Semana aziz ab’ saber do meio ambiente em Conceiçãozinha. Não conhece? Bora então, conhecer um pouco de cultura caiçara?

id_9002_coAproximadamente um quilômetro da margem de Santos, do Estuário e dois quilômetros da Ponta Praia, está o sítio Conceiçãozinha (localizado em Vicente de Carvalho – Distrito de Guarujá), onde reside uma comunidade caiçara de costumes e tradições riquíssimas, porém, quase esquecida no tempo e espaço, devido, a dinâmica das cidades que vão crescendo, se expandido, e na maioria das vezes, excluindo comunidades tradicionais.

conceicaozinha2Para quem não sabe a palavra caiçara é de origem tupi, e refere-se à grupos de pessoas que vivem em áreas litorâneas, cuja forma de sobrevivência advém da pesca e da agricultura de subsistência, no caso, Conceiçãozinha é bem isso, uma comunidade que vive da pesca artesanal e da agricultura, com uma culinária diversa de vegetais e com o pescado que serve tanto para consumo como para o escambo, pequenas vendas e troca por produtos como como sal, feijão, açúcar, café, arroz, óleo, querosene (para iluminação), fósforos, tecidos, e alguns outros materiais.

Resistência Caiçara

imagesSegundo relatos de moradores antigos, a área do sítio já foi muito maior do que é hoje, outros bairros ao redor pertenciam ao sítio que ao longo dos anos foi sendo dividido, e hoje, o sítio está reduzido a 450,000 metros quadrados, equivalentes a 450 metros de largura por um quilômetro de cumprimento. Ainda assim, a comunidade resiste ao processo de “desenvolvimento” numa área portuária onde é preciso viver junto com os problemas existentes produzidos por empresas que vão se instalando, e que não possuem nenhum respeito ao meio ambiente, nem pela comunidade, pois vale ressaltar que toda a área do sítio é de vegetação de manguezais e há tempos vêm sofrendo impactos, devido substâncias químicas depositadas, e também por causa de todo o esgoto do Estuário que em épocas de cheia da maré as margens do bairro que é cortado pelo rio Santo Amaro ficam impregnadas de lixos domésticos de navios, por isso, pouco a pouco toda a região vai sendo degradada, sem contar que a própria comunidade acaba em condição insalubre.

Entretanto, a Comunidade de Conceiçãozinha todos os anos celebra a importância histórico/cultural de sua existência, para ter uma ideia, essa comunidade reside sobre antigas terras Tupinambás, e assim como os índios a maior parte de suas histórias foram transmitidas e encontram-se preservadas por meio da oralidade. (há alguns anos, algumas ONGs começaram a tecer registro histórico escrito) E de acordo com relatos de antigos moradores alguns sítios arqueológicos com artefatos indígenas já foram encontrados em Conceiçãozinha e reforçam a história que é contada há gerações. (os materiais foram levados para São Paulo) A presença também de ruínas de uma velha capela, na margem oposta à comunidade, no rio Santo Amaro, contribui para comprovar as histórias, pois, caracterizam passagem jesuítica pela região, segundo alguns moradores, a comunidade teria origem Guarani, ou talvez Tamoio, do grupo tupinambá 12, termo qual eram conhecidos os tupis da costa da serra do mar.

O resgate da memória de uma história patrimônio cultural

A celebração este ano de Conceiçãozinha estará realizando a semana do meio ambiente, onde haverá debates, apresentações culturais, visitas, oficinas de redes biodegradáveis e também seminário de histórias caiçara, entre outras atividades, a ideia é apresentar a comunidade Caiçara de Conceiçãozinha, além de conscientizar a sociedade da importância de preservar a cultura caiçara e proteger o meio ambiente.

Por enquanto, é só, a Rádio da Juventude estará acompanhando e mais informações divulgaremos se possível com os próprios relatos dos moradores de Conceiçãozinha, pois a identidade cultural de um povo é o que mais rico a humanidade é capaz de produzir, e, no entanto, Conceiçãozinha há algumas décadas persiste contra o desenvolvimento predatório que devasta o meio ambiente e não respeita costumes, hábitos, crenças e toda essa gama de tradições tão importantes e fundamentais.

Referência: Trabalho de Conclusão de Curso, 2002: Sítio Conceiçãozinha – O Impacto da Urbanização e Industrialização em uma Comunidade Tradicional Caiçara, do Professor Carlos Eduardo Vicente.

Segue programação:

DATA: 05/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – sede do VIOLODUM

09h00 – Abertura com a apresentação do Grupo VIOLODUM

● Carlitos de Jesus fala sobre a história do VIOLODUM

● Cine vídeo Ambiental

● Ingrid Oberg – Escritório do IBAMA Santos – “Problemas Ambientais da Baixada Santista”

● Mostra dos painéis de todas as atividades dos anos anteriores

● Exposição e venda de quadros de talentos da Comunidade

● Oficina Caiçara de redes biodegradáveis (cordone)

● Início da Elaboração do Mapa Ambiental e Cultural da Conceiçãozinha.

DIA 06/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – sede do VIOLODUM

09h00 – Professora Conceição fala sobre momentos importantes de ações socioculturais realizadas na Conceiçãozinha

● Cláudia Soukup – “Arborização nas Cidades e Aquecimento Global”

● Saída ônibus do programa “Caminhos da Mata” – Roteiro das Praias

● Início do replantio de mudas de Ipês, Jussara – Aroeiras, Abricós, Amoreiras, Palmeiras de Jerivás, Jambolões – Goiaba – Jaca – e Construção de um mapa (GPS) com referencia geográficas dessas arborizações (GPS)

● Oficina com literaturas Ambientais de cordel, tema: “Planeta Terra” Oficina de rede biodegradável – “Demonstração e aprendizado das redes biodegradáveis – Redes – Cordéis do Cordonê – Redes cordonê versus redes de poliéster.

DATA: 07/06/2013

Local: Unifesp de manhã e Teatro Guarany na parte da tarde

Um dia de meio ambiente com a Universidade Federal de São Paulo (Campus da baixada santista)

Saúde socioambiental

08h30 horas – ECOSOL, PESCA E AQUICULTURA

LOCAL: Saguão do Edifício Central, à Rua Silva Jardim, 136 – Vila Mathias, Santos/SP

14h00 horas – OS DESAFIOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA

LOCAL: Teatro Guarany à Praça dos Andradas, 100 – Centro, Santos- SP

DATA: 08/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – encontro na sede do VIOLODUM

09h00 – Visita de Barco nas Praias do Rio Santo Amaro e ilha Barnabé com barco da Comunidade e apoio barco da SEMAM, com possibilidade de passagem pela Casa Flutuante e Sala Verde no Caruára.

DATA: 10/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – sede do VIOLODUM

09h00 – Visita de alunos da Comunidade para estudos das Espécies da fauna e flora local, arborizações, pontos culturais existentes no Bairro (fotos Relatórios entrevistas) etc. apoio da Equipe de EA da SEMAM

DATA: 11/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – encontro na sede do VIOLODUM

09h00 – Limpeza dos Manguezais do Sitio

DATA: 12/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – encontro na sede do VIOLODUM

09h00 – Visita a Lagoa das Marrecas e as ruínas do Casarão nas matas do Sitio Conceiçãozinha, com participação da Equipe de EA da SEMAM

DATA: 13/06/2013

LOCAL: Conceiçãozinha – encontro na sede do VIOLODUM

09h00 – Elio Lopes dos Santos – “Poluição Estuarina, Dragagem e os impactos socioambientais”

09h45 – Secretária de Cultura Mariângela de Araújo Gama Duarte – “A Cultura Caiçara”.

● Apresentação do resultado da elaboração do mapa de arborização e cultural construído no bairro com espécies da fauna e da flora local

● Avaliação dos cordéis

● Entrega de Certificados aos Participantes e documento final sobre as questões Ambientais, seus impactos nos entornos tal qual no Planeta.

● Apoio da Equipe de EA da SEMAM

Copa do mundo pra quem?

O Governo fecha os olhos, a mídia não mostra, a classe política em sua maioria se acovarda. Quem cala consente. Temos que nos organizar, denunciar e enfrentar este extremo abuso de direitos humanos que está ocorrendo no Brasil.

