SEGURANÇA PÚBLICA. Direitos Humanos para Todos?

Dia 19 de setembro de 2012 ocorreu na Unifesp Baixada Santista o I Seminário sobre SEGURANÇA PÚBLICA ¨Direitos Humanos para Todos¨. Cerca de cinquenta pessoas estiveram presentes, entre elas estudantes, professores, ativistas de direitos humanos, ONGs e cidadãos comuns.

A 1° mesa de debate foi composta por Thiago Santos de Souza Coordenador da Defensoria Pública Regional de Santos, Luiz Eduardo Arruda Cel PM da Diretoria de Ensino e Cultura de São Paulo, Fabiana Botelho da Defensoria Pública de São Paulo e Hélio Silva Junior Advogado representando a OAB, este último não compareceu, mas, em seu lugar para representá-lo, outro advogado incumbiu-se de tal compromisso, contudo, seu nome este que vos escreve esqueceu, fato desagrádavel para uma mesa composta por representantes do Estado, ok!

Como foi divulgado pelas redes sociais: oportunidade rara para um ¨cara a cara¨ com autoridades. Será? Enfim, feita a solene abertura de blábláblá, algo que intrigava era discutir segurança pública só com milicos, oras, a polícia é um agente muito atuante no que diz respeito a violação dos direitos humanos, e neste Seminário, a voz era deles?

O combinado era uma hora e meia de exposição (deles) e uma hora e meia de debate com o público, no entanto, milico sabe como é, DOMINA! O que começou a gerar uma tensão na galera que sacou desde o princípio a cascata de uma discussão de cima para baixo, onde o Cel Arruda tecia em discurso e em power point dados da eficiência da PM, além de dizer: sou ativista dos direitos humanos e de uma polícia humanizada e […] Construção coletiva […] Estamos abertos a ideias, sugestões…

Argumentos bem articulados, estátiscas, projeções, palavras bonitas… E assim foi d@s outr@s companheir@s de mesa e Instituição, que em alguns pontos rolou até piada: Está liberado falar palavrão porque Universidade é para a gente pirar nas ideias, formar mão de obra para o mercado, é saudável, só que discussão tem que ter educação…

Para! Nós sabemos o que eles fazem numa manifestação de greve. E não vamos esquecer e nem achar graça. Educação é o caralho! Somos nós quem levamos borrachada, somos nós quem estamos sendo oprimidos! Rebateu muito bem um estudante.

Daí por diante começou o debate, perguntas sobre Pinheirinhos, Belo Monte, Favela do Canão, Cracolândia, os 493 jovens mortos pela PM na Baixada Santista em retaliação ao ataques do PCC em 2006 ( todos com tiros pelas costas segundo dados do IML) a operação higienização nos centros urbanos, extermínio de comunidade indigenas, kilombolas e de rua. E assim parte do público bradava:

Se é para discutir direitos humanos, queremos abertura para expor todos os problemas, afinal, está sendo discutido direitos humanos para todos, ou para um nicho social?

Não tem representação de gênero nesta mesa! Não tem organização social nesta mesa! Cadê as pessoas que vivem na pele a opressão da polícia? Que na verdade, a polícia é só uma ferramenta do Estado, e o Estado é o grande culpado e o grande assassino! Enquanto houver Estado haverá opressão!

Querem discutir coletivamente e desrespeitam nossas falas. Não nos deixam falar.

Mas, apesar de todas essas colocações, nenhuma resposta, voltas e voltas e absorção de discurso; ¨concordo, claro, concordo, foi monstruoso mesmo, temos que nos unir e mudar isso¨.

O que tornou evidente que o Cel Arruda conhecia como se articulava por dentro os movimentos sociais, e das duas uma, ou ele era um esquizofrênico, ou muito bem preparado para limpar a imagem da polícia. Até penso que as duas coisas, tipo, daqueles que querem reformar o inferno, enquanto o diabo vai te usando para fazer propaganda que lá é um lugar agradável. E neste caso o diabo é o Estado.

Uma coisa interessante foi ouvir os discursos revoltosos de algumas pessoas que foram lá discutir direitos humanos e segurança pública por um viés: ¨violência é caso de polícia!¨ e quando sentiram-se intimidadas com todas as exposições das mazelas que vive a maior parte da população, o discurso deles ficou atropelado para não dizer outra coisa.

Temos que ser mais humanos, não se iludam jovens! Não existe mais esquerda, não existe mais direita, essa coisa de ideologia é ruim, todos podemos lutar e sermos felizes, por isso, precisamos da polícia, do exército, de Deus e da paz no coração.

Isso, como se toda a problematização levantada não tivesse nada de humano. E na verdade, tem muito de humano! O que não tem de humano é querer se esconder por tráz de leis que privilegiam uma minoria e exclui e oprimi a maioria.

Mas, aí o buraco é mais embaixo e assumir que se vive de discursos hipócritas não é tarefa fácil para quem defende seu ossinho, até porque naturalizar o estado das coisas e culpabilizar quem está com a cabeça de baixo das botas é simples e não dói no bolso.

 

OBS: Sobre a outra parte do seminário não acompanhei, fiquei cansado e tinha que acordar cedo no outro dia para pegar busão lotado… Se alguém sabe deixe comentários.