regulação de mídia acontece em todo o mundo, inclusive o venerado “anglo-saxão”, e impede, por exemplo, que políticos assumam o controle de tevês e rádios, e permite que grupos sociais prejudicados com informações falsas possam ter mecanismos para trazer a verdade à tona. Propostas como essas partiram não de um partido (aliás, interessa aos partidos deixarem as coisas como estão), e sim da sociedade civil em geral, na Conferência Nacional de Comunicação, de 2009. Desde então, nada mudou: os políticos continuam dominando as redes de tevê e rádio, o oligopólio da comunicação continua nas mãos de empresários, e restam poucas alternativas a entidades de bairro, organizações sociais e movimentos de luta em geral. Muitas vezes, a opção é a ilegalidade, por meio de rádios comunitárias, já que a legislação atual obriga que as associações entrem no jogo sujo político, e tomem um chá de cadeira de pelo menos 10 anos para ganhar uma concessão.

Por isso, senhor Jô Soares, a empresa que o emprega pode ser livre, mas a comunicação está longe disso!

SARAU do CES (centro dos estudantes de santos) Traga sua poesia, sua revolução e sua alegria!

Venha curtir o Sarau do CES! Traga poemas, poesias, textos, textinhos e textículos. Músicas, sonetos, canções e violões. Violas, atabaques, flautas e flautins. Gaitas e guitarras…
Traga amados, amadas, poetas, músicos e boêmios. Mães, tias e filhos.

O Sarau do CES acontece logo após o som baixar, na Noite do Vinil. Tem Bar do CES também, angariando fundos e fundilhos para a casa e os trabalhadores árduos e incansáveis deste grandissíssimo evento!
(:

Todas as sextas-feira, Noite do Vinil a partir das 20h e Sarau a partir da 0h.

Av. Ana Costa, n.308 (ao lado do Extra)

Santos, Brazil
Para saber mais sobre o CES acesso o link  Blog do centro dos estudantes de santos

Cidades no Brasil crescimento e preconceito

Algo mudou no crescimento das cidades brasileiras?

Existem vários mitos sobre o crescimento das cidades brasileiras. Um dos mais fortes é o de que cidades como São Paulo, Rio e Belo Horizonte crescem por conta da migração de nordestinos. Esse mito tem origem no preconceito e ajuda a reforçá-lo – no Rio de Janeiro, por exemplo, os imigrantes são chamados de “paraíbas” e, em São Paulo, de “baianos”. Desde pelo menos a década de 1990, os dados do censo vêm mostrando que esse mito não corresponde bem à verdade.

O número de pessoas que saiu do Nordeste para outras regiões caiu de cerca de 800 mil, entre 1995 e 2000, para 97 mil entre 1999 e 2004. Essa tendência foi ainda mais reforçada no último período. Além disso, o destino das pessoas que saem do Nordeste há muito tempo deixou de ser as grandes cidades do Sudeste. Os pólos de migração do país hoje – na verdade, há mais de 10 anos – localizam-se, principalmente, na região de expansão da fronteira agrícola, em estados como Mato Grosso, Goiás, Amazonas e Amapá. Uma novidade mais recente é que também os estados do Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande Norte também vêm atraindo população no último período.

Outro mito que costuma aparecer na imprensa quando o IBGE divulga dados de crescimento das cidades é o do fim da superconcentração populacional, construído a partir de uma leitura equivocada dos dados que mostram que são as cidades médias as que mais crescem no Brasil. De fato, algumas cidades que não são capitais e não estão em regiões metropolitanas tiveram grande crescimento e se transformaram em pólos regionais. Mas o discurso do fim da superconcentração não corresponde à realidade, pois esconde um fenômeno muito forte e importante que é o contínuo crescimento das periferias urbanas e metropolitanas. Em 1991, a população das regiões metropolitanas representava 34,9% do total ; em 2000, 36%; e hoje, 36,2%.

Em resumo: preços altos do solo, especulação imobiliária, políticas habitacionais que fortalecem a produção de novas moradias apenas em municípios das periferias, investimentos em expansão rodoviária que geram eixos de expansão, tudo isso tem provocado uma migração intrametropolitana, que faz com que os municípios da fronteira metropolitana explodam em termos populacionais. A Grande São Paulo é um bom exemplo disso: 34 dos 39 municípios que formam a região metropolitana cresceram mais do que a capital.

Percebe-se que uma parte importante das tais cidades médias que mais crescem, na verdade, está nas metrópoles e em suas fronteiras. O fim da superconcentração populacional, portanto, ainda está bem longe de acontecer. Enquanto isso, continuaremos presos, diariamente, nos congestionamentos das Anhangueras e Dutras da vida.

P.S. Para saber mais sobre o tema das migrações e do crescimento populacional no Brasil, leia o documento“Reflexões sobre os Deslocamentos Populacionais no Brasil”, divulgado pelo IBGE no dia 15 de julho.

O mapa abaixo (Taxa de crescimento da população, segundo os municípios – Brasil – 2000/2010) é do IBGE e o original está disponível no documento mencionado acima. A linha branca, inserida por mim, marca as regiões metropolitanas.

Reforma Urbana. Remoções na Serra da Cantareira

 

 

Post de origem Caros amigos

Por Cecilia Maria de Morais Machado Angileli e Euler Sandeville Jr.

As cidades brasileiras são caracterizadas por uma histórica desigualdade social, econômica e de padrões de urbanização. As condições de vida são precarizadas, em situações de extrema fragilidade social e risco ambiental. Trata-se de um quadro estrutural do nosso processo de urbanização. Nos anos 80, essa situação já chamava atenção internacional, como quando Henri Lefebvre (1991) observou que as grandes cidades latino-americanas estavam cercadas por um cinturão de pobreza e miséria. Apesar de facilmente percebidas em nossas paisagens, essa condição não tem recebido a devida atenção dos diversos níveis de governo e da sociedade. Pior, em muitos casos é a ação do setor público, através de obras, políticas públicas e ações consorciadas, que agrava as condições de vida dessas parcelas majoritárias da população urbana brasileira. Mas como isso pode ser?

Um exemplo, entre os muitos que estão em curso hoje na Região Metropolitana de São Paulo, é o distrito de Brasilândia, localizado na Zona Norte do município de São Paulo. Em seus 14Km de ocupação urbana, existem 96 favelas, representando um dos principais vetores de expansão urbana irregular na Serra da Cantareira (uma das mais importantes reservas ambientais do município).