COPA 2014: QUEM GANHA ESTE JOGO?

Vídeo lançado pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa na 23ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), denunciando as violações de direitos humanos que estão ocorrendo para a realização da Copa 2014.

COMPARTILHEM!

Fortaleça a solidariedade com as famílias do México 70!

As cerca de 100 famílias que estão alojadas temporariamente na escola Lúcio Martins Rodrigues (devido o incêndio no México 70) contam com a solidariedade de toda a sociedade.

Estivemos no local e percebemos que a população tem conseguido superar a tragédia. No entanto, reconstruir toda a vida não é nada fácil, e mesmo contando com o bolsa aluguel de R$ 400,00, toda solidariedade é bem vinda!

Segundo algumas pessoas com quem conversamos, a previsão de acordo com a Prefeitura é que nesta quarta-feira (22)  todas as famílias já tenham conseguido locar uma casa e a escola volte as atividades.

Como sabemos que as coisas não são bem assim, divulgaremos mais informações aqui pelo blog, pois, se as famílias continuarem na escola, quem puder aos sábados e aos domingos colaborar como voluntário na cozinha, ou com atividades com as crianças, é muito importante! ( manteremos informados sobre o assunto, ok)

Ouça o áudio com o Sr Enoque:

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/92830348″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

 

Materiais com urgência:

* Lenço umidecido

* Sabonete infantil

* Copos plásticos

* Presto Barba

* Mucilon

Quem puder ajudar os pontos de recolhimento são:

Vila do Teatro – Centro de Santos ao lado da rodoviária.

UNIFESP –  rua Silva Jardim 136 Santos Vila Mathias

Colégio Lúcio Martins Rodrigues – rua Odair Miller A. Marques, nº 434 – Vila Margarida  São Vicente Fone: 3464-6289

Centro Comunitário Saquaré – rua Mascarenhas de Morais – Igreja Bom Jesus dos Navegantes próximo ao mercado Atalaia: 3463-0229

Urgente: Vitimas de incêndio precisam de ajuda de toda a sociedade! Vamos nos mobilizar galera!

(08) de maio na Vila Margarida ( México 70) em São Vicente, houve um terrível incêndio em que muitas famílias perderam tudo.

Estão alojadas temporariamente na escola Lúcio Martins Rodrigues. Estão precisando neste momento principalmente de roupas de adultos e crianças e de fraldas descartáveis e produtos de higiene e cobertores, pois, as noites estão bem frias.

Quem puder ajudar os pontos de recolhimento são:

Vila do Teatro – Centro de Santos ao lado da rodoviária.

UNIFESP –  rua Silva Jardim 136 Santos Vila Mathias

Colégio Lúcio Martins Rodrigues – rua Odair Miller A. Marques, nº 434 – Vila Margarida  São Vicente Fone: 3464-6289

Centro Comunitário Saquaré – rua Mascarenhas de Morais – Igreja Bom Jesus dos Navegantes próximo ao mercado Atalaia: 3463-0229

Vídeo

http://www.facebook.com/photo.php?v=196999060448184

Parque Estadual Xixová-Japuí na mira da especulação.

O Secretário Estadual do Meio Ambiente de SP, Bruno Covas esteve nesta terça-feira (30) em São Vicente e anunciou investimento de um milhão de reais para o Parque Estadual Xixová-Japuí. Os recursos serão financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. No local serão construídos uma guarita de proteção, um novo centro de visitantes e uma sede administrativa.

Com intuito de atender os turistas, e preocupado com a organização turística que não gere impacto ambiental, o Secretário alegrou o Prefeito Vicentino Billi e acrescentou que este investimento irá promover uma interação entre o Parque e as comunidades locais.

Será mesmo? A comunidade foi consultada? 

Interessante mesmo seria saber o que foi proposto sobre a questão indígena no Parque, já que o Poder Público parece ignorar essa questão, como já citado aqui no blog (ver link abaixo) o Parque é um bioma de mata atlântica riquíssimo. (dos poucos remanescentes) além de uma área de reserva indígena que o Estado não quer reconhecer, ao contrário, pretende entregar à especulação com a máscara do tal do desenvolvimento sustentável, falácia! É assim que começa a exploração e a ocupação predatória, legitimada por projetos que na prática só irão contribuir para expulsar populações pobres e desmatar áreas de reserva.  

Mineradoras. 

Pra quem não sabe há 11 requerimentos de pesquisa e dois processos de concessão de lavra, que visam obter informações ou autorização para exploração de minérios usados na construção civil, como granito, cascalho, areia e saibro. Também há um pedido de avaliação da disponibilidade de território. Cinco empresas fizeram quase todas as ações. Um dos pedidos partiu de um indivíduo particular, para prospecção de granito ornamental em terras indígenas, com limites dentro das cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, São Vicente e Mongaguá. 

E todas essas áreas possuem aldeias indígenas, algumas reconhecidas pelo Estado, outras não, mas todas elas serão extremamente prejudicadas! 

Em São Vicente tratarem os indígenas como seres invisíveis é estratégico para implantação de projetos deste teor, começam com a balela de ordenamento de proteção ambiental, com um turismo que irá inflar a economia local, desenvolvimento e blábláblá. 

É preciso estar atento!  

Leia as matérias à respeito e entenda melhor sobre o Parque e sobre o caso das Mineradoras, porque será preciso organização para frear esses projetos que em nada contribuirá para a comunidade local e indígena.

PEXJ – Parque Estadual Xixová-Japuí – encantos e problemas

Interesse de mineradoras ameaça terras indígenas de SP

21 de abril a 01 de maio é o dia Internacional da Juventude Trabalhadora. E a realidade continua alarmante!

A realidade que a juventude trabalhadora tem enfrentado tem sido cada vez mais alarmante. Atirada ao mercado de trabalho desde cedo para contribuir com a renda familiar, muitos jovens tem que deixar de estudar e se dedicar a empregos de péssima qualidade. Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) “Os jovens são os que estão sofrendo mais com a precariedade do trabalho” . Como média regional, 47,7% da população ocupada na América Latina no setor não-agrícola tem um emprego informal, embora trabalhe em empresas constituídas formalmente, segundo dados do final do ano de 2012.

No Brasil esse número chegou a 38,4%. No México, a segunda economia regional, o emprego informal atinge 54,2% da população. Entre os menos avançados, a taxa de emprego informal em Honduras foi de 70,7% e no Paraguai de 65,8%. Os dados da OIT indicam que, desse 47,7% de trabalho informal, dois terços correspondem ao setor informal da economia e, dentro desse setor, 41% são trabalhadores por conta própria. Mas, dentro dos trabalhadores informais, um de cada quatro trabalha em empresas formais.

Com isso:

Serviços terceirizados, call center, part time e estágios têm criado formas veladas de se precarizar e burlar ainda mais os direitos trabalhistas. E como se não pudesse piorar, incapazes de garantir um trabalho realmente digno, Governantes têm instituídos por meio de projetos sociais, empregos que nada diferem, ou simplesmente, reforçam estes citados, resultado: um processo colossal de exploração sistêmica que esmaga ainda mais a juventude trabalhadora que hoje vive a dura realidade de ser a mão de obra barata de um mercado que dita as regras e sucateia vidas e sonhos.

Há muito para se falar sobre essa questão e como entre 21 de abril e 01 de maio é o dia Internacional da Juventude Trabalhadora, na sequência uma entrevista (que elucida muito bem essa discussão) com uma jovem trabalhadora que presta serviço num navio de cruzeiros marítimos qual foi inserida neste emprego por meio de um projeto social da Prefeitura de São Vicente em que foram gastos um milhão e meio anuais para resolver parcialmente o problema de desemprego  na cidade, e cabe a pergunta e reflexão após lerem a entrevista: Todo esse dinheiro empregado muda a realidade desta juventude? Tem contribuído para quem realmente? Pois partindo da cidade de São Vicente, o problema continua, então, precisamos nos questionar em para onde estão mandando nossa juventude? Quais condições? E este montante de dinheiro público, não poderia ser melhor utilizado, criando formas em que a região se auto gestionasse?

OBS: Não revelaremos o nome desta jovem, utilizaremos: Juventude trabalhadora, até porque seu relato representa a história de muitos outros jovens trabalhadores.

