Independente do nível de consciência política, quando alguém decide por não votar é porque não acredita neste sistema político. Optar por não votar expressa insatisfação, descontentamento e repúdio à farsa deste sistema eleitoral. É uma prática de liberdade e de subversão contra o estado atual, que nos impõe como única alternativa de mudança social: a eleição de representantes políticos – caminho este que tem se mostrado na prática como ineficaz e falido, pois ele não é capaz de corresponder as nossas demandas; não é capaz de garantir justiça, igualdade e liberdade traduzidas em direitos sociais como saúde, educação, transporte, trabalho, entre outros. E nem precisamos fazer uma análise profunda sobre o falecimento dessa lógica organizacional. Todo mundo sabe na prática que para garantir a sobrevivência, temos que encarar uma labuta diária sem esperar que um político venha “adiantar o nosso lado”. A questão que temos que colocar em discussão e prática: é a nossa atuação coletiva para construir outra realidade social, porque o repúdio é apenas o primeiro passo, o segundo é atuar nessa construção.
Se quisermos votar nulo, ou simplesmente não votar, porque todo voto é nulo, perfeito. Mas o exercício pela política além das urnas é a política de atuar no cotidiano construindo o empoderamento popular. Somente deste modo, faremos frente à farsa eleitoreira que aliena o povo e usurpa todos os nossos direitos. E não é um caminho fácil, a correlação de forças é bem desigual. Mas é essa prática que vai semear o futuro livre para todas as pessoas, não é o voto e nem o não voto.
Votar certo, votar errado. Quem te fez acreditar nisso?
Uma ideia bastante equivocada, porém colocada como verdade (quase) absoluta, é dizer que o país não melhora porque o povo vota errado. Uma afirmação tão ingênua quanto maquiavélica – que infelizmente permeia toda a sociedade, não somente por meio do senso comum, como também através de muitos intelectuais que insistem em proliferar que o povo por não ser politizado, acaba contribuindo para eleger corruptos. Essa é uma das análises mais rasas e classistas que existe. Afinal, ela beneficia a quem?
A crença na representação política é cheia de mitos, na prática, eleger alguém como nosso representante não passa de terceirização de nossas responsabilidades. É colocar nas mãos de alguém decisões que devem ser deliberadas pela população. Não é à toa, que muitos políticos após eleitos, ignoram o compromisso que assumiram, trocam de partido, se aliam com grupos antagônicos, entre outras coisas, que todos nós estamos cansados de saber, mas e aí que fazer? Acaba sempre nos restando ir para as ruas reivindicar; ser surrados pela polícia; criminalizados pelos meios de comunicação e chamados de vândalos; antidemocráticos – porque não respeitamos os candidatos eleitos. E assim funciona a sociedade…
Ah! Mas temos que considerar que existem pessoas honestas e comprometidas com as questões sociais, sim, é verdade. Contudo, acreditar que honestidade e dedicação irão fazer o sistema funcionar, é ilusão! Ainda mais com toda essa teia de relações e práticas espúrias que se instaurou na política, e não nos iludamos! Pois elas fazem parte da essência deste sistema. A própria lógica do sistema é para não funcionar. O sistema capitalista não existe para garantir justiça social, mas sim para garantir lucro. Resultado: uma cultura míope e esvaziada de novas possibilidades de organização política e social, que vive produzindo privilégio e exclusão.
Daí o pensamento (que é ideológico) de colocar toda a responsabilidade nas costas do (a) trabalhador (a) que acorda cedo, enfrenta o transporte público lotado, trabalha de oito a doze horas por dia, não tem o menor tempo livre para sua própria vida, porque o tempo que lhe sobra é de descanso, mas, ainda deste modo, ele (a) é o (a) responsável por toda a canalhice e safadeza política.
Eleições 2014: Todo voto é nulo! Candidatos e partidos representam os interesses da elite.
Mais uma eleição se aproxima e nos perguntamos se devemos exercer o nosso papel de “cidadão” e “patriota” votando naqueles que irão nos explorar por mais quatro anos. A realidade é que para a população trabalhadora o resultado da eleição implicará em:
1) manter as coisas do mesmo jeito que estão ou,
2) Piorar as nossas condições de vida.
Por outro lado, para os bancos e empresários, a vida só melhorou, pois nunca tiveram tanto lucro como agora. Eles financiam as campanhas dos partidos e depois cobram dos vencedores o preço desse financiamento.
O sistema eleitoral é organizado para atender esses interesses e não os da classe trabalhadora. Portanto, votar significa legitimar esse sistema perverso que nos explora. Somente a classe trabalhadora organizada é capaz de inverter essa lógica. Prova disso foi a vitória do Movimento Passe livre que impediu o aumento das tarifas dos transportes públicos e a mobilização dos garis no Rio de Janeiro que arrancou na marra o aumento salarial reivindicado.
Não delegue seu poder de decisão a um político! Não vote, lute!