A taxa de crescimento populacional do distrito já havia sido bastante significativa no período de 1.991 a 2.000, quando o distrito ganhou cerca de 20.000 novos habitantes. Parte dessa expansão se deu pelo adensamento das áreas já ocupadas, mas parte significativa ocorreu com o desmatamento de 23ha na região denominada Zona de Fronteira, junto à Serra da Cantareira. Deste modo, no decorrer das últimas décadas, parte da floresta da Cantareira e dos usos rurais das regiões de fronteira foram substituídos não só por loteamentos irregulares e favelas que expressam essa cidade possível para a maioria de nossa população, mas também por condomínios regulares de alto padrão! No período seguinte, de 2.000 à 2.010, o distrito ganhou cerca de 30.000 novos habitantes, com um desmatamento adicional na Zona de Fronteira de 8ha. Ao mesmo tempo em que houve uma redução do desmatamento, o mesmo foi concentrado entre os anos de 2.005 a 2.010.

Em que pese essa redução, estudos de campo realizados pelo Núcleo Estudos da Paisagem do LABCIDADE da FAUUSP – que há oito anos desenvolve pesquisas na região e mantém um centro avançado de pesquisas sediado na Brasilândia – revelam um peculiar processo nas áreas desmatadas neste segundo período. Em muitos casos, a Serra da Cantareira não foi a primeira opção desses moradores, a maioria migrantes. Essa mobilidade, entretanto, tem causas profundas; a população que sofre com esse processo contínuo de expulsão é caracterizada por pessoas que não conseguiram mais pagar aluguel.

E mais, em vários casos, as remoções promovidas por diversas obras públicas fortalecem e agravam esse processo, que encontramos também em outras regiões da cidade. Trata-se tanto de famílias diretamente removidas pela implantação de obras, quanto de famílias expulsas em decorrência da valorização imobiliária que a modernização da estrutura urbana traz a essas áreas. É grave que em nenhuma dessas duas situações, nem mesmo na de remoção direta, essas famílias recebam apoio e orientação adequada e continuada do estado, ainda mais se considerando a situação de risco social em que se encontram. O problema das remoções é tratado como uma questão imediata de engenharia, sem uma política social que perceba as condições e necessidades dessa população e que se considere a “compensação social” como um conceito central nessas obras.

Na Brasilândia, encontramos já vários casos de moradores que foram removidos para a implantação de obras públicas na própria região, e com a indenização compraram um novo lote irregular na Serra. Muitos desses moradores sofrem com situações de risco, falta de infraestrutura, além de estar em uma situação de provisoriedade permanente, já que são constantes os despejos quando as áreas, até então desprezadas pelos próprios proprietários, são inscritas em uma nova dinâmica urbana em função de obras públicas.

Existem moradores que já foram despejados e que aguardam por um novo despejo, devido a processos de reintegração de posse e por estarem novamente em área de risco. Os próprios processos de reintegração de posse multiplicam-se quando se realizam essas obras trazendo valorização imobiliária.

As famílias, por viverem a espera da remoção, não consolidam suas casas, o que não significa que não ampliem os espaços quando possível. O material para boa parte das construções nas áreas mais precárias que temos acompanhado no extremo dessa expansão urbana são recolhidos em áreas próximas, em aterros de resíduos inertes, clandestinos e oficiais. O que encontramos dá uma realidade dura aos trabalhos do artista argentino Antonio Berni, que desde os anos 60 denunciou em seus quadros-colagens a situação da infância em países latino-americanos, através do personagem Juanito Laguna, obrigado a construir o seu mundo com os refugos da sociedade de consumo.

Assim, restos de móveis, pedaços de placas publicitárias, resíduos da construção civil, são matéria prima das construções que visitamos. Com as sobras da cidade formal, ampliam-se as moradias em áreas de risco. Poucas casas são de alvenaria, mesmo porque, segundo os moradores, a prefeitura recolhe os materiais de construção: pedra, areia e cimento.

No relato de um morador da favela apropriadamente chamada de Ordem e Progresso, localizada na pré-Serra da Cantareira na Brasilândia é possível entender uma das faces do processo que alertamos aqui:

Eu morava no Jardim Peri, fui removido de lá e recebi R$5.000,00 e eles me falaram que aquilo não era uma indenização era um beneficio que depois eu iria ganhar uma moradia. Então me retirei de lá gastei com minha família e meus filhos e vim para cá, o que me sobrou foram R$2.500,00 e cheguei aqui e comprei um terreninho de R$500,00, fiz um barraquinho e entrei. Minha casa no Peri era de bloco, dois cômodos azulejado. Hoje eu moro em um barraco eu minha esposa e um filho de nove anos. Esse não é meu primeiro barraco aqui. O meu primeiro barraco aqui pegou fogo, queimou tudo as minhas coisas e não fui chamado para ser indenizado. (…) Agora recebi um papel dizendo que serei removido novamente, estou  aguardando para ser removido daqui. Se pegar R$5000,00 de novo o que nós vamos fazer, vamos para um terreno da prefeitura de novo e fazer um barraco novamente?  

Em outro caso – e eles se repetem – um morador relatou que esperava a indenização para poder pagar suas dívidas, e teria então que mudar-se com a família para outro barraco, onde fosse possível na região.

Outros aspectos ainda precisam ser considerados nessas intervenções do poder público, como a baixa qualidade de projeto ou com a qualidade ambiental resultante. O que certamente não contribui para a autoestima dos moradores, nem para a qualidade de vida, nem para uma presença mais responsável do setor público no fazer a cidade, muitas vezes delegando decisões vitais para empresas que têm em vista apenas o contrato de obras específico.

Mais uma vez, vários exemplos são possíveis. Um deles foi a substituição de uma área rica em beleza natural por um piscinão construído em 1999 para conter as cheias do Córrego Bananal e que hoje se tornou um grande lixão à céu aberto, que também recebe irregularmente resíduos que são lançados por caminhões. Essa prática teve continuidade com a implantação de escolas, posto de saúde e um telecentro em áreas non-aedificandi de córregos no distrito pelo próprio poder público, equipamentos que obviamente agora sofrem com as cheias dos córregos da região. Uma das escolas implantadas junto ao córrego Bananal já foi desativada, pois nos períodos de chuva as crianças ficavam ilhadas em situação de risco. Um Centro de Educação Unificado também foi implantado na Serra, mais uma decisão pública que negligenciou a aptidão física deste espaço. Além de implantar uma nova escola em uma área de risco, a implantação desta grande obra estimulou novas ocupações nas áreas lindeiras de mata.