E viva a juventude trabalhadora!

Entrevista:

Rádio da Juventude: Como foi viajar e conhecer outros lugares? Valeu a pena?

Juventude trabalhadora: Apesar do pouco tempo que temos pra descer e conhecer os lugares, é uma experiência que vale muito a pena, quando a gente para pra pensar que dificilmente poderia estar conhecendo aqueles lugares trabalhando aqui em terra, sabemos que não estamos ali pra fazer turismo, mas sempre dá pra fugir um pouquinho e conhecer alguns pontos turísticos, conhecer os moradores e aproveitar o intercambio cultural.

Rádio da Juventude: O que você fazia? Sua função?

Juventude trabalhadora: Eu era Cleaner. (pessoa que limpa áreas públicas) Limpava áreas por onde circulava os passageiros, como bares, banheiros. Depois de alguns meses também trabalhei dentro de cabines limpando os banheiros.

Rádio da Juventude: Deu pra conhecer muita gente?

Juventude trabalhadora: Nossa! Muita gente. Tanto passageiros como tripulantes, em grande parte nossos maiores sofrimentos, porque sempre nos apegamos às pessoas e depois você vê seus amigos desembarcando e você ficando.

Rádio da Juventude: Como é formada a equipe? É só brasileiro?

Juventude trabalhadora: Não. Na maioria as equipes são mistas, mas existem algumas funções que eles dão prioridade de nacionalidades, por exemplo, os bombeiros na sua maioria são de Samoa, os seguranças são de Israel, a grande maioria da manutenção é da Sérvia, Montenegro e Croácia.  Em relação aos brasileiros, nós estamos em várias funções, inclusive como oficiais, mas muito mais por conta da legislação brasileira que exige no mínimo 30% da tripulação seja brasileira.

Rádio da Juventude: O que é Oficial?

Juventude trabalhadora: Oficiais são os chefes de todos os setores e são vários oficiais e hierarquias, existem oficiais que obrigatoriamente tem de serem formados na marinha de seu país, e tem alguns que sobem de cargo, por exemplo, uma pessoa começa como Cleaner, depois se torna camareiro (que limpa cabines) e depois promovido a Assist Chief housekeeping, e assim por diante, a partir do momento que ele se torna Assist de chefe ele já é um oficial.

Rádio da Juventude: E toda essa equipe que presta serviço é de empresas prestadoras de serviço?

Juventude trabalhadora: Não. Todo mundo é contratado diretamente pela MSC. O que acontece é que no Brasil existem agências que fazem esse contato entre o tripulante e a MSC, mas o contrato é assinado com a própria empresa.

Rádio da Juventude: O que é MSC?

Juventude trabalhadora: Mediterranean Ship Company

Rádio da Juventude: Qual a diferença?

Juventude trabalhadora: MSC é a empresa gestora do navio, é a empresa que tem cruzeiros marítimos de luxo e também possui navios de carga, mas são setores bem diferentes, na verdade é como se fossem duas empresas distintas, as agencias são empresas que treinam e fazem o contato dos tripulantes com as empresas de navio, não só a MSC, também tem Royal, Costa, Puma tour e mais outras.

Rádio da Juventude: E onde entra a Prefeitura nisso?

Juventude trabalhadora: Dá o curso apenas?

Rádio da Juventude: Entendi.

Juventude trabalhadora: Então, a prefeitura aceitou o projeto de  um empresário, que tem uma dessas agencias recrutadoras, ele é de São Vicente e passou dez anos embarcado, pois, mesmo com tanta vaga de emprego, é difícil achar pessoas capacitadas pra embarcar, então ele fez um projeto para que a Prefeitura contratasse a empresa pra recrutar esses jovens… Todos os profissionais envolvidos no projeto são contratados da empresa e a Prefeitura fornece material didático e uniforme também.

Rádio da Juventude: Alguma ajuda de custo durante o curso, em média quanto tempo de curso? E o que aprendem?

Juventude trabalhadora: Nenhuma ajuda de custo. O curso durava seis meses na minha época, agora não sei, lá tínhamos aulas de camareira, bartender, hospedagem e garçom, também tínhamos acompanhamento com uma psicóloga e aulas de inglês semanais.

Rádio da Juventude: Tem faixa etária para participar?

Juventude trabalhadora: Ah! E até onde eu sei, eles incluíram mais alguns cursos e também aulas de italiano. Na minha época era de 18 a 29 anos, isso também é interessante de falar, no Brasil as agencias sempre pedem pessoas de 18 a 35 anos mais ou menos, mas lá dentro sempre encontramos pessoas mais velhas, na maioria de outros países.

Rádio da Juventude: Irregulares? Ou depende de país para país?

Juventude trabalhadora: Então, não sei, mas não creio que estavam irregulares, acho que deve ser pedido da própria MSC, eles já tem muito preconceito com brasileiros por dizer que somos preguiçosos. Devem achar que pessoas mais velhas não aguentam trabalhar

Radio da Juventude: Quantas horas de trabalho? Como funcionam as folgas?

Juventude trabalhadora: Isso é um pouco mais complicado… Tem várias funções e cada função é uma escala diferente, eu trabalhava 11 horas com intervalo de uma hora pra almoço. No restaurante e no bar as pessoas trabalham por escala rotativa, normalmente com total de 12 horas também… E as camareiras já são diferentes, elas têm quantidades de cabines pra arrumar, e devem fazer isso duas vezes por dia, normalmente temos 25 cabines pra arrumar e gastamos de cinco a dez minutos em cada uma… E folgas não existem, você trabalha todos os dias do seu contrato, salvo quando você está doente, ou seu chefe dê umas horinhas a mais pra você descansar, no meu caso, trabalhava 12 horas e folgava 12.

Rádio da Juventude: Quanto tempo você ficou?

Juventude trabalhadora: Oito meses e 28 dias.

Rádio da Juventude: Sem folga?

Juventude trabalhadora: Eu fiquei doente por dois dias. Foi quando fiquei de folga. E teve uma vez que eles liberaram umas horinhas, foi quando vim visitar minha família em Santos.

Radio da Juventude: Desconta-se do salário?

Juventude trabalhadora: Não.

Radio da Juventude: Você está desembarcada agora? Pretende voltar, como vai ser?

Juventude trabalhadora: Vou sim, o mais rápido possível. (risos) Já estou sem dinheiro, então… Só que toda vez que vamos reembarcar pagamos uma taxa pra agencia, pra contatar a MSC e pedir o retorno.

Radio da Juventude: Pagar pra voltar a trabalhar? E quanto custo isso?

Juventude trabalhadora: Fazer o quê? E o custo depende da agencia, a que eu achei mais barata… R$ 500,00… Agora, quando você embarca pela primeira vez o gasto é bem maior… Só o curso que não pagamos pelo projeto, mas caso eu tivesse feito pela agencia, é em média: R$ 1500,00 a R$ 2000,00…  Mais passaporte e curso de sobrevivência no mar. Acaba que tudo sai por volta de R$ 3500,00, e eu acabei gastando R$ 1500,00, mas o que acaba valendo a pela é porque dá pra recuperar isso em um mês e meio de salário.

Rádio da Juventude: É descontado algo de alimentação, dormitório ou banho?

Juventude trabalhadora: Não. A gente só paga por bebidas que compramos no bar ou coisas que compramos no navio.

Rádio da Juventude: Esses meses em que você não está embarcada, você não ganha nada?

Juventude trabalhadora: Não. Meu contrato acabou. Eu só vou receber quando assinar outro contrato. Aí tenho que embarcar.

Rádio da Juventude: Há chances de perder contrato e não conseguir voltar?

Juventude trabalhadora: Muito difícil, eles sempre dão prioridades de embarcar quem já tem alguma experiência a bordo. E quando acaba seu contrato a agencia vai enviar uma nota do seu desempenho, caso seja positivo você pode embarcar novamente, mas eles só não aceitam caso você tenha roubado algo, brigado, usado droga…

Rádio da Juventude: Questão de salubridade, de atendimento médico pra vocês, como é? Tem pronto socorro?

