Túnel Santos/Guarujá: Um projeto inviável

Foto: Rádio da Juventude

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Nesta última quarta-feira (07) ocorreu na cidade de Santos no Centro Universitário Monte Serrat o debate técnico sobre a construção do túnel que interligará as cidades de Santos e Guarujá, estiveram presentes diversas autoridades e intelectuais da região; vereadores (dois ou três), diretor da CODESP, promotor público, arquiteto, professores e engenheiros – e os moradores organizados do bairro do macuco (Santos) e da Prainha (Guarujá) que serão atingidos com a obra, além de entidades de bairro, religiosas, sociais e sindicais, entre outras pessoas da sociedade civil interessadas no assunto.

O objetivo deste debate foi discutir aspectos técnicos e sociais que comprovam que o local escolhido para implantação do projeto é inviável para as cidades, apenas trará transtornos à população, por isso o local deve ser alterado. (aspectos estes, ignorados pela Dersa, pelos governos do estado e municipais).

Um projeto antidemocrático

Foto: Rádio da Juventude

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No debate realizado em torno de duas horas e trinta minutos, foi muito colocada à questão da falta de participação popular em todos os processos decisórios, principalmente das pessoas impactadas, que não foram consultadas e continuam sendo ignoradas. Em reuniões com a Dersa e com o Poder Executivo, há somente enrolação e irredutibilidade. Após as audiências públicas que ocorreram em Santos e Guarujá em que a população se mostrou contrária ao projeto, exigindo à mudança do traçado, as esferas de poder somente se revelaram mais antidemocráticas ignorando totalmente as reivindicações, dando continuidade ao projeto como se houvesse concordância da comunidade.

Ponto e Contraponto:

Segundo a Dersa o local escolhido é o mais viável, pois o projeto visa contemplar o problema da mobilidade urbana, pois percorrerá pelo túnel em torno de 40mil automóveis ao dia, resolvendo deste modo às longas filas na balsa (além das questões técnicas para sua implantação). As pessoas removidas serão indenizadas de acordo com o valor comercial do imóvel, de acordo com a Dersa; é preciso entender que o túnel trará avanços para as cidades.

Foto: Rádio da Juventude

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Para os moradores, ao contrário, todo esse fluxo de carros e caminhões na cidade significa mais trânsito, mais monóxido de carbono no ar, além da poluição sonora para as pessoas que residem ao redor de onde será construído o túnel, e o fato dele ser construído neste local ignorando as alternativas, é meramente uma decisão econômica, uma decisão que passa por cima de questões sociais como o direito à moradia – que é o ponto mais reivindicado pelos moradores, devido à falta de transparência do que ocorrerá com as famílias que serão removidas. Segundo os moradores o projeto não contempla a real situação das pessoas que vivem nos dois bairros, e isso é perverso, porque somente no bairro Prainha em Guarujá (local mais afetado) serão em torno de cinco mil pessoas removidas, ou mais, e qual é a garantia real? Pra onde essas pessoas irão? De acordo com o projeto do túnel, no segundo semestre iniciará as obras e as remoções no Guarujá, a Prefeitura do Guarujá disse apenas que haverá a construção de conjuntos habitacionais de obras oriundas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para realocar as pessoas que serão removidas. Porém, não há nada firmado, garantido de verdade, sem contar que, enquanto essas construções dos conjuntos forem realizadas, para onde irão as pessoas? Receberão algum auxilio aluguel? O auxílio estipulado no Guarujá é de R$ 200,00 – não é suficiente.

Em Santos parte do Legislativo propôs a construção de um conjunto habitacional, porém, os moradores não concordam, porque há também aspectos culturais; de pertencimento do local, de memória, de história de vida de pessoas que não estão sendo consideradas, além de que, em alguns terrenos residem mais de uma família, será que cada uma delas receberá uma casa? No projeto cita-se sobre indenizações, mais não fala especificamente como isso será feito – todos sabem da especulação imobiliária em Santos, em como o metro quadrado é vendido a preço de “ouro”, por isso, será que todas essas famílias conseguirão comprar suas casas? Qual é a garantia? Além, das famílias que sobrevivem de seus comércios instalados em suas residências, outra questão que não há resposta.

Foto: Rádio da Juventude

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Segundo o professor e urbanista Manoel Lemes, o impacto social é muito grande, uma obra dessa magnitude deve ser realizada em local distante de áreas populosas, evitando-se deste modo às desapropriações em locais onde vivem pessoas (a maioria) de baixíssima renda, ou seja, uma obra dessas – deve estar incluso no projeto; o combate à desigualdade social, e não acirrá-la ainda mais.