Entre estas obras, deve-se destaque à implantação do Parque Linear do Córrego Canivete. Para a implantação do projeto 547 famílias foram removidas. Em uma parceria com a CDHU, 70 famílias foram realocadas em conjuntos habitacionais de Cidade Tiradentes e 120 para conjuntos habitacionais do Sítio Jaraguá. As 357 famílias restantes, receberam uma verba de apoio de R$5.000,00; poucas famílias receberam o auxílio para compra de imóvel que seria de R$8.000,00, de resto insuficiente senão para a construção de novo barraco em área precarizada. Com esse recurso, muitos moradores voltaram a ocupar áreas de fragilidade ambiental no distrito. Essas pessoas estão, ainda quando incluídas nas estatísticas, invisíveis ao poder público e à sociedade, quando as condições extremamente frágeis de escolaridade, trabalho e saúde de famílias inteiras não são enfrentadas com programas minimamente adequados.

Nos próximos anos, a possível implantação do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, deve continuar a contribuir para a expansão urbana sobre a Serra. Só no distrito de Brasilândia serão mais de 800 edificações atingidas. As edificações irregulares devem ser atendidas por indenizações ou apartamentos do CDHU segundo o Programa de Remoção e Reassentamento apresentado no Estudo de Impacto Ambiental. Essas indenizações estarão baseadas no valor gasto pelo morador para a construção da casa, porém, como muitas casas são barracos de madeira, as avaliações e indenizações podem ser mínimas e não bastam para a compra de um imóvel em situação regular ou fora de áreas ambientalmente frágeis ou de risco. Além disso, as indenizações são por edificação e não por família, sendo o impacto da obra nestas comunidades em que são comuns as situações de coabitação, muito maior do que o previsto no Estudo de Impacto Ambiental.

Um complexo de fatores conjugados permite supor uma continuidade da expansão sobre a Serra da Cantareira. Mesmo assim, o Trecho Norte do Rodoanel é apresentado como um instrumento urbano para conter o espraiamento da mancha urbana irregular sobre a Serra da Cantareira. A argumentação dificulta perceber a dinâmica urbana e as graves implicações sociais em curso.

Não se trata de um caso isolado, e nos próximos anos tenderá a se agravar com as diversas obras já planejadas, sem a devida atenção da sociedade para um problema já antigo e que se perpetua. O poder público com sua presença ou sua ausência, tem se mostrado em diferentes períodos como um agente importante na produção da expansão urbana irregular no distrito da Brasilândia sobre a Serra da Cantareira. Não que o poder público seja a causa única destas situações, mais suas ações conjugam-se com a dos sujeitos e agentes sociais de natureza privada, mostrando a falta de percepção e controle social sobre as transformações e construções dessa malha urbana.

Cecilia Maria de Morais Machado Angileli e Euler Sandeville Jr. são do Núcleo de Estudos da Paisagem – LabCidade da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)

Movimentos fazem ato em defesa da Banda Larga

Post de origem Escrevinhador

Por Juliana Sada


Os rumos que o Plano Nacional de Banda Larga está tomando desagradam diversos movimentos sociais. De acordo com as organizações, os contratos fechados com as empresas de telecomunicações não atendem a uma série de itens considerados essenciais para a expansão do acesso à internet pela população.

Para marcar sua insatisfação, os movimentos realizarão um protesto, nesta segunda feira em São Paulo. Convocado pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), o ato vai reafirmar que as organizações querem banda larga de qualidade, barata e para todos.

O ato será segunda-feira (15) às 19h, no Sindicato dos Engenheiros (rua Genebra, 25. Próximo ao Metrô Anhangabaú).

Banda larga é um direito seu!  Por uma internet rápida e de qualidade para todos e todas

Sem controle de tarifas, continuidade ou metas de universalização para o acesso à internet, o acordo fechado pelo Ministério das Comunicações com as empresas de telecomunicações vai na contramão da democratização dos serviços.

Os ‘termos de compromisso’ assinados são completamente insuficientes para os usuários que continuarão pagando caro pelo uso de uma internet lenta e concentrada nas faixas de maior poder aquisitivo.

Além de inaceitável, o acordo com as teles representa a negação do próprio Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e das diretrizes aprovadas na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que apontavam para um maior protagonismo do Estado e para o fortalecimento da Telebrás, essenciais para fazer da internet um direito de todos, e não privilégio de alguns. Afinal, mais do que lazer e diversão, a internet é um instrumento fundamental para o desenvolvimento nacional e a inclusão social.

Venha lutar conosco por uma banda larga de qualidade e para todos e todas, prestada em serviço público, com expansão constante das redes e universalização progressiva.

O que está em jogo são os direitos, o presente e o futuro do povo brasileiro.

Junte-se a nós!

Dia Internacional do Índio é marcado por ataque a povos isolados

Post de origem Brasil de fato

Renato Santana

de Brasília

O episódio ocorreu nos últimos dias de julho e os indícios dão conta de que um massacre ocorreu contra índios isolados do Igarapé do Xinane 

Em pleno Dia Internacional do Índio, nesta terça-feira (9), o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, desembarcou no Acre (AC) para tratar daquilo que se caracteriza como mais um ataque aos povos em situação voluntária de isolamento na selva amazônica – com ele, a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki.

O episódio ocorreu nos últimos dias do mês passado, a 32 quilômetros da fronteira com o Peru, e os indícios dão conta de que um massacre ocorreu contra índios isolados do Igarapé do Xinane – região da cabeceira do Alto Rio Envira, distante 600 quilômetros de Rio Branco, capital acreana. Conforme notícias veiculadas pela imprensa, os dois funcionários da Funai que atuam na Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Envira falam em “correrias” (massacre) empreendidas sobre os indígenas isolados.

Pontas de flechas foram encontradas por eles e agentes da Polícia Federal (PF) em acampamentos abandonados por supostos narcotraficantes peruanos, autores dos ataques. Mesmo sem a confirmação das mortes entre os indígenas, fica evidente a situação de vulnerabilidade em que se encontram tais comunidades – seja em face da ação de madeireiros, narcotraficantes e toda sorte de exploradores.

“Querem tocar no assunto como se fosse novidade, mas há mais de 10 anos ocorrem com frequência assassinatos e ataques aos povos isolados. São traficantes, madeireiros, grileiros e a compreensão de desenvolvimento de Brasil, Bolívia e Peru que contribuem para a ameaça aos isolados”, denuncia o missionário Lindomar Dias Padilha – que atua pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na região há quase 14 anos.

Parte do Igarapé do Xinane fica no Acre e outra parte está em terras peruanas. Sem definição entre os governos dos dois países, o processo de demarcação e homologação do território está incompleto. Os indígenas, no entanto, transitam entre os dois países alheios aos conceitos de Estado Nacional, soberania, fronteiras. No entendimento dos isolados, trata-se de um único território – sendo eles os donos e protetores.