Juventude trabalhadora: Tem pronto socorro sim, mas o atendimento é péssimo! Normalmente nós somos muito destratados pelos médicos e enfermeiros, sempre acham que a gente tá enrolando pra não trabalhar, sem contar que os médicos na sua maioria são croatas e a medicina deles é bem diferente, tem uns tratamentos estranhos, nossa sorte é que sempre colocavam alguma enfermeira brasileira, que acabava ajudando mais a gente…

Rádio da Juventude: Como assim?

Juventude trabalhadora: Então na cozinha sempre tem acidente com queimadura, essas coisas… E a enfermeira sempre dizia que eles não faziam os procedimentos como no Brasil, parece que usam uma medicina mais antiga.

Rádio da Juventude: Sobre os outros jovens de outros países, como era a relação, o porquê deles estarem ali? É o desemprego, a vontade de viajar, o que você percebeu de semelhança com os brasileiros?

Juventude trabalhadora: São bem diferentes dos brasileiros em relação às posturas, os da Indonésia, Madagáscar e Indianos são muito submissos, mas quase todos me diziam que a moeda em seu país é muito desvalorizada em relação ao dólar, então o que ganhavam ali em um contrato já construíam uma casa e grande, podiam viver bem, sabe outra coisa, eles parecem se mais focados em juntar dinheiro, quase não saem e quando saem gastam pouquíssimo, enquanto a gente quer se divertir, não poupa tanto… Acho que os brasileiros apesar do trabalho todo… Tenta ver aquilo como diversão… Desculpa… Esqueci a pergunta inicial.

Rádio da Juventude: Tranquilo. Vamos seguir. O que levou você a ser uma tripulante?

Juventude trabalhadora: No inicio a ideia de conhecer vários lugares, e ganhar uma grana com isso né… Eu tenho muitos amigos que já haviam ido antes de mim e sempre falavam como era, na verdade as pessoas me assustavam muito, mais do que é na realidade. Diziam que eu não ia conseguir tomar banho, nem comer direito de tão ruim que era a comida, e uma coisa eu percebi (pausa) – a gente se adapta – estava me sentindo sozinha aqui, a maioria dos amigos namorando, trabalhando e fazendo faculdade. E eu ainda parada, então, me joguei…

Rádio da Juventude: Acho que esse é um ponto interessante na vida de todo jovem, ainda mais trabalhador, chega um momento que há umas cobranças de onde ir, “interna mesmo” e as opções são poucas. Teve uma menina que se matou né? O estresse deve ser grande, a solidão de estar distante. Rola isso?

Juventude trabalhadora: Sim. (pausa) Olha… Quando voltei, achei que as coisas aqui seriam diferentes, que arrumaria um emprego rápido, que conseguiria pelo menos começar a estudar… E não foi bem assim… Quando cheguei às pessoas estavam vivendo suas vidas… Você tem a impressão que vai ter aquela festa, todo mundo querendo te ver, e não… As pessoas ficam felizes porque você voltou e pronto. Acho que em relação às pessoas que piram ali dentro, acontece mesmo. Eu tive uns surtos quando cheguei à exaustão, vontade de gritar, chorar… Mas depois passa… Quando teu trabalho acaba, tu vai até a proa do navio e olha o por do sol… E tudo te acalma, parece bobo, mas é uma sensação indescritível, então tem coisas que a gente aprende a relevar, aprende que pode gritar com o chefe, aprende a lidar com tudo e as máfias ali dentro… E eu ando me decepcionando tanto aqui em terra, com as pessoas, com os sonhos que eu tinha, com os trabalhos… Como eu falei pra minha mãe, se é pra chorar, ficar cansada, que seja chegando cada dia em uma cidade e terminando o dia com aquele por do sol em alto mar. Olha, vou te dizer: vida a bordo não é pra qualquer um!  Não é um lugar pra depositar os jovens, não mesmo, porque se na sua cidade não tem emprego, você tem que ir porque você precisa… Ama viajar, porque apesar do cansaço você quer viver tudo aquilo, senão acontece o que aconteceu com esse povo, surtou ali dentro e acabou tirando a própria vida.

Rádio da Juventude: Este é um dos maiores motivos que incomoda “depósito”, porque vivemos uma realidade quase sem alternativa.

Juventude trabalhadora: Acho que essa é a avaliação que a gente tem que fazer, é que ali não é pra ser deposito, tem que ser opção, se a pessoa quiser viver aquilo é uma coisa, mas tem que ter a opção de não querer. Infelizmente tem gente ali dentro desesperada porque precisa sustentar a família… Precisa viver né? E isso não é deixado tão claramente no curso, e também diante das condições… Qual é a alternativa?

Rádio da Juventude: Sim. Queria apenas perguntar uma coisa para finalizar, há assédio em relação às mulheres lá por parte dos viajantes? E se algo que não perguntei e que você queira falar fique à vontade.

Juventude trabalhadora: Há assédio sim, e muito! Tanto de passageiros como de oficiais, na verdade, há assédio por parte de todo mundo, de homem com mulher e de mulher com homem, mas assim, é só você cortar, os seguranças ajudam muito nesses momentos. Eu tive um chefe que me pediu em namoro, eu disse que não e ele continuou me cercando, insinuando que minha vida podia ser mais fácil ali dentro, mas eu fui séria e disse que não era aquilo que estava interessada. Mas é isso, rola muitas propostas de facilitação da vida em troca de sexo. Aí vai de você, aceita se quiser entendeu?

Rádio da Juventude: E não tem nem como denunciar? Com tanto assédio, há perigo de forçar alguma mulher, estupro mesmo sabe?

Juventude trabalhadora: Complicado. Vive todo mundo junto e a gente até prefere evitar confusão, mas caso passe dos limites e esteja atrapalhando sua vida ali dentro, aí você ameaça denunciar e eles param.

Rádio da Juventude: Obrigado.

Juventude trabalhadora: Beleza. Depois me manda.

                                                                 

                                                                A Juventude vale mais que todo ouro do mundo!                                                                   

                            Padre Joseph Cardijn – Fundador da JOC (Juventude Operária Católica)

Passagem de lotação (transporte alternativo) aumenta neste 1 de abril.

Foto-0777Foi divulgado ontem pela Prefeitura de São Vicente que o transporte coletivo (lotação) sofrerá aumento a partir da zero hora do dia 1 de abril de 2013. O decreto de n: 3652 autoriza a repactuação baseado na planinha de custos apresentada pela Associação dos Permissionários da Cidade, e será publicado neste sábado (30). 

Pois é, no dia da mentira (1 de abril) vamos ter que encarar uma verdade:  o valor da passagem das lotações em São Vicente irá aumentar sem choro, sem vela e sem dó!  

Quem tem memória?

Há uma década e meia que as lotações surgiram e se tornaram  a “salvação da lavoura” no que diz respeito ao transporte público em São Vicente, pois, abriu frentes de trabalho e resolveu paliativamente a questão da mobilidade, na verdade, deu uma resposta para uma população que reivindicava um transporte público e municipal de qualidade, e como relembrar é viver, o transporte público em São Vicente inclusive já elegeu Prefeitos como Luiz Carlos Luca Pedro, PT entre 1993 e 1996 que  trazia em sua campanha o enfrentamento contra o monopólio do transporte, e depois Márcio França PSB, que durante seu primeiro mandato ,1997 e 2000 regulamentou o serviço clandestino de perueiros (como era conhecido na época) enquanto os outros Prefeitos da região perseguiam esse serviço. Ou seja, o transporte público sempre foi um problema, mas garantiu para grupos políticos uma fatia do poder. 

Mas, mudou alguma coisa para a população? Paliativamente sim.  A defesa é que são mais baratas e mais eficazes, oras, se nos nivelarmos por baixo, sim! Porém a comparação é inviável, sendo que elas somente percorrem dentro do município, e no que diz respeito a eficacia é bem suspeito porque a qualidade está aquém do desejado, sem contar que a prestação deste serviço público, mais uma vez ao contrário de resolver o problema, criou somente mais uma máfia que monopoliza o transporte público (dito alternativo)  que contribui para a precarização do serviço e das condições de trabalho do trabalhador (cobradores).

