No dia 08 de agosto, o prefeito de São Vicente, Luiz Claudio Billi foi para São Paulo, acompanhado de representantes do “transporte público” vicentino, as lotações, para conferir modelos e propostas para a modernização e padronização da frota do transporte. Circularam por quatro montadoras: Apta, Mercedes Benz e Volare, contando também com a presença do vereador Eronaldo José de Oliveira¹, o Ferrugem, ex-diretor do Sindicato dos Rodoviários².
Durante o passeio, houve pausa para fotos e postagens no facebook pelo perfil da Cooperlotação, que até algum tempo atrás esperneava e destilava críticas ao governo municipal, por propor a implantação de um serviço público municipal de transportes na cidade gerenciado pela prefeitura – inclusive, chegou a pronunciar publicamente que, se a licitação de contratação de transporte público fosse aberta, iam entrar na justiça para cancelar.
Mas como o serviço público de transporte é tratado como negócio (bem lucrativo!), e ninguém quer “largar o osso”, os discursos se esvaziam rapidamente. Afinal, o que tanto a Prefeitura quanto a Cooperlotação estão interessadas é no controle dos lucros do serviço. Questões como qualidade aos passageiros são cortina de fumaça para escamotear os verdadeiros interesses que existem por trás deste serviço.
Acrescentamos ainda a disputa dessa correlação de forças, entre Prefeitura e Cooperlotação. Porque não sejamos ingênuos, a Cooperlotação representa uma força política e econômica na cidade, que se julga dona do serviço público que presta, e sob o manto da defesa dos direitos de trabalhadores que operam nas lotações, bravateia aos quatro ventos contra a Prefeitura. Não é à toa que ela está pressionando pela criação de um órgão gestor do transporte público na cidade, com um projeto elaborado por ela mesma, que apenas trata de questões técnicas e em nenhum momento fala de redução da tarifa, ou maior efetivo nas linhas. O projeto está muito mais ligado às condições técnicas do veículo – que é uma obviedade, já que muitos estão desgastados e possuem problemas nas portas, com isso podem acarretar acidentes – do que apresentar propostas para um transporte público de verdade. Resumindo: é somente uma empresa apresentando sua proposta de trabalho. Daí, o sr prefeito, que também não é bobo, lançou o convite: “Bora dar um passeio e namorar uns carros novos”. Portanto, o desdobrar dessa disputa de modo algum irá beneficiar a população.
Hoje, o modelo de transporte público municipal é permissionário, ou seja, as lotações possuem uma permissão para prestar o serviço, e pagam à Prefeitura uma quantia determinada de imposto. O gerenciamento é feito pela Cooperlotação, representante das sete associações que existem na cidade.
A Prefeitura quer um novo modelo, por meio de uma licitação contratar uma empresa para gerenciar o sistema de transporte com a integração ao SIM – Sistema Integrado Metropolitano. O objetivo é dar maior transparência nos custos e atuar de forma direta no controle de gastos, e na cobrança de maior qualidade na prestação do serviço oferecido pela empresa que estiver operando. (Bonito isso, né? Seria, se não fosse balela!)
Ousamos dizer, no que diz respeito à qualidade do transporte, o custo, a mobilidade, o tempo de espera nos pontos, infelizmente, dificilmente algo irá mudar, até porque não há discussão “real” da construção de um transporte público de verdade em São Vicente. Não citaremos nem a questão da gratuidade, seria querer muito de quem apenas entende direitos sociais como mercadoria.
Por um mundo sem catracas!
1. O vereador Ferrugem, em 2009 foi um dos acusados pela Polícia Federal de participação em um esquema de fraude na concessão de pelo menos 130 benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, que teriam onerado os cofres do INSS em cerca de R$ 3,5 milhões. O esquema fraudulento foi apontado pela PF como o maior já cometido contra a Previdência Social. Em 2012, o vereador foi reeleito.
2. A Baixada Santista é a única região do país onde se extinguiu a profissão de cobrador, (o que garante ainda mais o enriquecimento da empresa que presta o serviço), com isso os motoristas têm que cumprir dupla função, e são muitos os casos de afastamento por estresse, devido às longas jornadas de trabalho. Neste sentido, o Sindicato dos Rodoviários se revela incapaz de defender a categoria.