Nisso também não há nada de novo: em 1910, um grupo de índios Kaxinawá escapou da escravidão num seringal no Alto Rio Envira e só retomou contato com a sociedade envolvente em 1955, mas em território peruano, conforme revela Rodrigo Domingues em artigo do livro Povos Indígenas Isolado da Amazônia (2011:80).

“Não dá para discutir soberania nacional com índios em situação de isolamento. Não participam desse processo de discussão. O Estado precisa garantir a sua soberania e implementar de fato políticas de proteção a essa comunidades, mesmo que em conjunto com governos de outros países”, frisa Lindomar.

Fronteira Acre/Peru: concentração de isolados

Estende-se pela linha imaginária que divide o Estado do Acre com o Peru uma das maiores concentrações de povos isolados do mundo. Herdeiros de culturas ancestrais e destacada capacidade de resistência aos mais diferenciados ciclos econômicos e surtos desenvolvimentistas, como o do atual governo, além do próprio Peru e Bolívia, tais povos se refugiaram nas cabeceiras dos rios, afluentes e igarapés da região oeste da Amazônia.

A base da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Envira, mantida pela Funai, é responsável por monitorar e preservar a sobrevivência dos índios isolados do Igarapé do Xiname. Lá atuam os profissionais de mais experiência do órgão. O problema da Funai na região, conforme o missionário, é estrutural, ou seja, o órgão não consegue se relacionar com a Polícia Federal para garantir a segurança dos povos em situação de isolamento.

“São funcionários que ficam ali para defender os índios, mas não conseguem. A pergunta é: como vamos garantir a preservação desses territórios e da vida desses índios?”, questiona. Mas defender esses índios de quais ameaças? Do lado peruano, a ação de madeireiros e do tráfico de drogas, que se aproveita dos igarapés com potencial de navegação; do lado brasileiro pelos grandes empreendimentos tocados pelo governo.

O governador do Acre Tião Viana, filiado ao mesmo partido da presidenta Dilma Roussef, o PT, defende a exploração de petróleo e gás no Estado. Por outro lado, os governos brasileiro e peruano seguem na construção dos 2, 6 mil quilômetros da Rodovia do Pacífico, ou Interoceânica, parte dos acordos dos programas propostos pela Integração Regional Sul-Americana (IIRSA). O empreendimento corta diversas áreas onde vivem povos isolados.

Com isso, as estradas levarão exploradores aos locais mais remotos da região amazônica – local onde os isolados encontram refúgio. A vida longe da sociedade envolvente parece estar com os dias contados.

Modelo de desenvolvimento

Guenter Francisco Lobens, o Chico, é de uma época em que fazer contato com os povos isolados era parte do trabalho indigenista de missionários e antropólogos. Construiu vasta experiência e defende que é essencial acabar com a lógica de que a Amazônia precisa ser ocupada: “É essencial para não expropriar os territórios dos isolados. O problema está aí: o Estado brasileiro não se organizou para fazer essa proteção”.

Os agressores, na opinião de Chico, se sentem então fortalecidos porque elaboram a compreensão de que são agentes do desenvolvimento. A impunidade se consolida no sentimento de que os agressores estão na fronteira do desenvolvimento regional. “São os novos bandeirantes da Amazônia. Se valem disso para escravizar os índios, assassinar, roubar”, analisa Chico.

Se a situação é ruim para os povos contatados, Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, acredita que para os povos isolados é ainda pior. “Em certa medida é uma política planejada porque facilita a esses exploradores (madeireiros, grileiros) afrontarem as terras desses grupos e explorarem os recursos. Se houvesse uma preocupação, essas áreas seriam delimitadas e fiscalizadas”, diz.

O fato de este último ataque ter sido feito por possíveis grupos de narcotraficantes peruanos é, para Liebgott, sinalização de que o governo brasileiro não se articula internamente e tampouco adota medidas externas para a proteção dos povos isolados.

Audiência pública

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB/AC) encaminhou requerimento nesta terça-feira (9) a Comissão de Relações Exteriores do Congresso Nacional solicitando audiência pública para tratar da questão dos povos em situação de isolamento na fronteira do Estado do Acre com o Peru.

Segundo seus assessores, o objetivo é definir um protocolo de ações para apontar soluções ao conflito que se arrasta há anos. Além de colocar em risco a vida dos indígenas, é também motivo de preocupação para a soberania nacional. Serão convocados representantes do Itamaraty, Ministério da Justiça, Funai e entidades indígenas e indigenistas.

WikiLeaks: Brasil no Haiti atende aos interesses dos EUA, precisamos sair!

Post de origem Pragmatismo político

O analista de relações internacionais Mark Weisbrot torna público o teor de um documento americano vazado que mostra como os EUA tentaram forçar o Haiti a rejeitar US$ 100 milhões anuais em ajuda (equivalentes a R$ 50 bi na economia brasileira) porque vinha da Venezuela.

“Como o presidente haitiano, René Préval, se recusou a fazê-lo, o governo americano se voltou contra ele. Consequentemente, Washington reverteu os resultados do primeiro turno da eleição presidencial de novembro de 2010, para eliminar do segundo turno o candidato apoiado por Préval.”

Brasil precisa deixar o Haiti
Por Mark Weisbrot (*)

Telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks deixam claro que as tropas estrangeiras que ocupam o Haiti há mais de sete anos não têm razão legítima para estar no país e que esta é uma ocupação americana, tanto quanto o são as do Iraque e Afeganistão.

Também mostram que faz parte de uma estratégia adotada pelos EUA há décadas para negar aos haitianos o direito à democracia e autodeterminação e que os governos latino-americanos que fornecem tropas -entre eles, o brasileiro- estão ficando cansados de participar.

Um documento americano vazado mostra como os EUA tentaram forçar o Haiti a rejeitar US$ 100 milhões anuais em ajuda (equivalentes a R$ 50 bi na economia brasileira) porque vinha da Venezuela.

Como o presidente haitiano, René Préval, se recusou a fazê-lo, o governo americano se voltou contra ele. Consequentemente, Washington reverteu os resultados do primeiro turno da eleição presidencial de novembro de 2010, para eliminar do segundo turno o candidato apoiado por Préval.

Isso foi feito por meio da manipulação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de ameaças abertas de cortar o auxílio pós-terremoto concedido ao país desesperadoramente pobre, se ele não aceitasse a mudança. Tudo isso é amplamente documentado. As tropas da ONU foram levadas ao Haiti para ocupar o país depois de os EUA terem organizado a deposição do presidente haitiano democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide, em 2004.

Cerca de 4.000 haitianos foram perseguidos e mortos no período que se seguiu ao golpe, sendo autoridades do governo constitucional detidas enquanto as tropas da ONU “mantinham a ordem”.