PEXJ – Parque Estadual Xixová-Japuí – encantos e problemas

 

Foto de Natasha Guerrize

Entrada do Parque – cancela que impede entrada de visitantes – Foto de Natasha Guerrize

Falar no PEXJ requer muito fôlego, isso porque são tantos os problemas que apenas listá-los demanda possuir olhar holístico sobre as inúmeras pressões que ele sofre esmagado por intensa ocupação urbana, pressão empresarial em muitas esferas, falta de interesse político e boa dose de pilantragem e mau-caratismo, explicamos:

O PEXJ possui 901 hectares, sendo 554 localizados no município de Praia Grande, e 347 no município de São Vicente. Possui 457 espécies vegetais, dentre as quais 13 estão ameaçadas de extinção. Quanto à fauna foram identificadas 319 espécies entre os quais, 21 mamíferos marinhos, 13 mamíferos terrestres, 87 aves, anfíbios, 37 répteis terrestres e 5 marinhos, além de 137 de peixes. Seu bioma é de Mata Atlântica, valendo ressaltar que é um dos últimos remanescentes desse tipo de bioma no país que possui apenas 8% desse tipo de bioma em relação ao que possuía há 500 anos.

foto do arquivo pessoal

foto do arquivo pessoal

Esses dados numéricos introdutórios servem para ilustrar a importância de preservação do Parque Estadual dada sua grandiosa relevância. Em outras palavras, o PEXJ não é mera mata, dentre os animais encontrados no parque estão o Bicho-Preguiça, o Tucano de Bico Preto, a Tartaruga Verde, o Trinta-Réis-Real e o Boto Cinza, ameaçados de extinção em maior ou menor grau*

Mesmo estando em local de grande importância Natural e Histórica (nas proximidades do local há construções como o Cortume de 1897 e o Porto das Naus do século XVI, nesse último descobriu-se há pouco dois tonéis de cana-de-açúcar que data de 1580), as marinas da região são responsáveis pela existência de um projeto que só poderia ser concebido pela lógica do lucro e não da preservação! Estamos falando sobre o Alteamento da Ponte Pênsil em São Vicente inaugurada em 1914, projeto que visa altear a Ponte que é cartão postal da cidade de São Vicente, tombada pelo Patrimônio Histórico e lugar cativo no imaginário do habitante local. As marinas reclamam que seus magnatas não podem passar com suas altas e luxuosas lanchas por baixo da Ponte e portanto precisam que a prefeitura a alteie em 10 metros. Isto significaria construir 2 viadutos, um em torno do PEXJ e outro em torno do Morro dos Barbosas. E, até o momento em que escrevemos este texto, não tivemos notícia da existência de qualquer laudo de impacto ambiental.

Também é importante dizer que laudos de impactos ambientais não são problema, temos aqui em São Vicente uma Universidade que todos sabem que provê de laudos e relatórios o que a prefeitura e as empresas precisam para legitimar seus atos… 

Em 2009 participamos de uma oficina de planejamento do PEXJ. Foram 3 dias de uma espécie de Audiência Pública que aconteceu na Ilha Porchat e que teve como principal objetivo (extra-oficial, é claro) medir o grau de resistência com relação a mudanças no gerenciamento do Parque. Oficialmente aquele encontro com a população do entorno, ONGs, empresas, associações, além de setores do Poder Público visava obter subsídios que ajudassem a construir “junto com a população” (que piada!) um Plano de Manejo. 

Segundo o site do Ministério de Meio Ambiente, toda UC (Unidade de Conservação) deve

Foto da internet

Trinta-réis-real – Imagem da internet

elaborar um Plano de Manejo que é “é um documento consistente, elaborado a partir de diversos estudos, incluindo diagnósticos do meio físico, biológico e social. Ele estabelece as normas, restrições para o uso, ações a serem desenvolvidas e manejo dos recursos naturais da UC, seu entorno e, quando for o caso, os corredores ecológicos a ela associados, podendo também incluir a implantação de estruturas físicas dentro da UC, visando minimizar os impactos negativos sobre a UC, garantir a manutenção dos processos ecológicos e prevenir a simplificação dos sistemas naturais.” Em outras palavras, um Plano de Manejo é a oficialização documental da orientação política a que se submeterá o manejo de uma UC. O problema geralmente é justamente que orientação política o pode Público quer adotar… 

Na verdade o Plano já estava traçado, e como por lei é necessário realizar estas etapas (oficinas com a população, Conselhos Consultivos), a presença dos agentes externos que foram convidados visava apenas apoiar o plano já traçado e não traçá-lo em conjunto, em parceria com a população. 

A primeiríssima observação que fizemos ao participar da oficina foi a de que não havia nenhum indígena no local. Incrível constatar que uma oficina de planejamento de um local ocupado por indígenas desde 2004 simplesmente rejeita a participação de moradores indígenas de dentro do Parque. Para o segundo dia de oficina ligamos para o cacique da aldeia e o convidamos a participar. No anfiteatro da Unesp foi votado o Conselho Consultivo, ou a relação de pessoas representando, em tese, os mais diversos interesses, que participariam da elaboração do Plano de Manejo. Foram combinadas 25 cadeiras para o Conselho e entre empresas de pesca, de turismo e até da PM (!), não foi dada nenhuma cadeira ao cacique mesmo quando pedimos para que fosse à votação a disponibilização de uma cadeira à liderança indígena. A mesa que dirigia os trabalhos simplesmente nos ignorou e não colocou à plenária a votação (e ganharia por puro bom senso). 

O Poder Público não quer os índios no PEXJ. Há uma cancela controlada pela Guarda Municipal da Prefeitura no final da Av. Saturnino de Brito que impede as pessoas de entrarem no Parque a despeito do que consta no Plano de Manejo que ficou pronto em abril de 2010, e que alega ter predisposição de promover a abertura do Parque para visitação.

É sabido que os Guarani da aldeia Paranapuã sofrem com este isolamento que muitas vezes inibe a entrada de antropólogos ou outras pessoas interessadas em manter contato com essa população.

Enfim, com o pretexto de proteger o Parque, a cancela visa segregar os índios mantendo-os marginalizados e muitos deles encontram-se em situação de mendicância enquanto os espaços da prefeitura, que poderiam abrigar a venda de seus artesanatos, servem para promover inverdades históricas como a Vila de São Vicente – parque temático localizado na Biquinha que tenta retratar a Vila de São Vicente como era em 1500 exaltando colonizadores portugueses que tanto sofrimento causaram a índios, ribeirinhos, quilombolas e negros no Brasil. Este espaço toca fado no ambiente (música folclórica portuguesa), conta com lojas que vendem artesanatos não-indígenas para turistas em vez de ser um espaço de valorização da nossa cultura indígena. Lamentável! 

Mas nem só de indígenas indesejados é feito o PEXJ! A especulação imobiliária fica à espreita das brechas legais, tentando encontrar meios de construir mais prédios para servir de imóveis de veraneio e não como moradias populares, numa já desestruturada e intransitável Baixada Santista. E isto fica evidente para quem conhece o local: o “pequeno notável”, como apelida o Plano de Manejo publicado em 2010 e que será a carta norteadora do PEXJ até 2015. Ou seja, uma linda floresta com vista para o mar! Esse poderia ser o slogan das imobiliárias.

Conversando com moradores do entorno descobrimos histórias horríveis como a de uma senhora moradora do Japuí há muitos anos, defensora do Parque, que denunciou ao Ministério Público um Sargento que teria construído uma casa em área caracterizada como pertencente ao PEXJ, sem pagar nada pelo terreno e desmatando parte da floresta. Segundo ela, o Sargento possui “costas quentes” e moveu processo contra ela por calúnia cujo valor se ganhar a fará pagar a ele R$15.000,00 numa clara intenção de tirar do bairro a moradora que, para pagar o montante, teria que vender sua própria casa. 

Tucano de bico preto - imagem da intenet

Tucano de bico preto – imagem da intenet

Outro morador do Japuí, que já foi de uma ONG local contou-nos que as ONGs estão vendidas, que já não denunciam invasões, pescas e caças predatórias, ação de embarcações a menos de 200 m da costa e outras irregularidades por terem sido compradas pelos interesseiros de plantão.

Um dos pescadores nos relatou que às vezes é comum tartarugas marinhas se enroscarem nos anzóis e redes e que presenciou uma ocasião em que um dos pescadores fisgou um desses animais e, não sabendo lidar com a situação, entregou o animal ainda vivo aos guardas florestais do Parque e que estes, em vez de libertarem o animal, o levaram para dentro a fim de comê-lo.

