O cartão de visita de São Vicente e de toda a Baixada Santista em época de feriado prolongado é a praia, cerca de 100 mil veículos descem para a Baixada Santista. É nesta época também que as delegacias registram os maiores números de “crimes”. Quem tiver a oportunidade de visitar uma delegacia poderá ver com seus próprios olhos a quantidade de pessoas que são presas pela polícia (a maioria jovens) é assustador! Principalmente devido à forma como são constituídos a maior parte dos boletins de ocorrência: sem provas, sem avaliação dos delegados de plantão, e também boa parte deles não existem testemunhas ou vítimas, confia-se apenas na fé pública de que o policial diz sempre a verdade, com isso, são instaurados inquéritos de acusação e a maior parte deles garante de imediato a prisão do acusado, antes mesmo que ele se torne réu. Sem contar que as pessoas suspeitas já estão sobre o esculacho desde o momento da prisão e quanto mais adjetivos ela tiver: preto, pobre, desempregado, homossexual… Mais culpada ela irá se tornar.
Neste último domingo dia 18 de novembro de 2012 por volta das 16h30min. uma verdadeira operação de guerra pôde ser presenciada por quem passou pelo píer ou pela orla da praia da Biquinha, localizada na cidade de São Vicente em SP. Viatura, helicóptero e policiais armados com metralhadoras e fuzis faziam um espetáculo de terror. A princípio quem pôde estar no local, deve ter pensado que algo muito ruim deveria estar ocorrendo, ou ocorrido, no mínimo, uma guerra? Um ataque terrorista?
Mas não! Era apenas uma batida policial para coibir que alguns jovens utilizassem o píer como plataforma para saltos no mar. Ou seja, a violência que se instalou no momento devido à forma como a polícia num helicóptero e numa viatura lidou com tal situação, realmente é de se pensar para além. Não é possível acreditar na legitimidade de tal atuação, de pura violência simbólica e prática, primeiro porque os garotos foram todos obrigados a ficarem em fileiras sentados com as mãos na cabeça ( como se tivessem cometido algum crime) e segundo porque os rasantes que o helicóptero dava pela orla da praia e pelo píer, indo e vindo num barulho infernal, nos remetia a uma situação de guerra.
E não era! Pura intimidação que a polícia perita no assunto está começando a aplicar em épocas de feriado para garantir “aos olhos emburguesados” uma cidade limpa, sem problemas sociais. (se é que podemos caracterizar como problema social ou de ordem pública, garotos nadando)
Mas como para a elite o pobre, o preto e o favelado são sinônimos de bandido, de algo a ser temido, nada mais natural para eles do que acionar a máquina de esmagar gente da Secretária de Segurança Pública, que mais deveria se chamar “Secretária de Limpeza Social” para que de forma opressora efetiva-se o trabalho sujo de um Estado que extermina tudo que não lhe é a sua imagem e semelhança.
Com isso, a população periférica acaba na de hora curtir uma praia sendo esculachada, aterrorizada e quem mais paga com esse tipo de violência são os jovens que além de enfrentarem tantas labutas, são simplesmente enquadrados, encarcerados e expulsos de poder se banhar na praia, saltar do píer, azarar… Ou seja, tomar banho de mar e curtir um pouco a vida.
Fica nítido o posicionamento de classe e a representação social que se tem da periferia, pois, a vigília e o encarceramento são sempre destinados a ela, é nestes momentos que podemos concatenar que precisamos aguçar nosso olhar para o que poderá vir futuramente, ditadura? Ou já vivemos numa ditadura de forma velada? O que temos de concreto é que sistematicamente as coisas estão piorando numa velocidade assustadora e a naturalização de toda essa violência precisa ser confrontada, pois, a juventude da periferia está sendo julgada, encarcerada e exterminada.!