Outro documento vazado mostra como Edmund Mulet, o então chefe da missão da ONU (a Minustah), receou que Aristide pudesse reconquistar sua influência e recomendou que fossem registradas denúncias criminais contra ele.

Mulet vem sendo abertamente enviesado em suas interferências na política haitiana e tachou de “inimigos” os haitianos que se revoltaram com o fato de a missão ter levado o cólera ao Haiti. Hoje 380 mil haitianos foram contaminados pela doença, que já matou 5.800.

Se a Minustah fosse uma entidade privada, estaria encarando ações judiciais pedindo reparações de muitos bilhões de dólares, além de uma possível ação criminal em razão de sua negligência hedionda ao poluir as fontes de água do Haiti com essa bactéria mortífera.

Ironicamente, o custo anual da Minustah, US$ 850 milhões, é mais de nove vezes o que a ONU levantou para combater a epidemia. O Brasil não é um império, como os EUA, e não tem razão para ser parceiro júnior de um, especialmente em empreendimento tão brutal e censurável. Isso contraria tudo o que representam Lula, Dilma e o PT.

Isso eviscera o potencial do Brasil de exercer liderança moral no mundo -algo que o país já demonstrou em muitas áreas, desde as mudanças históricas iniciadas sob a administração de Lula. Já passou da hora de o Brasil retirar suas tropas do Haiti.

 

Ministro Padilha, até quando vai dar dinheiro do SUS para SP entregar aos planos privados?

por Conceição Lemes

Nessa terça-feira, 9 de agosto, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE) deu entrada à ação civil pública, com pedido de liminar, contra a lei estadual que permite aos hospitais públicos geridos por Organizações Sociais de Saúde (OSs) destinar até 25% dos leitos e outros serviços para planos de saúde e particulares.

A ação responde à representação de diversas entidades da sociedade civil, entre as quais o Grupo Pela Vidda-SP, que a liderou, o Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP) e o Conselho Estadual de Saúde, cujo presidente é o próprio Secretário estadual da Saúde.

Assinam-na os promotores Arthur Pinto Filho e Luiz Roberto Cicogna  Faggioni, da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos e Saúde Pública do MPE. Eles pedem à Justiça que declare a inconstitucionalidade e ilegalidade da lei paulista, além de impedir que o governo estadual celebre contratos de gestão, alterações e aditamentos entre OSs e planos de saúde.

A lei em questão é a complementar nº 1.131/2010, mais conhecida como Lei da Dupla Porta, do ex-governador Alberto Goldman (PSDB) e regulamentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), medianteo decreto nº 57.108/2011.

Sábado passado, 6 de agosto, a Secretaria Estadual de Saúde publicou no Diário Oficial do Estado a resolução nº 148, que autoriza os dois primeiros hospitais públicos a vender 25% da sua capacidade para usuários privados.  São o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e o Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo “Dr. Euryclides de Jesus Zerbini”, ambos de alta complexidade.

“Permitir que os hospitais geridos por OSs vendam até 25% dos seus serviços para  planos de saúde é a prova provada de que esse sistema é muito mais caro do que a administração direta”, alerta o promotor Arthur Pinto Filho. “É a forma mais cruel que o estado de São Paulo poderia ter arrumado para capitalizar a saúde, já que seus hospitais públicos de alta complexidade são claramente insuficientes para atender à demanda dos usuários do SUS [Sistema Único de Saúde].”

Os hospitais de alta complexidade são o maior gargalo da rede pública de saúde. Em vez de diminuí-lo, para melhorar o acesso à assistência, o governo paulista vai aumentá-lo, tirando-lhes até 25% da capacidade para entregar de bandeja aos planos de saúde e particulares.

Em português claro: o governo paulista escolheu sustentar um modelo de gestão que está fazendo água –tem um rombo de R$ 147 milhões — à custa de uma perversão.

Os dois vão lucrar. O governo tucano manterá a forma de gestão pelas OSs, um sistema financeiramente falido. E os planos de saúde vão receber 25% dos leitos públicos sem investir um tostão nos hospitais públicos.

É mel na sopa para os planos e seguros de saúde. Em São Paulo, o setor suplementar vive um “overbooking hospitalar”: como os planos de saúde venderam mais do que a capacidade da rede conveniada – só em 2010, houve crescimento de 10% –, os pronto-socorros estão lotados e há fila para internação de clientes de planos, pois faltam vagas.

Daí por que os planos só têm a ganhar com a lei paulista. Além de desonerar os seus custos, ao usar a capacidade instalada dos hospitais públicos, eles “turbinam”  sua rede credenciada de alta complexidade, hoje medíocre e insuficiente.

“Os planos lucram agora e certamente serão generosos em ano eleitoral”, conjectura Mario Scheffer, especialista em saúde pública e presidente do Grupo Pela Vidda-SP, com base em estudo feito por ele e a médica sanitarista e doutora em saúde pública Lígia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Em 2010, sem contar possível caixa 2, os planos de saúde deram R$ 12 milhões declarados para campanhas eleitorais, inclusive do governador Geraldo Alckmin.”

Desde já, Scheffer prevê:

1. Ao ostentar em suas redes credenciadas os hospitais do SUS, os planos de saúde exigirão como contrapartida o atendimento diferenciado de seus clientes.

2. Os usuários de planos, já com o diagnóstico em mãos, serão atendidos rapidamente, enquanto os usuários do SUS, até serem encaminhados pela rede básica, aguardarão meses para o agendamento. “É assim que funciona a dupla porta do Incor e do complexo HC-FMUSP, modelo que agora será estendido ao Icesp e ao Hospital dos Transplantes”, ressalta Scheffer.

“Os que tentam recobrir a discussão com verniz caritativo mais parecem corretores de imóveis negociando nacos de serviços públicos, na lógica de que os pacientes se dividiriam entre SUS-não-pagantes e planos-pagantes, os salvadores da pátria”, detona a professora Lígia Bahia. “Mas as contas não fecham, até porque os valores da remuneração dos planos são muitas vezes mais baixos que os praticados pelas instituições oficiais.”

Como boa parte dos hospitais geridos por contratos de gestão via OSs está quebrada, precisando “para ontem” de dinheiro novo, as organizações sociais de saúde não contempladas nesse primeiro momento vão pressionar a Secretaria Estadual  para também vender até 25% dos seus serviços.

Resultado: para reduzir o rombo nas OSs se ampliará a exclusão dos mais pobres, indo contra a Constituição Federal, pois fere o princípio da isonomia, e ainda destruirá o próprio SUS.