Tartaruga verde – ameaçada de extinção – Imagem da internet

 Aliás, as tartarugas são um capítulo à parte – pertencentes à Lista de Répteis Ameaçados do Estado de São Paulo na categoria “vulnerável” (VU), no Ibama como “em perigo” (EN) e na lista vermelha mundial de espécies ameaçadas da IUCN (International Union for Conservation of Nature), elas estão presentes na área marinha do PEXJ, principalmente próximo aos costões rochosos e sofrem na região não apenas com a ação dos pescadores, mas com danos causados por jet-skis e outras embarcações a motor e pela ingestão de materiais plásticos.

 E o que falar dos terrenos particulares no local? Estão com os dias contados! São pessoas que estão no local desde a década de 70, são sitiantes, vivem da criação de pequenos animais e de pequenas plantações, gente humilde que mal sabe ler. O problema é que como possuem terrenos particulares têm a obrigação de pagarem impostos e, num lugar tão valorizado e com terrenos tão grandes o valor é alto e eles não podem pagar. Enfim, um dia os imóveis podem ir a leilão e aí os abutres especuladores colocarão os bicos nesses imóveis! Aliás, o desejo de retirar ocupações humanas do PEXJ não é segredo e está inclusive oficializado no Plano de Manejo (p.71) 

Só que o Poder Público poderia intervir e transformar estas terras particulares nas chamadas RPPNs ou Reservas Particulares do Patrimônio Natural. São imóveis que, apesar de particulares, serviriam à população como ponto de apoio de preservação do Parque, podendo se construir nesses lugares postos de informações turísticas ou outros tipos de apoio físico visando ajudar na preservação.

Interessante também (pra não dizer contraditório) que, apesar de se posicionar contra ocupações humanas dentro do Parque, o Plano de Manejo tem como meta promover o ecoturismo no uso das trilhas. Quer dizer, eles listam como danosa a presença humana que afugenta animais mais sensíveis mas querem trazer visitantes pro Parque promovendo o ecoturismo. O que será pior: alguns moradores que certamente defenderão e protegerão sua casa, e portanto o Parque, ou turistas que apenas passam pelo local sem saberem o que abriga o local e muitas vezes deixando lixo na praia e trilhas?

Mas, em tempos de Belo Monte, o Poder Público já deixou claro que Preservação não é a palavra de ordem, esta é DINHEIRO.

* Os dados foram retirados do Plano de Manejo 2010 disponível em: Plano de Manejo

Texto de Mafalda Caiçara

Casa da Mata: Um espaço de conexão com a natureza

Foto-0226Aconteceu neste domingo (24), em São Vicente, uma atividade na ONG Casa da Mata  que teve como objetivo prestação de serviço para a comunidade do Parque Prainha, bairro em que a Casa da Mata está localizada. Os serviços prestados foram de aferição de pressão, corte de cabelo e higiene bucal.

Para quem não conhece o espaço, ele fica no bairro Parque Prainha, (no entorno do Parque Xixová – reserva ecológica) precisamente na  rua Saturnino de Brito n:º 1.188 em São Vicente.

Foto-0239A Casa da Mata é um espaço alternativo interessante para quem quer sair um pouco da loucura de uma vida urbanóide e relaxar num ambiente calmo em conexão com a natureza, tendo a oportunidade de experimentar a culinária natural. Contudo, para além de uma espaço apenas de lazer e diversão, a Casa da Mata também é um espaço de educação artística e ambiental, que vem desenvolvendo diversas atividades gratuitas voltadas à comunidade. Nesta quinta-feira (28) haverá o primeiro curso de Culinária Natural, onde serão apresentados meios mais saudáveis de preparar os alimentos, e o primeiro tema do curso será o “Suco Vivo”. Isabel Hatta irá ensinar a preparar, segundo a Casa, “esse delicioso – e muito poderoso – suco natural, que serve também como ótimo substituto do leite”. Há também o trabalho de Cura com Terapia Reike e às sextas-feiras, quem quiser curtir o Chillaz (música ambiente para relaxar, deixar fluir energias), é só colar a partir das 18h.

Foto-0240A Rádio da Juventude esteve presente na atividade e bateu um papo com Thiago um dos organizadores do espaço, ouça logo abaixo o áudio e saiba mais sobre a Casa da Mata e sobre diversos projetos interessantes voltados à comunidade que serão desenvolvidos pela ONG, desde compostagem, bio-construção, horta comunitária, reciclagem, entre outros.

Foto-0229

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/80718537″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Foto-0238

Thiago explica sobre o que é Chillaz e os variados ambientes da casa.

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/80721939″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Intervenções artísticas em fibra sintética (laycra) produzidas na casa:

Foto-0241

Foto-0235

São Vicente: A lógica do dinheiro público

Não é de hoje que o dinheiro público vem sendo descaradamente repassado à iniciativa privada numa lógica de parceria que propaga a ideia de uma forma de melhor administrar os Órgãos Públicos em determinados setores. Há quem defende essa ideia com unhas e dentes, mas o resultado na prática é o desmantelamento de direitos trabalhistas, a precarização da condições de trabalho da classe trabalhadora e toda uma administração pública que gestiona distante da realidade da população e, sempre engessada e controlada por grupos políticos de interesses que além de mamar no dinheiro público também estão sentados como parlamentares defendendo leis que lhes beneficiam, quando não, Lobby lizando.

Como a Rádio da Juventude localiza-se na cidade de São Vicente, partimos de alguns exemplos próximos para discutir como o dinheiro público é administrado e questionar que, enquanto a população não assumir as rédeas de gestionar aquilo que lhe pertence, estará condenada a cada dia mais ter todos os seus direitos violados.

Foto-1487Cidade de São Vicente

A Ponte Pênsil um dos cartões postais da cidade de São Vicente está desde dezembro de 2012 em reforma, com o prazo de término da primeira parte da obra até março deste ano com continuidade da obra em 2013. Por enquanto, apenas as trocas das madeiras danificadas estão sendo feitas num período de duas ou três vezes por semana durante algumas horas para que não prejudique o trânsito.

Foto-1489Os gastos serão de  R$ 496.809,27, (quase meio milhão) uma parceria do Governo Federal com a Prefeitura de São Vicente, quem passar pelo local, ou tiver vontade, ou também a oportunidade de  conferir, irá constatar uma placa informando, há também uma outra placa próxima, indicando gastos na pavimentação da rua Saturnino de Brito no Parque Prainha, onde o custo foi de R$1.366.145,73.

Foto-1493A primeira vista parece que o Governo Municipal e Estadual estão investindo na qualidade de vida da população vicentina com reformas, pavimentações e outras coisas que vem demandando bastantes gastos dos cofres públicos (há tempos) e que nos levam ao questionamento (devido os números expressivos) se esses gastos são realmente necessários? E quais resultados eles trazem? Por exemplo, os investimentos com a sinalização turística que foi de R$108.427,50 e a restruturação do Parque temático Vila de São Vicente, de R$140.000,00, (cujo local criado em 2001 tinha a proposta de contribuir para o desenvolvimento da cultura local e preservar a história da primeira Vila de São Vicente, assim, como servir de ponto turístico).

A realidade que temos é que a cidade de São Vicente está precisando mesmo de muita coisa, (porém, é preciso administrar numa lógica de prioridades) a Ponte Pênsil precisa de reforma, ok, há madeiras e ferragens em péssimas condições, sendo que a ponte é a única passagem para os moradores dos bairros Prainha e Japuí.  Mas, é  importante questionar algumas coisas? Precisamos de uma sinalização turística com esse valor todo? E, alguém viu ela por aí? Será que com ela fazia parte as luminárias que foram instaladas no final do ano passado no deck dos pescadores, junto com uma iluminação azul que o enfeitava, e que foram todas (iluminação azul) retiradas, e as luminárias estão lá, desligadas e o deck se encontra às escuras, com apenas parte dele iluminado. (está aí mais dinheiro jogada fora, retiraram as “luzes” da mesma forma como colocaram, sem ninguém ser consultado)

Foto-1486

E aí?

