A especulação em torno de uma tragédia por parte dos meios de comunicação burgueses revela uma mídia que precisa ser repensada, ou mesmo sepultada. A queda da aeronave na cidade de Santos nesta última quarta-feira é um belo exemplo para refletirmos sobre essa realidade. Por exemplo, a quantidade de meios de comunicação que ficaram pedindo (pelas redes sociais) informações sobre o acidente e solicitando fotos, vídeos e relatos, além de profissionais desesperados dizendo: estou correndo lá, me procurem, sou fulano de tal e blábláblá – foi infindável e dá uma ideia em como a mídia e parte destes profissionais, não só possuem uma tendência sensacionalista como também escatológica. Uma coisa é produzir conteúdo, insumo que possa contribuir para compreendermos um fato. Outra é gastar tempo especulando, como os meios de comunicação que foram no local um dia depois para gravar e fotografar os destroços (entre outras coisas) e mostrar que a aeronave, era uma aeronave.
Não é a toa que quase toda a mídia que compareceu no local no dia do acidente, caiu na lorota do cidadão que deu a entrevista dizendo que havia muitas pessoas mortas, crianças, idosos, e que, inclusive, viu o corpo do presidenciável e chegou a abrir os olhos dele. Piada? Não. O relato foi parar em rede nacional e muitas emissoras ao perceberem a gafe, tiveram que se explicar, mas claro, delegando a responsabilidade ao cidadão que inventou as mentiras. Mas, somente ele era o responsável por tal absurdo? Ou será que de algum modo, a mídia contribui para estimular a criação de personagens e histórias falsas que se misturam a realidade e se tornam verdades?
Cabe à reflexão, afinal, como a mídia cai numa armadilha dessas? Correria do momento? Pode ser, mas a realidade é que a mídia quer tanto o furo de reportagem, que termina por não apurar nada, daí atropela todo o processo investigativo e vai colocando em fôrma notícias truncadas e superficiais, a questão ética então, passa longe. E neste ponto, o rapaz foi perfeito, colocou em xeque a credibilidade da mídia e a sua elaboração precária e prepotente, que produz como quer e ainda se acha a “rainha da cocada preta”. Quem acompanhou os noticiários pela televisão, por exemplo, pôde perceber o quanto os profissionais estavam perdidos, “mais que cego em tiroteio” – e quando a informação de que Eduardo Campos estava no avião surgiu, aí virou uma salada de informações e a pauta em torno do candidato se repetia num frenesi insano.
A exploração de uma tragédia
A comunicação é um negócio lucrativo quando tem tragédia, principalmente quando inclui gente famosa que está em evidência – todo mundo sabe, ninguém é bobo, nem o oportunista de momento e nem o intelectual que quer sair à frente fazendo análise. Por isso, a quantidade de textos que brotam com a foto do falecido presidenciável Eduardo Campos revela que há mais interesse em aumentar o fluxo de leitores (leitor = $$$) do que em produzir material realmente colaborativo para as discussões sociais. Primeiro porque não morreu apenas uma pessoa, segundo que a morte resguarda um tempo de silêncio a família, aos amigos e a memória do falecido, porém não santifica ninguém. Pra quem não sabe, Eduardo Campos no campo político liderou fraude aos cofres públicos num esquema que provocou prejuízos de R$ 3 bilhões aos cofres públicos. Só em Pernambuco foi um rombo de R$ 480 milhões. (pesquisem a respeito)
No entanto, as condolências políticas/partidárias vão se transformando em condecorações absurdas. Ora, transformar em herói e estadista brasileiro, um político habilidoso na arte da politicagem, que está envolvido em casos de corrupção, é demais! (claro que não é novidade, vindo da classe política que disputa poder) mas, na medida em que as especulações da mídia aumentam (construindo histórias e reafirmando o bom político), a legitimação de uma mentira se torna uma verdade, e poucas são às pessoas que ousam questioná-la, daí, mais uma vez a história sendo construída de forma deturpada, mais uma vez a criação e a glorificação de falsos heróis, (como se precisássemos deles) e isso, na linha da história só tem prejudicado a classe trabalhadora. Portanto, é muito problemático quando os meios de comunicação que exercem influência sobre a sociedade se tornam aparatos de reafirmação de uma farsa. Uma farsa que só contribui para afundar a todos num estado de letargia e miopia coletiva, numa alienação social sem limites.
De que adianta nos debruçarmos em teorias de como irá ficar a corrida eleitoral, e qual será o candidato com mais chance de vencer a disputa? Se o jogo político/partidário eleitoral está armado para o povo perder. Primeiro: que já foi decidido que o governo ficará nas mãos de algum dos três candidatos entre o PT, PSDB e PSB. Todos os outros presidenciáveis são ignorados e tratados simplesmente como se não existissem. (este é só um exemplo de nossa democracia). Segundo: dentre estes três partidos, todos sem exceção, receberam milhões da iniciativa privada, alguém acredita que ao assumir o governo irão trabalhar para a população? Terceiro: toda a estrutura funcional deste sistema está entrelaçada ao capital, além de ser uma política de arranjos e conchavos – mesmo que os presidenciáveis negligenciados tivessem voz e viessem a ganhar a eleição – o que fariam na atual realidade? Dificilmente arranhariam a blindagem dessa estrutura. Mudanças concretas para ocorrer precisa de organização, e só podem ser construídas pelo povo. Agora, a mídia traz essa discussão? Problematiza? Não. Seus interesses são outros, e sua função social é apenas manter tudo como está.
É preciso pensar outra comunicação, outros meios, estes que estão postos, servem ao capital, a lógica de produção não irá mudar.