Por isso, ministro Alexandre Padilha, pergunto ao senhor o que as mais de 40 entidades que subscreveram a representação ao Ministério Público gostariam de saber:

1) Até quando o Ministério da Saúde vai continuar dando dinheiro para São Paulo entregar aos planos privados de saúde?

2) Não seria o caso, ministro,  de já iniciar o processo de desabilitação de São Paulo da gestão plena do SUS? 

Financiar a saúde privada em detrimento do SUS não tem cabimento, é demais.

LEIA MAIS Alckmin vende até 25% dos leitos hospitalares do SUS para reduzir rombo de R$ 147 milhões nas OSs

CARTA ABERTA DA PLENÁRIA DO MOVIMENTO LGBT DE SÃO PAULO

Por LGBT 03/08/2011 às 20:32

EM DEFESA DO PLCNº 122 DE 2006 A PLENÁRIA DO MOVIMENTO LGBT DE SP, convocada por um amplo conjunto de redes e organizações do movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais do Estado de São Paulo, realizada no dia 28 de Julho de 2011, na sede da APEOESP na capital paulista, após um intenso, rico e democrático debate sobre as perspectivas e os rumos da luta pela criminalização da homofobia e da necessidade de defendermos o PLC nº 122 de 2006, vem a público por meio dessa carta aberta manifestar nossas posições sobre este tema.1. Todos os dias, milhões de brasileiras e brasileiros lésbicas, gays, bissexuais, travestis e ou transexuais ? LGBT – têm violados os seus direitos humanos, civis, econômicos, sociais e políticos. Essa violação é conseqüência da homofobia, uma das manifestações de ódio e de intolerância contra a humanidade que decorre da ideologia patriarcal e do machismo, e da negação à diversidade sexual, atingindo não apenas a população LGBT, como vimos recentemente na agressão a um pai e seu filho que estavam abraçados e foram ?confundidos? como homossexuais. Essa discriminação ocorre tanto no espaço familiar, quanto em locais de trabalho, de lazer, na escola, ou seja, em todos os ambientes de convívio, doméstico e social. E, embora a forma mais aguda e bruta da homofobia seja a dos assassinatos ? e o Brasil é recordista mundial nesta lamentável contagem ? este ódio passa também pelas piadas ofensivas a LGBT, pelo discurso religioso e parlamentar, pela exclusão escolar, pelo impedimento do acesso ao trabalho ou pela demissão do emprego e a pura e simples negação de direitos. Se é verdade que o Supremo Tribunal Federal aprovou recentemente o reconhecimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo com o mesmo ?status? das uniões estáveis, também é verdade que o Congresso Nacional não aprovou até hoje nenhuma legislação reconhecendo direitos à população LGBT, apesar de já existirem projetos nesse sentido desde 1995. Esse fato aponta para a extrema covardia do legislativo brasileiro que se esconde por trás das falácias dogmáticas, negando o principio constitucional da Laicidade do Estado que veta qualquer interferência religiosa, corroborando para o aumento das estatísticas de violência homofóbica no país,

2. Acreditamos que as raízes da homofobia são as mesmas de outras formas de opressão que afrontaram a humanidade e que mantém seus pilares até nossos dias: o holocausto nazista contra o povo judeu, o racismo, o machismo e todas as desigualdades sociais. Portanto, a luta contra a homofobia deve estar ao lado da luta de mulheres, comunidade judaica, negras e negros, bem como outros segmentos oprimidos, contra qualquer forma de discriminação. Alertamos, que não há hierarquia de opressões, portanto qualquer que seja o tipo de discriminação, violência e opressão, ela deve igualmente ser punida.

3. O PLC nº 122 de 2006 é uma proposta de legislação condizente com as políticas de direitos humanos da República Federativa do Brasil e contém as garantias mínimas e necessárias para uma lei que de fato criminalize a homofobia e sirva antes de tudo como um instrumento pedagógico de afirmação do compromisso do Estado e da sociedade em nosso País, de combate a esta e a qualquer outra forma de opressão. Reafirmamos nosso ponto de vista no sentido de que não há nada no PLC nº 122 de 2006 que possa ser caracterizado como inconstitucional – por ser evidente que a liberdade de expressão não protege discursos de ódio e discursos que incitem a discriminação e/ou o preconceito em geral – e o Senado Federal tem a obrigação política, como uma casa legislativa e de representação da sociedade, de aprová-lo sem mais delongas.

4. Alertamos ainda que qualquer proposta alternativa ao PLC nº 122 de 2006 será inaceitável, para aquelas e aqueles que de fato têm compromisso na luta contra a homofobia, se não trouxer em seu conteúdo dispositivos hoje presentes no PLC nº 122 de 2006, como a proposta referente ao artigo 20 da Lei nº 7.716 de 1989, e tal proposta jamais poderá ser inferior aos parâmetros legais da criminalização do racismo.

5. Apelamos aos parlamentares que têm sido aliados as lutas de direitos humanos e da população LGBT em nosso País para que não negociem textos novos, emendas ou substitutivos, que impliquem em previsão legal da tipificação criminal da homofobia em bases inferiores ao racismo ou qualquer outra opressão e violência. Numa legislação de direitos humanos, é inaceitável que se hierarquize as opressões, como se uma fosse mais grave do que a outra.

6. Conclamamos a militância LGBT de todo o Brasil à mobilização em torno da defesa do PLC nº 122 de 2006 e pela criminalização da homofobia nas mesmas bases do racismo, e propomos que essa mobilização nacional se dê especialmente nas ruas, na perspectiva de um dia nacional de luta em defesa do PLC nº 122 de 2006 e pela criminalização da homofobia.

7. Aconstrução de uma sociedade efetivamente democrática passa pelo reconhecimento dos direitos de todas e de todos, sem exclusões de qualquer tipo, razão pela qual a luta pela criminalização da homofobia, mais do que uma luta da população LGBT, é uma luta de todas as brasileiras e todos os brasileiros.

Post de origem CMI

Professores federais: Sem diálogo, governo Dilma cassa direitos

Post de origem Vi o mundo

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO:

Entenda a GREVE na Rede Federal de Ensino

via Chico Capeta, no twitter@chcapet

Nós trabalhadores da rede Federal de Ensino, vinculados ao Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), que abrange servidores(as) Docentes e Técnicos-Administrativo(as) em Educação lotados(as) nos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia(IFs), no Instituto de Educação para Surdos(INES), nas Instituições Militares de Ensino, na Educação Federal dos Ex-Territórios e no Colégio Pedro II/RJ, decidimos entrar em greve para exigir respeito do governo federal. Exigir respeito não só com a nossa categoria, mas também exigir um tratamento digno e respeitoso com a educação pública de qualidade que oferecemos à população brasileira.