Primeiro: o dinheiro público que está sendo gasto nestas obras, há fiscalização? Prestação de contas à população? A população esta sendo consultada? Por exemplo, é preciso mesmo cerca de meio milhão para consertar a Ponte? Oras, que trabalho de solda, de troca de ferragens e de madeiras são esses? Que vão custar quase meio milhão e já estamos quase no mês de março, trocaram algumas tábuas apenas. Ah! mais os laudos técnicos levaram a este orçamento. (certeza que o trabalhador que está contratado, não está recebendo tanto assim, para uma orçamento tão grande)

Foto-1698Segundo: sobre a Vila de São Vicente, há uma relação promiscua neste caso, porque o espaço é público, porém, tem a iniciativa privada lá dentro. Parceria do público/privado? Mais ou menos, porque a Associação do Desenvolvimento Econômico  e Social às Famílias (ADESAF) administrava em parceria com a Prefeitura e cobra R$ 700,00 aos concessionários que queiram explorar o ambiente. Mas, na hora do investimento o dinheiro somente sai de uma lado? Como é isso? Vamos por parte, a população financia a reforma do espaço, ok, e com isso, sub-entende-se que as apresentação artísticas serão gratuitas, pois é, não são! ( rara vezes que são) O que rola na verdade, é  uma espaço em que a iniciativa privada contrata artistas e o público consumidor paga couver,  então, como fica essa relação? Outra coisa, há o objetivo que a Vila seja além de um espaço cultural, mas também um lugar de preservação histórica, ok. Mas qual história? Pois, a que está sendo contada lá, (numa sala de fotos e dados históricos) é a mentirosa, aquela que glorifica Martim Afonso e na sequência uma série de estadistas brasileiros. O espaço é importante culturalmente, porém, há muito a ser resolvido.

Foto-0523Terceiro: Vamos usar como exemplo as obras da rua Saturnino de Brito no bairro Parque Prainha, cujas responsabilidades não foram cumpridas como disse na época (em 2009) o secretário de Desenvolvimento Urbano e Manutenção Viária de São Vicente (SEDUR), Léo Santos (PSB) que a rua seria pavimentada e seria construído um muro de arrimo, devido o desmoronamento que houve num trecho da rua, desta forma  garantiria maior segurança aos moradores, pois bem, a obra levou quatro anos para ficar pronta, e agora?

Foto-0524Quem explica porque não foi construído o muro de arrimo? Sendo que o Governo Federal liberou cerca de R$ 6,45 milhões para obras de contenção de encosta em áreas de risco para São Vicente e de contra partida a Prefeitura tinha cerca de um milhão para construção da escada d’ água no local onde houve deslizamento, a escada está lá, mas o muro de arrimo não! sem contar que passar o asfalto por cima do paralelipípedo, é fácil e fica bonito, porém, áreas de encosta precisam de construções de contenção, cadê?  E para onde foi esse dinheiro? Voltou para a Federação por ser mal administrado? E no outros locais da cidade, cadê os muros de contenção?

Resumindo: Há muito dinheiro público que circula em obras que não são prioridade, outras que é nítido que há superfaturamento, e este é o ponto a ser discutido, decidir o que é prioridade, pois numa cidade com um enorme problema de saúde, (com único hospital para atender uma população de 332 424 habitantes) que faltam creches, escolas, empregos e tudo mais que diz respeito à equipamentos que garantam o bem estar social, é fundamental a população se apropriar e administrar a forma como esse dinheiro é utilizado, pois a lógica que impera hoje é o público sustentando a iniciativa privada, e o resultado são problemas sendo protelados ou resolvidos meia boca, mascarando e ludibriando a população.

OBS: Seguiremos neste assunto, há muito a ser discutido, desmascarado e denunciado.

O esculacho nosso de cada dia: Jovem voltando de uma entrevista de emprego leva geral da polícia

Foto-0211

A quantidade de policiais por metro quadrado na cidade de São Paulo é sinal de segurança ou de puro controle social?

Oras, quem vive em São Paulo já deve ter notado a quantidade de policias que estão pelas ruas garantido a segurança da população, principalmente no centro. Interessante salientar que algumas bases policiais instaladas são bem estratégicas, na Av Paulista por exemplo, frente ao Museu de Arte Moderna (MASP) onde sempre ocorre  diversas manifestações, (que inclusive a policia marca presença pra reprimir) tem lá uma base em atenção.

Foto-0183Curioso né? Pois bem, no dia 4 de janeiro a Rádio da Juventude esteve participando do Ato em Solidariedade aos Presos Mapuches no Chile que ocorreu exatamente no Masp, (vide matéria sobre no link) e infelizmente presenciou um jovem sendo esculachado pela PM em plena luz do dia ( por volta das 14h).

Segue o bate papo rápido que fizemos com o rapaz e tirem as conclusões de como a onda de violência direcionada à juventude não para. Sendo que, importante refletirmos sobre toda essa militarização das cidades, por que isso? Copa? Olimpíada? Será uma espécie de domesticação da população para tempos obscuros que virão? (continuaremos com esse assunto)

Bate papo:

Foto-0209Rádio da Juventude: E aí cara o que houve ali com a Polícia? Pareceram bem agressivos com você?

Jovem: Tranquilo é assim mesmo… só geral

Rádio da Juventude: Tranquilo como? Desculpa te encher, mas, a forma como te trataram não é legal não.

Jovem: To ligado, mas eles queriam saber se tava passando algo, ou ia fumar… eu tava lá de boa acabei de vim de uma entrevista e só tava dando um tempo, mas ali é osso, cola muita molecada pra fumar, aí tem uns nóia, tá ligado?

Foto-0208Rádio da Juventude: Sei… Quantos anos você tem?

Jovem: Vinte

Rádio da Juventude: Tu é daqui de SP?

Jovem: Sou lá do Boa Vista

Rádio da Juventude: Eles mexeram na tua bolsa né?

Jovem: É cara, mas, eles não tão nem aí, vê só quantos “homi” tem na rua, ficar dando mole, eles pensam mal de você e já querem te enquadrar e levar pro esculacho, é normal, fazer o quê? To acostumado…

Rádio da Juventude: Entendi, é que pra mim isso é maior violência, eu vi eles sacudindo sua bolsa, te revistando, isso não é certo não, tá ligado, não quero te encher, mas sou de uma rádio lá da Baixada Santista e queria divulgar isso, eu tirei fotos do que aconteceu.

Jovem: Tranquilo cara, mas não quero que apareça meu nome não, beleza?

Rádio da Juventude:Tranquilo, escuta tinha um cara lá que eu vi que desceu pelo vão, o que foi aquilo?

Jovem: Então, ali perto de onde eu tava sentado, tinha um cara deitado, acho que mendigo, aí quando os homi veio, mandaram já o cara descer pelo vão, dizendo: “aí some daqui, vai desce por aí mesmo de onde tu saiu”. É assim mesmo…

Rádio da Juventude: Assim mesmo como?

Jovem: A geral cara…. policial é assim… e aqui no centro é foda! os cara tão sempre aí querendo enquadrar, mostrar serviço, aí, ali no Masp nem cola de ficar, porque já ficam de olho…

Rádio da Juventude: Mas o espaço ali é público não é? E tinha outro pessoal também e não fizeram isso?

Jovem: É que eu tava mais afastado, os homi já acham que tá na escama, mas é assim, na cidade é eles quem mandam e não dá pra fazer nada, é foda! Mas é isso aí…To acostumado, nem ligo mais..

Rádio da Juventude: Beleza cara, valeu! vai na paz!

Jovem: “Só”.

OBS: A naturalização de acontecimentos como este não podem ser tidos como naturais, ( ainda mais porque não são isolados, tem se tornado frequentes e propositalmente direcionados) mesmo que a juventude não perceba isso, afinal, ir atrás de um trampo e no caminho para casa ser humilhado, é muita violência e retira as esperanças de qualquer um. Precisamos subverter essa lógica!

A Encenação da fundação da vila de São Vicente: Legitimação e glorificação do holocausto indígena

Não bastasse a atual conjuntura de caos na administração municipal de São Vicente, herdeira da dinastia França, o novo prefeito Bili já começou a mostrar a que veio. Em meio ao tom populista, evidenciado pelo discurso de redução de gastos da máquina administrativa, destacam-se também as concepções nitidamente fascistas, marca registrada do atual partido do prefeito, o Partido Progressista (PP), legenda oriunda da antiga ARENA, que representava as forças repressoras durante a ditadura militar em nosso país.