OBS: De acordo com os organizadores do debate (vereador Evaldo Stanislau e Assessoria) a Dersa, e o Poder executivo de Santos, além de outras esferas ligadas ao projeto foram convidadas para o debate, porém, não compareceram.

Audiência Pública sobre a construção do túnel Santos/Guarujá. Desapropriação não!

Audiência Pública

Nesta terça-feira (18) acontecerá a audiência pública sobre a revisão do EIA/ RIMA (Estudo de Impacto Ambiental) para a implantação da ligação viária (túnel submerso) entre Santos e Guarujá. A participação popular e a anulação desta audiência é fundamental para deter este megaprojeto  que serve apenas aos empresários e irá desapropriar centenas de pessoas – somente no Guarujá estima-se que 1.500 familias serão removidas.

Local: Arena Santos –  Avenida Rangel Pestana, 184 – Santos -SP

Horário: 17h, 

Leve sua faixa e seu protesto!

Insumos:

Foto: Rádio da Juventude

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Macuco um bairro de luto. Desapropriação não!

Quem tiver a oportunidade de passar pelo bairro do Macuco em Santos irá se deparar com diversas bandeiras negras penduradas pelas casas com a seguinte mensagem; “Aqui, túnel não!”. O motivo das bandeiras negras segundo os moradores é um protesto em relação à construção do túnel que interligará as cidades de Santos e Guarujá que irá desapropriar centenas de pessoas nas duas cidades sem consulta popular, e além do protesto, também simboliza o luto das pessoas, por perderem suas casas que durante anos construíram com muito trabalho, esforço e dedicação. 

Segundo os governos municipal e estadual a construção do túnel irá contribuir para a cidade no que diz respeito à mobilidade urbana, no entanto, difícil acreditar que aumentar o fluxo de automóveis nas ruas irá resolver algum problema, de acordo com o projeto de construção do túnel que está disposto no site da Dersa (para qualquer um ler), haverá pistas do túnel para passagem de caminhões, ou seja, é um projeto de expansão portuária para escoamento de cargas, assim, como servirá como porta de entrada para turistas que descem de São Paulo para o litoral, de modo que estes dois pontos já revelam que essa obra faraônica irá deflagrar num aumento significativo do trânsito na cidade, sendo que a cidade já possui este problema, por exemplo, em horários de picos, só quem volta do trabalho no transporte público, ou mesmo de carro e tem que enfrentar a Afonsa Pena, Avenida da Praia ou Perimetral sabe o quanto é complicado trafegar, distâncias pequenas, chegando a levar duas ou três vezes o tempo que deveria, senão fosse o trânsito. Agora, estes pontos não estão sendo discutidos. Apenas uma grande cortina de fumaça que vem sendo erguida para não deixar a população santista perceber o problema que está sendo construído a revelia de consulta popular.

Foto: Rádio da Juventude

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Por isso, as bandeiras negras erguidas pelos moradores do Macuco, é uma brilhante ideia para questionar e chamar toda a população para uma reflexão profunda sobre o tipo de cidade que queremos, e qual o papel neste caso da atuação popular. Ficar assistindo e deixar que o problema se instaure, ou resistir e lutar?

Que essa decisão emane do povo. Muito mais que um túnel, o povo quer ter o direito de exercer sua autonomia.

Macuco

Foto: Rádio da Juventude

Foto: Rádio da Juventude

Pra quem não sabe o bairro do Macuco é um dos mais antigos bairros da cidade de Santos, um dos poucos onde as crianças brincam nas ruas, os moradores podem sentar a calçada e curtir um final de tarde. Na verdade, é um dos poucos bairros em que a especulação imobiliária ainda não derrubou, porém, vem sendo alvo da expansão portuária e de um projeto que pretende erradicar o bairro da forma como o conhecemos hoje.

Foto: Rádio da Juventude

Foto: Naira Teixeira – Sr Eulálio, morador do Macuco há cerca 30.anos 

Considerado um dos primeiros bairros operários da região, sua importância histórica e cultural está diretamente associada ao patrimônio social da cidade de Santos. Por isso, é preciso documentar e resistir as formas de ocupação meramente econômicas, que além de estar destruindo o bairro está destruindo a memória e a história viva das pessoas que nele residem.

Abaixo, alguns vídeos com depoimento dos moradores do Macuco;