Temos enfrentado inúmeras situações prejudiciais à nossa categoria e às nossas instituições e tudo isso nos levou a dar um basta e exigir uma mudança de posição por parte do Governo Dilma. Entenda melhor alguns desses desrespeitos:

Desde julho do ano de 2010 (mais de um ano) tentamos negociar nossas reivindicações com o Governo Federal e somos ignorados ou relegados a um segundo plano, talvez por opção política de quem deveria procurar dialogar e negociar com os trabalhadores e trabalhadoras da nossa rede.

Assim que assumiu, a presidente Dilma vem anunciando uma série de cortes orçamentários e, o pior, uma boa quantia na área da Educação. Dentro do corte oficial, previsto inicialmente em 50 bilhões de reais, mais 3,5 bi saíram da Educação. Com estes cortes problemas que já existiam foram se somando: os concursos foram suspensos e nossos direitos básicos estão sendo negados, subitamente redefinidos, ou até mesmo retirados, sem um diálogo com nossa representação sindical.

Além dos cortes orçamentários, também já estão em tramitação no Congresso Nacional projetos que afetam as nossas vidas e, consequentemente, as vidas dos alunos(as) que atendemos na rede. São projetos que definem um congelamento de gastos com servidores públicos pelos próximos dez anos, outros projetos que transformam a avaliação de desempenho em instrumento de demissão, e,ainda, prevêem a retirada de direitos que nos mantiveram até hoje na luta pela manutenção da qualidade de ensino nas IFEs onde trabalhamos.

Também não somos diferentes de trabalhadores (as) da iniciativa privada, que sabem muito bem os efeitos de uma crise que já começa a assustar a todos (as) ,a partir do aumento dos produtos e serviços – desde a cesta básica, até os serviços essenciais como luz, gás, telefone, entre outros. Ou seja, temos identificado no nosso dia-a-dia a retomada do fantasma da inflação e das perdas salariais que ele causa e que começam a rondar nossas vidas novamente.

Além de nos preocuparmos com nossos salários e com nossos direitos econômicos e corporativos, temos também a preocupação de defender e ampliar ainda mais a qualidade dos serviços que prestamos à sociedade.

Nós últimos anos, a expansão da Rede Federal de Ensino tem trazido demandas que partem da estruturação dessas novas unidades até a manutenção e melhoria daquelas que já estão defasadas pelas décadas de existência. Isso sem falar da regularização daquelas unidades que nem sequer saíram do papel e da promessa de campanha do atual governo.

Para que a expansão seja realizada é preciso muito mais do que promessas e notícias vazias por parte do governo. Um governo que quer continuar utilizando a Educação como bandeira de administração, não deve, ao mesmo tempo, iniciar o mandato retirando mais de 3,5 bilhões de reais da Educação. É necessário respeitar professores(as), técnicos-administrativos(as), pais, estudantes, enfim, respeitar toda a comunidade escolar.

Estamos partindo para uma greve exatamente porque não tivemos a oportunidade de negociar a nossa pauta, já que o governo tomou a decisão de enrolar os servidores(as) e seus sindicatos, nas mesas que deveriam ser de negociação. Estamos neste embate contra a nossa patroa, exatamente pela falta de perspectiva para a atendimento de questões que entendemos como fundamentais para toda população. O governo já estabeleceu que irá economizar com os nossos salários, com a suspensão de mais concursos para novos servidores(as), com a redução de recursos na ampliação da rede federal de ensino, entre outras questões que consideramos inadmissíveis.

Exigimos continuar construindo uma educação pública de qualidade, e para isso pretendemos que nosso movimento grevista possa denunciar as práticas desse novo governo e também estabelecer um novo patamar nas negociações que devem atender minimamente às nossas reivindicações e às exigências de nossas comunidades escolares.

Contamos com o seu apoio ao nosso movimento e também esperamos que possam exigir do governo que estabeleça um processo negocial com nosso Sindicato Nacional, buscando resolver o mais rápido possível os impasses que venham a ser gerados pela greve da nossa categoria.

PELA RETOMADA JÁ DOS CONCURDOS PUBLICOS COM O FIM DAS TERCERIZAÇÕES E DA PRECARIZAÇÃO NAS NOSSAS ESCOLAS

PELA VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, COM A REESTRUTURAÇÃO DAS CARREIRAS E REAJUSTE DE SALÁRIOS BASE

CONTRA OS PROJETOS DE LEI QUE CONGELAM GASTOS COM SERVIÇOS E SERVIDORES(AS) PÚBLICOS, QUE ESTABELECEM AVALIAÇÃO PARA DEMISSÃO DOS SERVIDORES(AS), CRIAM FUNDOS PRIVADOS DE PREVIDÊNCIA NO SERVIÇO PÚBLICO E DEMAIS PROJETOS QUE TRAMITAM NO CONGRESSO PARA RETIRAR DIREITOS

A REFORMA AGRÁRIA QUE O GOVERNO NÃO FEZ

Post de origem Blog do Chico

A reforma agrária no Brasil é um fiasco – e, apesar da retórica do “nunca antes”, infelizmente é preciso reconhecer que uma parcela e tanto da responsabilidade por esse fracasso retumbante deve ser atribuída aos governos Lula e Dilma. E não se trata de denúncia feita por adversário político ou pela mídia oposicionista, mas de constatação oferecida pela reportagem principal da revista “Carta Capital” que está nas bancas. A publicação traz na capa, laconicamente, uma foto que, em primeiro plano, mostra um boné vermelho do Movimento dos Sem-Terra (MST) pendurado em uma cruz branca (e há várias delas enfileiradas em um gramado, como se olhássemos para um cemitério), com a manchete estampando em amarelo um sonoro e lamentável “Reforma agrária, descanse em paz”. Ainda na capa: “nos governos do PT, o programa refluiu”.

Os números apresentados na matéria, escrita por Ricardo Carvalho e Soraya Aggege, são implacáveis e revelam que, triste, não passou de bravata, jogo de cena e discurso vazio a fala do ex-presidente Lula, ainda no início do primeiro mandato, quando afirmou que resolveria a tragédia da concentração da terra no Brasil com uma canetada (“faltou tinta na caneta”, provoca o texto).

“O índice de Gini, em 1967, era de 0,836 (quanto mais perto de 1,0, mais concentrado é o modelo). Em 2006, data do último Censo Agrário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), era de 0,854. Outro dado, do mesmo censo, dá uma dimensão mais clara da concentração. As pequenas propriedades, com menos de 10 hectares, ocupam 2,36% do total de terras, embora representem quase metade (47,86%) dos estabelecimentos rurais. Já os latifúndios, com mais de mil hectares, somam menos de 1% das propriedades e controlam 44,42% terras, situação com poucos similares no mundo”, destaca a matéria.