20070402220531-radio-livre[1][1] cropped-projeto-logo-radio.jpg

Declarações homofóbicas, defesa da “moral”, dos “bons costumes” e da “família” marcaram o inicio turbulento de sua administração, enquanto no outro lado da história, as creches continuavam com escasses de merenda, os salários dos servidores de diversas categorias continuavam atrasados, o lixo amontoava-se nas calçadas e as pessoas simplesmente morriam nos corredores do CREI (Centro de Referência Emergência e Internação).

Como uma cereja podre a “encenação da vila de São Vicente” veio para decorar um bolo mofado e cheio de vermes. Inicialmente a administração dava a entender que devido aos cortes no orçamento seria inviável garantir o “espetáculo” que acontece praticamente todos os anos desde 1982. Essa notícia deu brecha para que políticos oportunistas, como o deputado Luciano Batista, encontrasse uma maneira de se auto-promover. O deputado que é bastante próximo ao governador Geraldo Alckmin conseguiu a liberação da cifra de 1 milhão de reais para garantir a “festa”. Lembrando que o gasto total da encenação no ano anterior foi de incríveis 6 milhões de reais, dinheiro público utilizado para pagar cachês de galãs globais, encher o bolso de “diretores de teatro” super-egóicos e por fim distribuir entre os vereadores, deputados e gestores da máquina pública, personagens não tão famosos quanto os globais, mas que exercem um papel fundamental na trama da corrupção brasileira.

Alheios às cifras os grupos de teatro amador, os jovens, crianças e idosos participaram do “espetáculo” como “voluntários”. Nos ensaios era possível medir o amor que os “cifrados” nutriam pelos “voluntários”: “ – Olha, quem não ficar até o final não vai ganhar lanche! Corta o lanche deles!” berrava o diretor pedindo aos organizadores não deixarem que algumas crianças se ausentassem do local do ensaio.

Seria apenas “trágico” se isso fosse tudo, mas a indignação aumenta quando nos damos conta do conteúdo da encenação, esse ano apresentada no formato de um musical.

O 1 milhão de reais, dinheiro público (nosso) que poderiam ser utilizados para pagar os salários atrasados dos servidores e comprar merenda para as creches, por exemplo, foi gasto em um espetáculo legitimador de uma das maiores carnificinas da história do nosso continente: a invasão dos portugueses ao território dos povos originários e sua posterior dominação e dizimação.

Em meio a músicas que lembram as canções dos filmes da Disney, todo discurso dos “vencedores” e colonizadores era colocado sob a óptica nacionalista, ufanista e civilizatória do branco europeu, homem valente que cruzou os sete mares para levar os benefícios da “civilização ocidental” e “salvar as almas” dos povos bárbaros que aqui habitavam, através da sua conversão à fé católica.

Os índios, retratados como animais maléficos que comiam uns aos outros, representavam perigo aos bravos colonizadores, por isso deveriam ser escravizados. Usados como meros adereços exóticos e folclóricos (no mal sentido) o “espetáculo” passa a imagem de um índio passivo a sua própria destruição étnica.

Tudo isso em um momento no qual os povos indígenas que ainda resistem em nosso território sofrem numerosas perseguições, ameaças e assassinatos. Um exemplo é a situação dos Guarani Kaiowá.

Em meio aos gritos de fãs histéricas e uma grande queima de fogos de artifício o diretor cultua o status quo da sociedade capitalista de consumo, berrando constantemente o nome do ator global que interpretou Martim Afonso de Souza. Assim termina a encenação da fundação da vila de São Vicente. Todos saúdam a grande festa da “Primeira Câmara das Américas” a tal “Célula Matter da democracia brasileira”. Enquanto os espectadores saem satisfeitos, o locutor oficial do evento, contratado pelo Governo Alckmin trata de puxar a sardinha para o governador, destacando a liberação da verba milionária. O controlador do som, por sua vez, subalterno da administração municipal, trata de abaixar o som do microfone no exato momento em que o locutor discorria a bajulação ao Governo do Estado. Logo após o “incidente”, o locutor, agora em alto e bom som registra alegremente a presença de centenas de personalidades entre vereadores, deputados e apadrinhados políticos. Fim do pão e do circo.

São Vicente às escuras em pleno carnaval.

Foto-1689

22h, orla da praia vazia em pleno carnaval.

Quem procurou algum lugar para se divertir durante as noites de carnaval em São Vicente, (como de hábito na cidade) não encontrou nada, além de muita polícia na rua e um vazio espantoso em plena época de folia. Pois é, a Prefeitura resolveu caçar geral qualquer manifestação que fizesse referência ao carnaval, com isso, o calçadão da praia e o deck dos pescadores tiveram parte de sua iluminação desligada, criando assim, para quem passeava pela orla, um sombrio divertimento, com direito a assistir um helicóptero que sobrevoava a orla da praia da Biquinha até a Ponte Pênsil passando pela Prainha com um projetor de luz iluminando a todos que passavam pelo local. (será inspeção para averiguar se estava tudo em ordem?)

23h helicóptero da PM sobrevoando São Vicente

23h, helicóptero da PM sobrevoando São Vicente

Tempos de absurdo são esses em que em pleno carnaval há mais policia na rua que foliões. Quem tiver a oportunidade de conferir essa situação bizarra e preocupante, basta caminhar pela praia de São Vicente durante a noite para constatar a quantidade de viaturas, de policiais e todo o aparato bélico que foi implantado na cidade.

22h jovens sendo revistados pela PM

22h, jovens sendo revistados pela PM

Claro que queremos segurança, mas, qual o preço teremos que pagar? Sem contar que queremos ser consultados! 

Outra coisa, humilhação, desrespeito e abuso de autoridade são coisas completamente diferentes, e isso, é o que tem ocorrido nos últimos dias na cidade, enquanto, boa parte dos “representantes do povo”, que administram e (infelizmente) decidem o futuro dela (e de sua população), inclusive, o Prefeito, festejam o carnaval em outras cidades, porque em São Vicente, só ficou o bloco da Polícia Militar (PM) cantando seu velho samba com seus apagadores de liberdade. “Mão na cabeça, cara no chão! tapa na cara, te jogo na vala…”

Carnaval em São Vicente: Uma ditadura particular

Foto-1587Neste domingo dia 10 de fevereiro, foliões vicentinos compareceram em massa no maior bloco de carnaval da cidade, o Ba-baianas. E também como prometido pela Prefeitura da cidade, a Força Tarefa marcou sua presença para coibir que o bloco saísse do bairro e passasse pelas vias do centro indo até a praia. Quem esteve presente pode conferir uma verdadeira operação de guerra que remetia ao regime ditatorial. (se é que não foi uma ditadura particular)

Foto-1565Foi por volta das 11h que o bloco das Ba-baianas saiu em direção oposta à de costume, circulou pelo bairro de forma contida, mas provocante, iniciou com um grito de guerra que mandava o Prefeito ir chupar. Porém, o som do trio elétrico estava baixo e como havia apenas um este ano, as pessoas que vinham acompanhando o trio numa distância maior de 60 metros, simplesmente não conseguiam ouvir nada.

Foto-1634Num passeio de uma hora e meia o bloco retornou ao seu ponto de partida e a pedido de Oficiais da Polícia Militar (PM), que de forma “delicada” disseram aos organizadores que era para acabar a festa ali, e deste modo, evitar problemas.

Pois é, como já diz o ditado “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, lá se foi o carnaval de rua, deu para brincar um pouco, beber um pouco, xingar um pouco e se irritar muito! Pois, foi vergonhosa a forma como a população foi tratada num dos únicos momentos em que ela pode sair à forra e se divertir, depois durante o percorrer do ano,  enfrentar um CREI sucateado, uma Educação sucateada e toda uma cidade entregue aos vermes do Estado, que fizeram palanque, que fizeram uma São Vicente entregue ao descaso.

Foto-1569Vamos economizar as palavras, silêncio! Eles pedem com os cães para ficarmos em silêncio.