Praia Grande litoral sul de São Paulo, no bairro periférico Vila Sonia, por ruas de terra e entre vielas cresceu Elton Alexandre Pereira dos Santos conhecido como NP (Nego Panda), filho de dona Alzira, aprendeu desde pequeno que ali a sobrevivência era árdua, e que só os guerreiros e as guerreiras podem suportar tanto descaso social.
E que para se manter em pé firme e forte na luta, era preciso fazer do que lhe faltava uma boa arma para lutar numa sociedade de exclusão.
Influenciado pela mãe e poetiza Alzira, Elton entrou em contato com o mundo das palavras ainda pequeno, porém, logo percebeu que poderia utilizá-las como matéria prima para produzir seus textos, expressando suas opiniões em relação ao mundo e também sobre suas perspectivas e vivências.
Aos 12 anos começou escrevendo roteiros para estórias em quadrinhos, que junto com alguns amigos produziam artesanalmente. Com 15 anos começou a se envolver com a cultura Hip Hop, onde se identificou de cara, e logo montou um grupo de rap chamado Ruídos Negros, com quatro participações em coletânea e um disco solo intitulados “A escolha é sua”.
Hoje, NP continua na luta, membro da Casa dos Poetas de Praia Grande é Idealizador do Projeto Sarau das Ostras 1°sarau periférico da região, e também integrante do grupo Os Pícaros que fundem música, poesia e teatro, desafiando os limites dessas linguagens com intuito de produzir ideias.
E com tanto talento e energia NP acaba de lançar seu livro Poesias de um mundo louco que segundo ele: “É um livro sobre o cotidiano das periferias, com suas alegrias e dores: descaso social, drogas, criminalidade. Tudo retratado sob a óptica da poesia. São poemas que se enquadram na literatura marginal ou de periferia, com estilo mais solto”.
Ao indagarmos NP sobre se a arte de alguma forma o salvou de um futuro incerto, devido ter crescido num local onde o Estado pouco se faz presente em espaços de lazer, acesso a cultura, educação, segurança… Em linhas gerais, sem condições necessárias para um ser humano se desenvolver com dignidade.
Preciso e direto responde: “Acho que a solução para a violência e os problemas das periferias está em olharmos com mais atenção para as crianças e jovens que moram ali, protegê-los e orientá-los, tenho dois filhos, e procuro incutir os mesmos valores. Tento filtrar as atividades a que eles têm acesso. Eu busco soluções que creio serem as melhores não só para os meus filhos, mas para a maioria dos jovens que estão aí: busco ocupar a mente deles com coisas positivas, como música de qualidade, boas mensagens, cultura e educação”
Poema: “Da senzala a favela“
As correntes se quebraram
O cativeiro não existe mais
Liberdade, liberdade
O grito do negro ecoou
Por toda a terra
O sorriso de felicidade
Se comparava a beleza
Da mais formosa flor
Era o fim do sofrimento e da dor
O tempo passou e o negro
Continua sofredor
A senzala só modificou
Continua úmida
E sem as cores da aquarela
Trocaram seu nome
E hoje se chama “FAVELA”.