Mesmo os números oficiais, divulgados e defendidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que diz ter assentado 614 mil famílias entre 2003 e 2010, são questionados na matéria pelo geógrafo Ariovaldo Umbelino, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos principais especialistas no tema do país. Segundo ele, “o governo Lula teria assentado apenas 154,2 mil famílias em oito anos”. A divergência acontece porque, na avaliação de Umbelino, “o governo coloca no mesmo balaio 303,6 mil famílias beneficiadas por uma reordenação fundiária que significa trocar um assentado de uma terra para outra, 154 mil por regularização e 2,3 mil que foram removidas por conta de construção de barragens”.

Diante dos números que a revista escancara, o que parece ficar claro é que os governos petistas fizeram uma consciente opção política: incentivar e endeusar o agronegócio exportador e favorecer os grandes proprietários de terra, buscando assim sustentar a participação do Brasil no mercado internacional (o país continua a ser um dos principais exportadores de produtos agrícolas do planeta), com gestos apenas tímidos e pontuais em relação aos miseráveis das zonas rurais.

O que causa ainda mais indignação é que esse estágio – a concentração no campo continua a mesma da época da ditadura militar, reforça a matéria – foi atingido em administrações que foram eleitas com a esperança confessa de que agissem fortemente para reverter essa lógica, invertendo prioridades e olhando com carinho para as demandas populares. Infelizmente, moveram-se para reforçar a exclusão. O todo-poderoso econômico mais uma vez prevalece sobre o social. A perspectiva de lucros e ganhos imediatos – e concentrados – supera o ideal de uma sociedade mais justa e civilizada, não marcada por desigualdades.

Aliás, mesmo o argumento que diz “não é interessante investir em reforma agrária porque o que resulta dela não é competitivo e não alavanca desenvolvimento nacional” é refutado pela reportagem de “Carta Capital”. No texto, Guilherme Delgado, economista e professor da Universidade Federal de Uberlândia, afirma que “a pequena propriedade, por vocação, é pluricultural. Se houver políticas públicas de garantia de preços e sistemas de concessão de créditos, não tenho dúvidas que a agricultura familiar e a média propriedade têm total capacidade de produzir excedentes”. É uma questão de orçamento, de apoio e estrutura. E de vontade política.

Para além da reportagem, mas como reflexão que ela suscita, preocupante também é notar que outro resultado negativo das administrações federais petistas é um recuo gritante no número de ocupações de terra (principal instrumento de luta política e de pressão para realização da reforma agrária). Em 2003, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou 391 ocupações no Brasil; em 2004, esse número atingiu o pico (496 ocupações) e, desde então, conheceu quedas vertiginosas, ano a ano: foram 437 em 2005, 384 em 2006, 364 em 2007, 252 em 2008, 290 em 2009 e 180 em 2010. Para efeito de comparação, se considerarmos o primeiro e o último anos dos dois mandatos do ex-presidente Lula, a redução é de 55%. Ao dar legitimidade e força à lábia “agora vocês têm governos aliados”, as gestões petistas conseguiram desmobilizar e arrefecer o ímpeto das ações dos movimentos de trabalhadores sem-terra. E a reforma agrária não andou. O PSDB não faria melhor.

E para os arautos de uma suposta modernidade que pensam que a reforma agrária é coisa do passado, iniciativa arcaica, anacrônica e descolada da realidade dos tempos de capitalismo globalizado, o professor Ariovaldo Umbelino alerta, em entrevista publicada pelo site do Instituto Humanitas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), que “o Brasil possui os maiores latifúndios que a humanidade já registrou, ou seja, não há limite para o tamanho das propriedades do país. É uma excrescência, do ponto de vista internacional, um país ter propriedades privadas que são maiores do que unidades federativas que possui, sem falar que algumas são ainda maiores do que muitos países existentes no mundo. Então, é evidente, como eu disse, que existe uma questão fundiária ainda não resolvida”. Para ele, “é evidente que o Brasil tem uma estrutura fundiária altamente concentrada nas mãos das elites que controlam terras que não lhes pertence, o que é um contra-senso e uma ilegalidade denunciados pelos movimentos sociais”.

Será que este Brasil é mesmo um país de todos? E se país rico é país sem pobreza, o que dizer deste Brasil?

(Outro dado importante é que além do latifúndio a expansão do agronegócio tem sido  o grande empecilho pra avançar na reforma agrária.)

Globo recebeu bagatela de R$ 30 milhões para organizar festinha da copa

Do bolso do contribuinte para os cofres da Globo. Vergonha!



Depois dizem que é implicância. Mas a Globo recebeu R$ 30 milhões para organizar o evento em que foi realizado o sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014. Quem pagou a conta? Adivinha? A iniciativa privada? A Fifa? As empresas fantasmas de Ricardo Teixeira? Vai ser o governo do Estado e a prefeitura do Rio de Janeiro. Dinheiro público!É o fim da picada. É muita cara de pau. É um descalabro. Perderam completamente o pudor. Por que o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes resolveram sangrar os cofres do povo para patrocinar um evento que deveria ser pago pelos donos da festa, a Fifa e a Globo? Por quê? Por quê?

Enlouqueceram? Claro que não. Essa turma faz isso há décadas, debaixo do nosso nariz. Todo mundo sempre soube que a conta toda dessa Copa do Mundo ia sobrar para o Estado brasileiro. Mas eles não precisavam exagerar. Faltou um mínimo de decência.Os R$ 30 milhões pagos pelos contribuintes servirão para remunerar a Geo Eventos, empresa das Organizações Globo e do Grupo RBS. Ela foi contratada com exclusividade pelo Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 para conseguir patrocínios para a tal festinha, que foi realizada dia 30 de julho.

Dizem os representantes da Geo que foram ao mercado e não encontraram nenhuma empresa interessada em por a mão no bolso. Duvido. Foram direto aos amigos de sempre, na certeza de que seriam atendidos, sem nenhum esforço. E cabe a pergunta: se ninguém se interessou em patrocinar essa bagaça, por que logo o governo do Estado e a prefeitura teriam que se meter a trouxas?

Quando vierem as próximas enchentes, quando outro bueiro explodir, quando algum turista for assassinado na orla, quando houver um novo arrastão no Túnel Rebouças, todos temos a obrigação de lembrar como é usado o dinheiro dos cidadãos cariocas e fluminenses. Tá vendo como esse pessoal se liga em você?
Por Marco Antonio Araujo, no blog O Provocador: