Os manifestos que estão ocorrendo no país inteiro sobre o aumento da passagem repercutiu além dos noticiários tendenciosos da mídia burguesa. Mas também em Jornais da América Latina e da Europa, que estão noticiando que a população no Brasil resolveu dar um basta a um transporte público caótico, e o que era apenas um manifesto tornou-se revolta popular contra o Estado, pois, o país vive uma realidade problemática de sucateamento de todos os serviços públicos, massacres de comunidades indígenas, (Mato Grosso do Sul) quilombolas, ribeirinhas e um intenso processo de higienização social nos grandes centros, além de ter uma das polícias mais violentas do mundo que se tornou instrumento de extermínio, não de segurança.
Enquanto isso no Brasil;
Uma discussão sem fim iniciou-se pelas redes sociais sobre a legitimidade das manifestações – vandalismo, ou não?
O que vem provocando um engessamento do debate e uma visão paliativa que pouco contribui para fortalecer a discussão. Todos concordam que o transporte é ruim e caro, mas as estratégias de luta se confundem em conflitos ideológicos e por vezes sectários e até reacionários de alas que se dizem de esquerda – que são a favor por exemplo; de entregar manifestante aos milicos, caso este radicalize e queira por fogo ou quebrar alguma coisa, ou seja, a grande bola da vez tornou-se defender o patrimônio público, a grande bola da vez foi reproduzir a mídia burguesa e criminalizar quem está na luta.
Certo dizer, que houve gente infiltrada da PM, e também tendenciais violentas, mas que é impossível de conter, porque o manifesto se tornou revolta popular, que também é legitima, diante de um Estado que durante 5013 anos escravizou e explorou a classe trabalhadora e que hoje, tem se tornando tão violento quanto, vide Belo Monte, os massacres das comunidades indígenas no Mato grosso do Sul que tem se intensificado, e o extermínio da juventude pobre, preta e periférica.
Neste momento de revolta popular é tempo de avançar, somar forças e não dividir, é tempo de trazer todos os questionamento e colocar os governantes em cheque. Unir o campo e a cidade e dizer basta! Queremos reforma urbana, reforma agrária, educacional, na saúde, na moradia, ou a gente bota essa Constituição pra funcionar ou a gente rasga ela e volta ao Estado natural, oras, o Estado de direito serve pra quê? Pra nos oprimir?
O povo organizado não precisa de Estado!
Cristina Oliveira Professor peço licença para postar esse relato…
Pediram, agora vai o texto revisado:
Noticias de uma guerra (muito) suspeita.
Trabalho na esquina da Paulista com Augusta, em São Paulo. Estou acostumado à presença de emissoras de TV, produção de fotografia, manifestações, performances etc. É nosso cotidiano na esquina da America do Sul.
Por isso não foi surpresa quando hoje, tomando um cafee no botequim embaixo do meu predio, vi na Tv Globo as cenas de veradeira guerrilha urbana, manifestantes colocando fogo nas ruas, cores dramáticas, narração idem, apocalipse now.
Olhei pra fora do boteco o que ví? Nada. Apenas os carros policiais, helicópteros, cameras de tv, coisas a que estamos acostumados, cenas para tv, se me entendem. Tudo bem. Nada estranhando, voltei para o escritório, seis andares acima.
Por volta das seis da tarde, a TV do escritório mostrava mais cenas dessa guerra que eu não reconhecia como real. Tudo bem, estavamos acostumados a glorificação da Paulista, cenário idealizado etc. Comentei com meu sócio, Abel Coelho, sobre o exagero dessa cena para tv, visto que não avistamos um só manifestante, uma só bomba caseira, um só morteiro de Santo Antônio. Tudo bem, não fosse pelo que se seguiu.
Saí do prédio, tranquilo e calmo, desdenhando da ligação de Rita, minha mulher, que, assistindo a Rede Globo, me ligou para tomar cuidado, etc. e tal. Sorri do exagero dela e desci o elevador rumo a estação Consolação do Metrô, que fica bem defronte a portaria do prédio.
Para minha surpresa, a estação estava fechada. Guardas me avisaram “volte até a estação Trianon/Masp, se quiser embarcar”. Achei um exagero, protestei, quando me volto para o lado esquerdo da Paulista e vejo pessoas vindo de mãos levantadas, fotógrafos com as câmeras suspensas, e, antes mesmo que pudesse me dar conta desse exagero, cerca de seis motocicletas irrompem pela nossa calçada, em velocidade e impetuosidade, atropelando pessoas, seguida de dezenas de cavalos, ao que todos, assustados e, alguns de nós, já em estado de pânico e estupor, encostam-se nas marquises.
Quando fui protestar, os soldados da Policia Militar, com cacetetes batendo em seus escudos, foram nos empurrando, e, particularmente em mim, bateu com um cacetete nas costas, sem que eu pudesse pelo menos perguntar onde poderia tomar o Metrô. Uma truculência e humilhação a que não tinha presenciado nem nos momentos mais duros do regime militar.
Depois destes momentos de verdadeiro terror, e – note-se – sem que eu visse nenhum “manifestante”, nada, ninguem, fomos empurrados para a rua Bela Cintra, privados de explicação, do direito de escolher nosso caminho, de sequer perguntar o porque dessa violência gratuita, única, exclusiva da Policia Militar do Estado de São Paulo, vi uma barricada na esquina com a Luis Coelho, com coisas que me parecerem colchões e pneus, queimando. Adivinhe quem colocou fogo? Isso mesmo, a Policia Militar de São Paulo, disfarçadamente.
A mim restou descer a Rua Augusta, entre perplexo e assustado, ligando para a família, para me garantir – como nos tempos da ditadura -, dando minha localização, sem o direito de decidir meu caminho, meu rumo, meu destino.
Na descida da Augusta localizei, afinal, o motivo de toda essa movimentação da tropa de choque da PM que bate em empresários e trabalhadores: cerca de 20 rapazes e meninas – lembra dos barbudinhos da PUC? – armados de um perigosíssimo megafone e algumas camisetas, pedindo calma e paciência, fugindo do confronto direto com a Policia que, ameaçadora e assustadoramente, com um aparato que não ví nem no Largo São Francisco no tempo da ditadura, repito, fechava a Paulista, fazendo uma cena de guerra para as câmeras de tv.
A mim restou descer a Augusta até a Praça da Sé, resignado, com a marca do cacetete da policia de Geraldo Alkmin nas costas, e a humilhação que devem ter sentido meus amigos desaparecidos, os professores que apanharam de Mario Covas, Dilma Russef e outros tantos que agora são criminalizados por esta mesma força que teima em transformar rebeldia em anarquia, protesto em bandidagem, política em caso de polícia. E o pior: além de marcarem nossas costas com o cassetete da estupidez, roubam de nossos filhos a possibilidade de exercer a mais nobre das faculdades humanas, que é o espírito crítico e de liberdade.
Elcio Fonseca
RG 11.310.938-6
CPF 049.475.128-22